francesca woodman, 1979 |© Woodman Family Foundation/

DACS, Londres
 

 

 

 
 

 

 

 

ECLUSA

 

 

Deixa-me sair de mim

Transbordar águas paradas

Diluir este mar

 

 

 

 

 

 

ASSÉDIO

 

 

Seios de leite

Delícias femininas

Um nódulo intruso

 

 

 

 

 

 

BOLINHO DE CHUVA

 

 

Cravo e canela

Saudade açucarada

... lágrimas polvilhadas

 

 

 

 

 

 

CONTEMPLAÇÃO

 

 

O mundo grita dores

Homens correm cegos

A vida senta e chora

 

 

 

 

 

 

ACOLHIMENTO FILIAL

 

 

Procurou-me entre muitos

Encontrou-me nos meus sonhos

Nos tornamos pão e vinho

 

 

 

 

 

 

ÁGUA NA BOCA

 

 

Passeio por iguarias

Teu cheiro me apetece

Nenhum pudor à mesa

 

 

 

 

 

 

I M L

 

 

Imóvel no colo do tempo

Pesado, frígido, denso...

Um corpo em maus lençóis

 

 

 

 

 

 

AMOR DE PELE MISTA

 

 

Teu sorriso acolhe

Tua cor me preenche

Somos manhãs e poentes

 

 

 

 

 

 

FAMÍLIA DE MISERÁVEIS

 

 

Dormem quando podem

Sonham acordados

Dividem um prato

 

 

 

 

 

 

GHOSTING

 

 

Aparece quando quer

Some sem nada dizer

Coadjuvante de curta metragem

 

 

 

 

 

 

RESSURGÊNCIAS

 

 

Das cinzas eu me renovo

Ergo-me das ruínas, me transformo

Se pareço sombra, alimento a luz

Se espelho solidão, dou-me à alegria

Voo longos céus inimagináveis

Curo-me com as estrelas

Traço o destino igual criança

Viver vale risos e brincadeiras

Enfrento íntimos desconhecidos

Forte, corajosa, talvez sábia

Muitas dores passeiam comigo

Amarga, a vida me encoraja

 

 

 

 

 

 

CATARSE

 

 

Não chames meu amor de passageiro

Amei como quem ama pela eternidade

De maneira única, corpórea e intensa

Cicatriz de cura, com suaves maldades

Não o chames de banal… corriqueiro

Amei despida de ritos, fui toda verdade

Em essência, te ofereci seios e medos

Aninhei teus pesadelos e vaidades

Não chames o meu amor de opressivo

Desagradável foi o dissabor do teu beijo

Dormíamos na mesma cama, inteiros

Sugávamos líquidos quentes em pecado

Não grites meu nome ao calor do vento

Não derrames teus gozos em solos santos

 

Joguei-me matéria no abismo e com receio

Demorei rasgar-te do olhar, meu espanto

 

 

 

 

 

 

SE ROSAS FALASSEM

 

 

Vai terminando o verão

e eu aqui lembrando Cartola, as Rosas Não Falam...

Foi um verão intenso em cores e sabores

Como há muitos anos não se permitia nascer

 

Foi um verão de encontros amigos

e gozos íntimos

Revirei algumas gavetas, remexi em vários bordados

Banhei-me em Copacabana

Iemanjá me aplaudia

 

Visitei cantos e encantos, lindos e tortos

Encarei mofos

Fitei células e memórias

Tomei sorvete escondido de mim

 

Todos os dias, um sol iluminando meu quarto

cozinha, sala, corredor...

No meu apartamento a vida acontecia

ele sorria e eu em cena

até o ato final

 

Rosas artesanais ficaram

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Andréa Abdala. Carioca, nutricionista, professora e doutora em Ciências Nutricionais pela UFRJ. Nutricionista conselheira no Conselho de Nutrição - 4ª Região. Organizadora e autora do livro Nutrição no Envelhecer (2020, 3ª edição). Publicou Delicatessen Poetrix (2024) e Minúcias (2022). Organizou as coletâneas Poesia Minimalista I, II e III (2022, 2023 e 2024) pela editora Selo Independente/SP. Membro da Academia Internacional Poetrix (AIP), cadeira 23. Atualmente, atua como presidente (gestão 2023 a 2025). Membro também da Confraria Ciranda Poetrix, da ALEPON Ponte Nova/MG (membro correspondente), da Academia Internacional de Literatura Brasileira (AILB), Academia de Belas Artes do Rio Grande do Sul (ABARS) e Academia Virtual de Arte Literária (AVAL). Participa de diversas antologias.

 

 

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