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Quem rege a orquestra?
Júpiter?
Quem rege minhas palavras?
~
Quantos ésses há
desassossegando-se
num sopro?
Desassossegam-se
sapos saltitantes
e grilos sopranos
~
Aonde parou o galo
para que desta vez
peça, grite: silêncio!
aos tantos barulhos
que vêm de dentro?
~
Por acaso maratonavam
além dos gatos, os ratos
que também não queriam
não empalavrar-se?
Trem atravessa
mais-rápido-que-o-próprio-grito-da
minha-ansiedade-de-pés-inquietos
acelerada-mente-de-grilos a orquestra
~
Postes se portam
portas se-param
im-portas demais
Cuidado: postes
porém enganam
insetos
Postes enganam
galos noturnos
que anunciam
um raiar possível
~
Não entendo recado
do quero-quero
que rege a revoada
Quem disse que
os quero-querem
que eu entenda
algum recado?
~
Talvez seja mais:
uma canção — noturna
em tom de dia
da luz alerta
Mais uma canção
no breu da imensidão
no vazio escuro
que enxergo — ou não
~
Há penas que pesam
há penas de pássaros
~
Bem pensando
a suposta canção noturna
do regente quero-quero
parece a canção diária
da chaminé
Maria Amália
o nome dela
Por acaso
entende Maria
muito bem
de recados
~
Agitei-me um dia:
de Júpiter
alinhadas as luas
anunciava que via
~
Inverso
no Universo
um verso
ao avesso
Mais um verso
impresso
do meu Universo
disperso
~
Diminutos grilos
sustenidos sapos
de minutos livros
versos apressados
~
Si lá sol, dó-ré-mi
Júpiter sonolento
entre fá-bulosas
dezenas de luas
e suas nebulosas
~
Vez que o trem
berra entediado:
peso no lombo
é pesado
O trem já sabe
o caminho de cor
de cor — de ferro
no sertão-cerrado
de terra vermelho
chão queimado
~
Seria o trem
irmão de
Maria Amália?
Maria berra
à bela vista
e o trem grita:
Maria Amália
e o trem
que apitam
Maria Amália
de tijolos tem cara
alaranjadamente
arranjados
Maria, o galo
o t-t-t-t-t-t-trem
e t-t-t-t-t-tijolos
~
Grilos, sapos
Júpiter, quero-queros
Maria Amália e o trem:
cantantes parentes
distantes
— e mais há
~
Humanos
sequer entendem
si-próprios
[Poemas do livro Júpiter e a orquestra de grilos. Ases da Literatura, 2023.
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