©stefan keller

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


©tumisu


Dois mil e vinte e dois há de ser realização de um sonho, porque "os sonhos não envelhecem" (Márcio Borges). 2022 será de novo o tempo de ser feliz. O tempo de acreditar no impossível, de semear soluções com toda a força do ser. "O que não podemos perder de vista é que a vida não é real fora do cultivo". Por isso, "a vida é fruto de decisão de cada momento". 2022: porque se perder um amor, não se perca! Se o achar, segure-o! Livre-se da angústia: tenha esperança na esperança. Não se permita o desamparo de estar vivo para nada: use sua vida para viver bem na finitude. Dê um viva à vida todos os dias. Antes de tudo, você é muito importante para si mesmo. E vá em frente. Use o passado como experiência de vida, como adubo da esperança.

Não vá, como Carlos Drummond de Andrade, "perder o bonde e a esperança". 2022: desafios! Vença todos com a vontade de viver melhor. "Ó vós que o amor obriga a ser sujeitos a diversas vontades!" — escreve Camões. 2022: Senhor, dá-me a razão e a força para dominar meus desejos. Ajuda-me a fazer feliz o maior número possível de seres humanos, diz Rabindranath Tagore. 2022: afasta de mim a esperança mecânica, como diz Gurdjieff. Que todos tenham a esperança do saber com a certeza de que tudo vai recomeçar melhor, diz Mario Quintana. 2022:não à esperança por sentença — este laço que ao mundo nos alicia — questiona Augusto dos Anjos. 2022: a esperança, diz Mario Quintana, será encontrada mirabolantemente na calçada incólume — outra vez criança — e em torno dela indagará o povo: como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá bem devagarinho: meu nome é Esperança. Elisa Lucinda também questionou "quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?". Silvana Duboc recomenda: "Alague seu coração de esperança, mas não deixe que ele se afogue nessas águas". Esperança é agir em função de realizar o sonho. 2022: "Enche-te de esperança e vive a luz", diz Mahatma Gandhi. "Não percas a tua fé entre as sombras do mundo. Crê e trabalha. Esforça-te pelo bem e espera com paciência. Tudo passa e tudo se renova na Terra, mas só o que vem dos céus permanecerá. Não te esqueças de que amanhã será outro dia. E que Deus é o suficiente" (Chico Xavier)". Em relação à pandemia, "cuidado com os invasores do seu corpo — eles não costumam voltar para ajudar a consertar a desordem (padre Fábio de Mello). 2022: tenha um sonho a realizar e dificuldades para fazê-lo forte, humano e feliz, escreveu Clarice Lispector. "Com Deus existindo, tudo dá esperança, sempre um milagre possível, o mundo se resolve" (Guimarães Rosa). "Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas" (Adriana Britto). "Enfeite-se com margaridas e ternura e escove a alma com leves fricções de esperança (...) — ponha intenções de quem sabe em seus olhos e baba o licor de névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria" (Carlos Drummond de Andrade).

"Não acredito em milagres, mas acredito na fé. Acho importante cultuar a esperança e valorizar o pensamento positivo, os valores fundamentais à força de a paixão, a solidariedade (...) Graças  são alcançadas pela medicina, pela sorte, pelo trabalho e pela inteligência, nunca pela ignorância" (Martha Medeiros).

A esperança é a última que morre. Viva a esperança! A esperança tem nome: Jesus Cristo. Que a vacina seja a esperança. E que a vida seja sempre a esperança. 



E AGORA, JOSÉ?



E lá se foi Zé do Cipó. Convivi com José Joaquim por mais de 40 anos. Dei o nome de Cipó à sua lanchonete-restaurante. Lá realizei confraternizações dos cai-n'águas e exposições de artes plásticas de artistas oliveirenses. Por anos reuni lá amigos nos fins de semana e todos nós apreciávamos o jeito catrumano do Zé, o jeito de quem labutou muito na roça e não tinha medo de muito serviço. Homem forte, de pouquíssima conversa, sempre guerreiro e serviçal, impôs-se pela qualidade do menu de uma cozinha predileta inclusive de viajantes. Bolsonarista, gostava de  um bom papo sobre a política do país. Era leitor de "O Tempo", "Gazeta de Minas" e do "Estadão", este levado pelo Ricardo Assis Ribeiro. Tinha sempre um ótimo tira-gosto para seus fregueses. Homem simples, inteligente, começava sua labuta sempre muito cedo, com o salão sempre muito limpo. Marcou sua vida como comerciante. E vai fazer muita falta. Tomara que Oliveira possa homenageá-lo de acordo com sua importância para os muitos amigos. Deu muito de si à vida. Que agora descanse em paz.





Recém-lançado no Pizza Grill, o livro Nas asas do amor voei, de Heloísa Helena Santos Patrício, com capa de seu sobrinho Sérgio Carvalho, é por tudo um exercício de memória da didática do bom exemplo. Trata-se de um livro-família. É a construção eficaz de uma profissional da Educação que foi perfeita como mulher, aluna, mãe, professora, cidadã. Como ela própria assevera, o livro inspira e faz refletir sobre como viver com leveza em um cenário de desesperança. A autobiografia traz suas memórias em forma de lições de superação e de bem-viver. A gama de desafios  ela enfrentou com exemplos baseados em inarredáveis princípios cristãos. E foram muitos.

Heloísa nasceu humilde, com espírito franciscano ela viveu sempre, pautando sua vida em valores morais sólidos. Ela conta que teve este nome por causa de uma rádio-atriz da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, cujas novelas eram ouvidas em casa. Descreve com realismo as várias moradias por onde passou, superando sempre a  pobreza com muito trabalho, desde criança até tornar-se avó seriamente brincalhona e zelosa que sempre foi com seus descendentes e alunos.

Sofreu bullying na infância, mas assumiu desde cedo que seria professora, formando-se em diversos cursos, entre eles o Normal, no Colégio de Oliveira, em pedagogia pela UEMG, pós-graduação em metodologia do ensino superior pela Escola Mater Ecclesiae, começando a lecionar aos 19 anos e realizando tudo mais que uma profissional vocacionada poderia fazer em 43 anos de atuação docente. Foi casada  com Patrício por mais de 50 anos, até 2017, quando ele morreu, tendo sido ele remanescente do capitão Moçambique Ramiro Patrício de Oliveira coroado Rei Congo da Irmandade de N. S. do Rosário em 1999, na presença do capitão Geraldo Bispo Neto, da capitã de Moçambique Pedrina de Lourdes Santos, da secretária Heloísa Helena Bispo Maurício, membros do Estado Maior e de reinadeiros.

Heloísa, como dito, morou em várias casas em Oliveira, à medida que a família ia crescendo, como na Rua Benjamim Guimarães, na Vila Operária, na Beira da Linha, na casa do "Amigo Véio" e de dona Zinha, casa do Zé Bentinho, no barraco do trombonista Quinzico — lembrando que cada mudança se daria em função da superação de "apertos" familiares. Teve por filhos Lúcio Flávio, Luís Otávio, Patrícia Helena e Maria Aparecida — todos brilhantes em suas profissões e vidas.

As descrições narrativas da autora são feitas com minúcias, deixando antever uma memória-prodígio.  Da viagem do seu sonho que fez à Europa chega a lembrar-se até do nome "strudel" para a torta de maçã saboreada na Áustria, e do itinerário turístico feito em Paris cujo quarto no Hotel Pierre era iluminado a ponto de justificar tratar-se mesmo da "Cidade Luz".

Outro diferencial do livro é a memória musical da autora, de canções de ninar, chegando a gravar um CD com músicas seletas de sua predileção, ao hino do Expedicionário Brasileiro.

Heloísa Patrício sempre quis o melhor do melhor para si e sua família, para seus alunos e amigos. E para isso lutou muito em todas as suas atividades. É uma vencedora. Por tudo seu livro é exemplar. Cada página é uma lição de vida.




©jaefrench


Já se faz notar a expressão do diálogo como uma forma desesperada, liricamente angustiante de os protagonistas religiosos estarem à procura de si mesmos, à procura de uma identidade pessoal que a diferencie da indiferença humana, que tenha o nome de marketing ou igreja, doença ou subserviência, solidão ou nada.

Os leitores já devem ter notado que "o diálogo não é simplesmente troca de falas entre interlocutores, mas o processo de autoconhecimento do outro", como analisou Baktin — um exercício de alteridade para consciência de si e do outro. Esses personagens anônimos (nós todos no dia a dia), envolvidos em dramas existenciais que se entrelaçam, temos fé na ideia de si mesma que vive nela e a anima, e têm por isso de acreditar que a barafunda dos vivos que a cercam se entrega a uma confusa análise em que a primeira palavra surgida da essência cristã fará cair as máscaras para instaurar o reino da fraternidade.

Os protagonistas ou pecadores se perguntam se têm afinidades eletivas ou se as suas (nossas) escolhas são uma condensação fragmentária de sua vivenciação com a linguagem narrativa? Os pecadores (ou seja, nós) exumam a si próprios para que outros (sobre)vivam sempre em busca de si mesmos num contexto que se universaliza? Os leitores já perceberam que as personagens da vida são pessoas idênticas entre si à procura de uma pátria transcendental para suprir a "ausência afetando um ato na ordem humana das conexões sociais ou uma alma na ordem ética dos valores pessoais? Ainda que  absurda pelo viés do politicamente correto, é preciso, todavia, dar aos leitores a possibilidade de um último fracasso humano, no caso acreditar, crer mesmo, ter fé, admitir, por exemplo, uma salvação "para cima", pondo em jogo o foco socioeconômico exigido para se alcançar o status de merecedor da salvação. O jogo religioso põe em xeque a interveniência de um Deus-castigo ou um Deus-compensação-salvífica, uma vez que ele estabelece no sentimento de culpa a exegese da perversão da religiosidade como negócio. Mesmo sabendo-se que a Deus não se paga nada.

Em razão do medo do inferno, o nome de Deus é negociado com mentiras eloquentes, até que as pessoas percebam definitivamente que toda religião é a petrificação de um complexo de sentido tornado estranho; que "todo rito ou culto é o ossuário de interioridades mortas", pois Deus, de Suprema Inteligência, não precisou ou ad aeternam precisará de templos, de puxa-sacos metafísicos, de fariseus vendendo falsos poderes. Ele já criou um universo em constante expansão para que o homem não seja a sua própria prisão.

O homem só se distingue em qualidade se ele buscar fora de si o que deixou de ser. A ética da vida que pensa cada alma como uma realidade singular e incomparável, não pode coibir ninguém de livrar-se de todo condicionamento e de sua própria reflexão — geralmente polêmica — sobre a sua "caminhada", eivada de incertezas, dogmas, princípios cristalizados como fósseis espirituais, preconceitos, obediências cegas, culpabilidade onipresente, enquanto durar sua frágil e rápida existência.

O homem não se deu conta, como o fez Paul Davies, de que "o universo criou a sua própria consciência". Por isso Marcelo Gleiser assevera: "É o imperfeito, e não o perfeito, que deve ser celebrado". Como pátria transcendental Deus há de ser o "reconhecido como necessário". Deus não pode ser experiência apenas para quem sofre, mas ser o exemplo para quem quer ser feliz.




©comfreak


A televisão brasileira está repleta de programas sobre culinária, ensinando como cozinhar via de regra pratos sofisticados e sobremesas que aguçam o paladar. Desses programas surgem autênticos chefes de cozinha que vão, posteriormente, ocupar funções de ponta em restaurantes chiques. Alcançar esse patamar profissional é o prêmio para os experts da cozinha. MasterChef, a propósito, é um talent show exibido pela Rede Bandeirantes, baseado na franquia original de mesmo nome, exibido no Reino Unido, sob direção de Ana Paula Padrão, tendo por jurados Henrique Fogaça, Érick Jacquin e Paola Carosella.

Durante a competição, os jurados podem avançar um competidor para a próxima rodada ou eliminá-lo a qualquer momento, tomando seu avental. Um segundo tipo de desafio é fazer com que os competidores inventem um novo prato em torno de um ingrediente básico ou tema, com os jurados avançando ou eliminando os jogadores com base no gosto de suas escolha ou expertise.

O programa tem sua razão de ser, dá ibope: só na Europa e na América Latina são 49 países incluídos em exibições por temporadas. A oitava temporada brasileira, por exemplo, estreou em 6 de julho de 2021, contou com 23 participantes, consagrando Isabella Scherer como vencedora.

Há, contudo, uma contradição no MasterChef: o start de quem se destina o programa. Num país como o Brasil, onde campeia inclusive a fome, não é fácil deglutir o botijão de gás a 120 reais, a penca de banana a 10 reais e os preços das carnes batendo recordes. Em assim sendo, os master chefs vão ensinar para quem, se a quase totalidade da população não tem nem mesmo o que comer? Pode-se, então, afirmar que o programa culinário destina-se à classe média média (ou da elite), para telespectadores de um público que tem disponibilidade para ver programas similares, não importando o canal.

De outra feita, há causas que justifiquem o contraditório do MasterChef, como é o caso do direito da população à alimentação e a disponibilidade de alimentos em relação ao desperdício em face de fatores ambientais, econômicos e sociais. Muito populoso, o Brasil é o país que mais desperdiça alimentos do mundo, problema agravado por entraves legais.

Dados da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) aponta que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos é jogado fora por ano, ou seja 1/3 dos alimentos produzidos é desperdiçado, o que impacta na segurança alimentar e nutricional da população e mantém muitas vidas em risco. A FAO avalia que os prejuízos econômicos gerados pelo desperdício de alimentos sejam da ordem de US$ 700 bilhões do ponto de vista ambiental e US$ 900 bilhões na dimensão social.  Considerando o tripé de sustentabilidade (econômica, social e ambiental) o custo total relacionado ao desperdício de alimentos situa-se em torno de US$ 2,6 trilhões, valor equivalente ao PIB do Reino Unido. O Brasil ocupa a 10ª posição no ranking dos países que mais perdem alimentos no mundo, com 35% da produção sendo desperdiçada todos os anos. Os principais fatores relacionados a perdas de alimentos são: comprar muitos alimentos sem planejar as refeições em que serão utilizados; armazenamento dos alimentos de forma indevida; preparação da quantidade de comida maior do que será consumida e a colocação no prato das  porções, além do que será possível durante as refeições e a grande quantidade de resíduos gerados.

O problema é tão sério que levou governos, empresas, instituições e a sociedade civil a discutir as causas do desperdício e pôr em prática os 17 objetivos e suas 169 metas que possibilitem a erradicação da pobreza e proporcionar uma vida digna para todos. Projetos de lei tramitam na Câmara e no Senado visando a autorização que obriga empresas comerciais a fazerem doações para entidades beneficentes, sem fins lucrativos, a banco de alimentos, direta ou indiretamente a pessoas em condições vulneráveis. Por que não associar programas como MasterChef ao programa Mesa Brasil, do SESC?




©aroeira


Cada vez que abre a boca Bolsonaro diz uma falácia, bobagem ou imprecação, como se o país fosse um bando de ignorantes como ele, pronto a aplaudi-lo e apoiá-lo em seus lances de bravata. O presidente fala o que quer, onde estiver, sem medir o efeito tóxico das fake news que se presentificam em seu discurso.

Ele mantém o tom rompante de um discurso que a propósito já não amedronta ninguém, mas colide com ações decorrentes do disse-que-disse que mantém para satisfação de seus apaniguados. Pouco ou nada liga o presidente para os índices de rejeição apontados em pesquisas públicas.

Ele não se dá conta de que agora mesmo já existe uma diferença de pelo menos 40% entre sua intenção de manter-se no governo a partir de 2022 e a prevista intenção de Lula vir a ganhar o pleito com expressiva margem de votos já no primeiro turno.

A derrota de Bolsonaro na próxima eleição já é quase flagrante, questão óbvia entre os muitos candidatos que almejam a presidência do poder. Por tudo de errado que fez em seu mandato presidencial, Bolsonaro já sabe que não terá chance alguma de repetir a façanha de conquistar de novo o auge do poder.

A cada dia que passa, o presidente comete uma prova de que não tem estrutura para governar o país. Seus excessos anacrônicos vão desde dizer que o Enem "está a cara do governo" a disparar sua inconcebível metralhadora verbal ao questionar "o que é o IPHAN" "ripando" desse importante instituto seus competentes funcionários.

Bolsonaro cortou criminosamente quase 90% do orçamento previsto para o Censo 2021, através de que, se realizado, o presidente tomaria conhecimento do que inclusive pensa a população a seu respeito. O Censo indicaria, sobretudo num ano eleitoral, um checkup do país, mas isso é venal para o Brasil de Bolsonaro.

É cabível ao presidente falar (bem) menos e fazer (bem) mais num país que está à beira do caos. O Brasil padece de larga e profunda corrupção, de evidente negacionismo, de incrível carestia nos preços de combustíveis e de alimentos, de perda de legalidade constitucional, de excessivo autoritarismo sobre o Estado de direito, de desfaçatez sobre a pandemia com sequências imprevisíveis, de amplo protecionismo ao agronegócio empresarial, de abusiva inversão de valores, a começar pela falta de ética que reflete no empreguismo e de uma ironia contraproducente nos programas sociais...

Bolsonaro representa o mau exemplo político e com toda certeza o povo vai derrotar sua empáfia e arrogância em mais um ano (ufa!) de governo. Depois ele irá penar numa caserna onde a melhor piada será ele mesmo.

Ainda bem que o tempo não para.


 

 

março, 2022

 

 

 

CORRESPONDÊNCIA PARA ESTA SEÇÃO

Av. Américo Leite, 130 – Centro

35540-000 – Oliveira/MG

 

::  revista  ::  uns  ::  outros   ::  poucos  ::  raros  ::  eróticos&pornográficos  ::  links  ::  blog  ::