scorpione
a andarilha do deserto
negro abandonava, algumas vezes, os seus olhos lagartos ao respirar a
essência daquelas sílabas. a gramática monossilábica daquele pensamento
escorpião de palpos compridos, demasiado horrendo e paralisante,
demorava-se em sua mente. mergulhada nas águas profundas de pedras
marsupiais, capturava a luz dum escuro oco de proteção. os seus sonhos
prematuros estavam quase liquefeitos. vagava pela noite, quando um
soluço escapou de seus lábios de atmosfera e pétalas trituradas. com
suas cascas em ecdise atravessou mais uma porta de fechar atrás de si. e
foi então que ele, cheio de coragem, levantou-se ofídico, Asclépio, à
margem daquelas águas.
cão cérbero
antolhos. cão cérbero guardião
das portas do inferno. estrangulá-lo. hera. belamente leão de neméia.
esmagar os pés de bronze do antropóide. acomodá-lo nas entranhas
dilaceradas da corça. voar... dentro da cabeça da égua alada. um destino
no bico da ave antropófaga. as larvas mentais. do caos os miolos da
sombra. sugar o monstro antropocêntrico dum poeta. mas o touro lança a
chama violeta pelas narinas num umbigo. lírico.
entre papagaios de papel e borboletas
esvoaçantes.
por um instante, os radares em miniaturas
colidem. ziguezagues.
os olhos, os lábios. a voz um templo
aquoso.
estar ali, em becos incertos, entre o concreto.
seios ou
castelos?
uma situação intranqüila paira teleférica.
ela pede o
café entre papagaios de papel e borboletas esvoaçantes.
ele está em
paris.
acolhe a vida. um lugar (talvez) pacífico.
neméia
invulnerável leão de neméia ferido por
uma flecha
de sangue. encurralado em seu próprio antro. matá-lo.
e comer toda carne crua. vestir-lhe a pele nua desenhando uma poesia
ditirâmbica, tragédia, comédia em dionísia urbana.
livre. abraçar a
divindade masculina. esguia. gerar o seu filho e
abandoná-lo.
agora.
cavalgar um dorso num
campo de trigo, onde as espigas não se curvem.