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O aviso
Perto de Tsingtau, havia uma formação rochosa que se destacava por sua localização romântica e pelas paredes íngremes com as quais despencava em direção ao abismo. Esse local era o destino de muitos apaixonados em tempos felizes, que, depois de admirar a paisagem com suas amadas pelo braço, retornavam na companhia delas para um restaurante próximo. Esse restaurante ia muito bem. Pertencia ao senhor Ming. Um dia, no entanto, um apaixonado que fora abandonado teve a ideia de acabar com sua vida justamente ali, onde havia desfrutado tanto da existência, e, não muito longe do restaurante, lançou-se do rochedo mais alto para o abismo. Esse amante inventivo encontrou imitadores, e não demorou muito para que o promontório fosse mais maldito como ossário do que famoso como miradouro. Sob essa nova reputação, o estabelecimento do senhor Ming sofreu: nenhum cavalheiro ousava levar sua dama a um lugar onde corria o risco de ver surgir uma ambulância a qualquer momento. Os negócios do senhor Ming pioraram cada vez mais, e não lhe restou outra opção senão refletir. Um dia, trancou-se em seu quarto. Quando de lá saiu, dirigiu-se à usina elétrica próxima. Poucos dias depois, uma cercadura de arame rodeava-se ao longo da borda externa da romântica formação rochosa. Em uma placa que fora pendurada, lia-se: "Atenção! Alta tensão! Perigo de vida!". Desde então, os candidatos ao suicídio passaram a evitar a região, e os negócios do senhor Ming floresceram como antigamente.
A assinatura
Potemkin sofria de graves depressões, mais ou menos recorrentes, durante as quais ninguém podia se aproximar dele, sendo terminantemente proibido o acesso ao seu quarto. Na corte, essa condição não era mencionada; sabia-se, sobretudo, que qualquer alusão ao assunto acarretaria o desagrado da imperatriz Catarina. Uma dessas depressões do chanceler durou excepcionalmente muito tempo. Graves problemas foram consequência disso; nos registros, acumulavam-se documentos cuja resolução, impossível sem a assinatura de Potemkin, era exigida pela czarina. Os altos funcionários não sabiam o que fazer. Nessa época, por acaso, o insignificante pequeno escrevente Shuwalkin apareceu na antessala do palácio do chanceler, onde os conselheiros do Estado, como de costume, se lamentavam e queixavam. "O que há, Excelências? Como posso servir às Excelências?", indagou o solícito Shuwalkin. Explicaram-lhe a situação e lamentaram não poder aproveitar os seus serviços. "Se é só isso, meus senhores, deixem os documentos comigo. Eu lhes peço". Os conselheiros do Estado, que não tinham nada a perder, deixaram-se convencer, e Shuwalkin, com o maço de documentos sob o braço, seguiu pelos corredores e galerias até o quarto de Potemkin. Sem bater, e sem sequer parar, ele girou a maçaneta. A porta não estava trancada. No penumbroso aposento, Potemkin estava sentado em sua cama, roendo as unhas, vestindo um roupão surrado. Shuwalkin aproximou-se da escrivaninha, molhou a pena no tinteiro e, sem dizer uma palavra, colocou-a na mão de Potemkin, apoiando o primeiro documento em seu joelho. Com um olhar ausente para o intruso, como que adormecido, Potemkin assinou; depois outro; em seguida, todos os documentos. Quando o último estava salvo, Shuwalkin saiu sem cerimônia, da mesma forma que havia entrado, com seu maço de papéis sob o braço. Triunfante, agitando os documentos, Shuwalkin retornou à antessala. Os conselheiros correram em sua direção, arrancando os papéis de suas mãos. Ofegantes, curvaram-se sobre eles. Ninguém disse uma palavra; o grupo ficou paralisado. Shuwalkin aproximou-se novamente, perguntando com solicitude a razão do espanto dos senhores. Foi então que seu olhar também recaiu sobre as assinaturas. Cada documento, sem exceção, estava assinado: "Shuwalkin, Shuwalkin, Shuwalkin...".
O desejo
Numa aldeia hassídica, certa tarde, ao término do sabbat*, os judeus reuniam-se numa modesta assembleia. Eram todos moradores locais, exceto um, que ninguém conhecia, um sujeito extremamente pobre e maltrapilho, que se encolhia no fundo, à sombra da lareira. A conversa havia ido e voltado. Daí trouxe alguém a questão do que cada um desejaria, caso pudesse fazer um único pedido. O primeiro queria dinheiro, o outro desejava um genro, o terceiro uma nova bancada de carpintaria, e assim a roda prosseguiu. Quando todos haviam falado, restava ainda o mendigo no canto junto ao fogão. Relutante e hesitante, ele cedeu à insistência dos outros: "Eu queria ser um poderoso rei e governar em um vasto país e, à noite, dormir no meu palácio, e da fronteira irrompesse o inimigo, e antes de amanhecer os cavaleiros chegassem até o meu castelo e não houvesse resistência alguma, e, despertado do sono, sem tempo sequer de me vestir, eu tivesse que fugir de camisa, e fosse perseguido por montes e vales, por florestas e colinas, sem descanso, dia e noite, até que chegasse aqui, salvo, no banco do canto de vocês. Isso é o que desejo". Os outros se entreolharam, sem entender. "E o que você ganharia com tudo isso?", perguntou alguém. "Uma camisa", foi a resposta.
A gratidão
Beppo Aquistapace estava empregado em um banco de Nova York. O homem modesto vivia exclusivamente para o trabalho. Em quatro anos de serviço, ele havia se ausentado no máximo três vezes e nunca sem uma justificativa convincente. Por isso, deveria ser notado quando ele faltou inesperadamente em um dia. Quando, no dia seguinte, nem o homem nem sua justificativa apareceram, o chefe de pessoal, senhor McCormik, dirigiu-se ao escritório de Aquistapace e fez algumas perguntas. Mas ninguém pôde lhe dar informações. O desaparecido tinha poucos relacionamentos com seus colegas; ele frequentava italianos, que, como ele, eram de famílias humildes. Foi justamente sobre esse ponto que se baseou uma carta que, após um tempo, o senhor McCormik recebeu, esclarecendo o paradeiro de Aquistapace. A carta vinha da prisão. Nela, Aquistapace se dirigia a seu chefe com palavras tanto formais quanto urgentes. Um lamentável incidente em seu bar de costume, no qual ele estivera completamente alheio, havia levado à sua prisão. Ele ainda não podia explicar o motivo que causou uma briga com facas entre seus conterrâneos. Infelizmente, a briga resultou em uma vítima. Agora, ele não conhecia outra pessoa a não ser o senhor McCormik para servir de fiador por sua boa reputação. Este, não só tinha interesse no trabalho diligente do preso, mas também possuía contatos que lhe permitiriam interceder junto à autoridade responsável. Aquistapace ficou preso por apenas dez dias, depois dos quais retomou seu trabalho no banco. Após o expediente, ele foi se reportar a McCormik. Ele estava desconfortável diante do seu chefe. "Senhor McCormik", começou, "não sei como lhe agradecer. A você, e só a você, devo minha libertação. Acredite, nada me daria mais prazer do que demonstrar minha gratidão. Infelizmente, sou um homem pobre". E, acrescentou com um sorriso humilde, "o senhor sabe melhor que ninguém que eu não ganho grandes riquezas no banco. Mas, senhor McCormik", concluiu com firmeza, "há uma coisa que posso lhe assegurar: se algum dia surgir uma situação em que a eliminação de um terceiro possa lhe trazer algum ganho, lembre-se de mim. Pode contar comigo".
Notas
Texto extraído de Gesammelte schriften: IV. Publicado originalmente dentro das chamadas "Quatro histórias" (Vier Geschichten), no jornal checoslovaco Prager Tagblatt, em 5 de agosto de 1934, sob o pseudônimo de Detleí Holz. *Sabbat é o dia semanal de descanso no judaísmo, celebrado no sétimo dia, em conformidade com o relato do "Gênesis", que descreve o descanso de Deus após os seis dias da criação.
Referências
BENJAMIN, Walter. Vier geschichten. In: TIEDEMANN, Rolf; SCHWEPPENHÄUSER, Hermann (Orgs.). Gesammelte schriften: IV. Frankfurt: Suhrkamp, 1991, p. 757-761.
outubro, 2025
Walisson Oliveira é escritor, jornalista e professor. Mestre em Letras: Estudos Literários pela Unimontes, atualmente cursa doutorado na mesma área, na UFMG, com pesquisa sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade. |