[ilustrações ©sguimas]

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

A Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo em 1922, no Teatro Municipal — e como toda inovação, sobretudo porque inserida em um contexto ultraconservador , pregava o modernismo — não foi bem aceita pela crítica, que à época respaldava o parnasianismo, escola literária que pregava o retorno aos ideais clássicos e, assim, alcançava prestígio junto à elite. É preciso esclarecer que a Semana de Arte Moderna ocorreu em uma época cheia de turbulência política, social, econômica e cultural. As novas causas estéticas surgiam e o mundo se espantava com as novas linguagens desprovidas de regras. Alvo de críticas, a Semana de Arte Moderna não foi bem recebida em sua época. Isto em razão de uma revolução na linguagem artística já que se obteve uma ruptura com o passado. Entre as consequências o fato de a poesia passar a ser declamada, quando antes era só escrita e dos cantores passarem a ter acompanhamento de uma orquestra, quando antes apresentavam-se à capela. Outra consequência foi o abrasileiramento da língua portuguesa.

As telas chegaram a chocar, e espalharam-se pelos salões esculturas arrojadas, além de exposição de maquetes de prédios dotadas de modernos conceitos de arquitetura. O evento, que se tornou movimento, contou com a participação dos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Plínio Salgado, Tácito de Almeida, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Yan de Almeida Prado, Sérgio Millet, entre outros; o escultor italiano Victor Brechelet; os pintores Di Cavalcanti e Anita Mafaltti; na música Heitor Villa-Lobos e Guiomar Novaes. A pintura de Tarsila do Amaral agregaria sua presença ao modernismo brasileiro através do movimento antropofágico, manifestação artística da década de 1920, autora do quadro "Abaporu" (homem que come gente), tornado símbolo da Semana. O evento chocou parte da sociedade por ser a expressão da ruptura com o passado através da renovação da linguagem, da busca pela experimentação e da liberdade de criação. A Semana fez o papel de divulgação da arte moderna que consolidou uma revolução artística que se sedimentou de vez em 1922, quando foram lançados os manifestos de Oswald de Andrade e obras fundamentais do primeiro modernismo, como Macunaíma, de Mário de Andrade.

1922 foi o ano centenário da Independência do Brasil o que pode ter influenciado os artistas envolvidos na Semana, que fizeram por surgir um nacionalismo preponderante em forma de proposta para atualizar a intelectualidade brasileira e muni-la de uma consciência crítica nacional pautada na necessidade de "redescobrir" o Brasil que se achava estagnado no ideário da República Velha com seus padrões oligárquicos coloniais, agora com a intenção precípua da burguesia industrial.

Ao mesmo tempo estavam presentes o internacionalismo das vanguardas europeias, que muito influenciaram os artistas brasileiros. O acontecimento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) com seu rastro de morte e destruição que assolou a Europa também marcou profundamente as relações sociais e a percepção filosófica da humanidade, o que impactou diretamente as produções artísticas do período.

A Semana de Arte Moderna resultou em uma nova maneira de pensar a cultura brasileira. Tupy or not tupy, that is the question, diria Oswald de Andrade.

 

 

Brasil

[Oswald de Andrade]

 

 

O Zé Pereira chegou de caravela

E perguntou pro guarani da mata virgem

— Sois cristão?

— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte

Tererê tetê Quizá Quizá Quecê!

La longe a onça resmungava Uu! ua! uu!

O negro zonzo saído da fornalha

Tomou a palavra e respondeu

— Sim pela graça de Deus

Canhem babá Canhem Babá Cum Cum!

E fizeram o Carnaval!

 

 

 

 

Você é guerreira, garantia da sobrevivência, guardiã do lar, ser humano por excelência. Mãe é mulher que faz a diferença. Por toda uma vida. Por isso seu conselho será também eterno como sua infalível expertise.

Com doce realismo, mãe é a sustentável leveza do ser. Você ensina a decifrar as coisas que são importantes. Você ensina a desatar os nós e então faz ficar mais ameno o caminho no labirinto da existência.

Você conhece muito de si mesma, daí não tratar seus rebentos como estranhos no ninho e fora dele.

O seu amor é infinito e eis o porquê de a humanidade ter um regaço de recolhimento, um porto seguro. Você é amor sincero sem exagero, e maior que o seu amor, só o amor de Deus.

Você é palavra fecunda que germina um novo ser a quem é capaz de doar-se inteiramente em qualquer ocasião e circunstância. Você é o contato no diálogo com o Pai, reveladora da fé na eternidade.

Mãe é o susto da sinceridade. Toda puérpera já é mãe coruja. Você é o suporte da felicidade, ventre do mundo, amparo da vida, criatura de infinita doação.

Você é presença a todo instante, alicerce dos sentidos a dizer que "não há dor que dure para sempre". Você é o avesso do óbvio, é onde reavivam esperanças perdidas. Mãe é a saúde da alma.

Você é a revelação dos mistérios, a natureza das coisas, a vitória nos desafios, a poesia sa(n)grada, os gestos de carícia pura, a capacidade plena de tudo que constrói o amor no outro. "Todas as mães são  um pouco loucas"(J.D. Salinger).

Mãe é ver no escuro. É a certeza de futuro. "Uma boa mãe vale por cem professores" (George Herbert).

Mãe é lição de realismo e de delicadeza. Mãe nunca abandona. Ela é o exemplo. A melhor amiga. Mãe é oração. Silêncio fértil. Mãe é o melhor da vida.

 

 

 

 

Fulcro, s.m. sustentáculo, apoio. amparo, ponto de apoio da alavanca sobre o qual gira qualquer coisa; descrição dos órgãos que protegem ou facilitam a vegetação.

É preciso ter sustentáculo para enfrentar os desafios da vida. Ter obstinação para tomar decisão. O fulcro resulta da consciência crítica sobre os percalços que alinham-se na profundeza do âmago. Assim como para amar é preciso coragem e persistência, é preciso  convicção para se manter o equilíbrio existencial, também a perda exige reparos que nem sempre se consegue dirimir.

Atingir o fulcro exige resiliência. Exige buscar fundo a chave dos enigmas e experienciar o que convém ao humano livre da força do mal que atazana o pensamento.

Nós somos os que buscamos para decifrar as coisas quem são importantes. Mesmo as coisas simples têm o seu lado de cumplicidade com a leveza do esclarecimento ou com o peso da consciência.

É preciso mergulhar águas profundas e trazer à tona o limbo da riqueza que nos revela o que deixamos de ser. Não basta apenas acender o fogo para aquecer o corpo de águas tépidas: é preciso submergir nas sinapses e dialogar com o desconhecido. Só assim será possível fazer funcionar o fulcro e dele arrancar o equilíbrio da alma e da linguagem.

Somos feitos de fragilidades e fraquezas, por isso precisamos de um fulcro para nos manter incólumes na existência. Somos quase sempre o menos, a parte menor, o que falta, o que tange, o que transita com a transcendência e geralmente perde no confronto com o maniqueísmo.

Donde o fulcro ser imprescindível para que a existência não seja derrotada pela existência e suas dores do mundo. O que sustém a vida é o bom senso, o equilíbrio das palavras, a força e a magia das ações construtivas, o silêncio fecundo, a explosão dos sentidos, a alavanca dos sentimentos. O fulcro é uma inteligência emocional: é preciso manter a autorreflexividade mesmo em meio às emoções turbulentas. É preciso inteligência para tomar decisão, inclusive em relação aos outros. O fulcro é o otimismo realista: é preciso expurgar as ideias tóxicas. E aproveitar as janelas da oportunidade.

Vive-se em meio ao mal, aos desafetos, às doenças, ao negacionismo, às fake news, à corrupção, ao jogo espúrio dos maus políticos, e, por isso, necessitamos de um fulcro capaz de debelar o que é podre na vida.

O fulcro, porém, também pede SOS. O fulcro também precisa de mudanças sérias garantidas por gente séria. O fulcro, se falhar, leva a vida à bancarrota.

 

 

 

 

Soren foi convidado para participar do Congresso Nacional Sobre o Impacto do Surpreendente na Saúde Humana, ou simplesmente CURA, via internet, com a incumbência de coordenar o evento. Soren conscientizou-se de que o CURA seria uma guerra de egos inflados e disputas de poder midiático a fim de garantir a participação de cientistas e convidados especiais de todo o mundo.

Fora os "caroneiros", estavam previstos uma canja do The Cure; da banda Calipso interpretando seu sucesso "A cura"; a dupla sertaneja Sara/Cura; o lançamento do livro A cura da humanidade, de Trigueirinho; do CD Cura-me; dos livros A cura de Spinosa e A cura de Schopenhauer em versões pocket-books, bem baratinhas. Correndo por fora, uma Tenda do Cura seria montada no Shopping Beautiful Life para ministrar o curso-relâmpago "Ancestral, Planetária e Cósmica". Foi proposta também a celebração de Missa da Cura, aprovada em lei pelo Lula de 2010, seguida de procissão com imagem de Santo Esculápio, protetor da saúde. A pomada Apinil — para cura de tudo — desistiria na última hora por causa do valor do investimento no evento. Dois filmes homônimos intitulados A Cura seriam exibidos respectivamente pela Globo ("Tela Quente") e pela Record ("Cinema Especial"), na semana do evento.

As "chamadas" nos meios de comunicação, inclusive com carros e motos-som, outdoors, vinhetas e reportagens pagas, foram contratadas a uma agência incrivelmente experiente e propícia a vender esse tipo de evento com resultados de escandaloso êxito, porque tinha muita experiência em eleger candidatos fichas-sujas, crápulas, analfabetos e "gente" que só o diabo e a polícia conheciam. O slogan da "mais por menos" (nome da agência de marketing) era "O CURA cura".

Faixas, vinhetas, outdoors e cartazetes:

 

SE O POVO ACREDITA EM POLÍTICO, FICA FÁCIL ACREDITAR EM QUALQUER COISA.

 

"CONGRESSO NACIONAL O IMPACTO DO SURPREENDENTE NA SAÚDE HUMANA" – CURA –

 

PARTICIPE nem que seja para curar-se de si mesmo.

 

O QUE VOCÊ ACHA QUE CURA TUDO: CACHAÇA OU ÁGUA BENTA E REZA?

 

COMO DIZ O CANTOR FALCÃO: A CURA ESTÁ NO AR.

 

"SE JESUS É O CAMINHO, EDIR MACEDO É O PEDÁGIO".

 

VOCÊ SABE POR QUE NÃO PODE COMPRAR O MEDICAMENTO PARA SUA BONDOSA MÃEZINHA NÃO MORRER DE CÂNCER?

A RESPOSTA ESTÁ NO

"CONGRESSO NACIONAL SOBRE O IMPACTO DO SURPREENDENTE NA SAÚDE HUMANA" – CURA –

 

Tudo na vida tem cura, o inferno não!

 

SALVE-SE QUEM PUDER! CASO CONTRÁRIO, SEU CONCORRENTE VAI ABRIR A PORTA DA CALDEIRA DO DIABO PARA VOCÊ. E NUNCA MAIS VOCÊ SAIRÁ DE LÁ. RÁ! RÁ! RÁ!

 

"SE VOCÊ ESTÁ MORTO, POUCO OU NADA PODE FAZER PARA SER FELIZ".

 

VENHA saber como é possível ter uma vida saudável, feliz e longa.

 

Você sabia?

"TODO HOMEM COM SAÚDE É UM DOENTE QUE SE IGNORA".

 

O conhecimento não cura só a ignorância; cura também

tudo o que o conhecimento ensina para você adoecer e morrer

com toda a sua sabedoria. Pior: pobre e na solidão de si mesmo.

 

O CURA É UMA RESPOSTA À VIDA!

 

 

 

 

Para comemorar o bicentenário da independência, a Folha de São Paulo, em parceria com o Projeto República, a partir da ideia do empresário português José Manuel Diogo, montou um painel com 200 livros que permitem conhecer o Brasil, mediante a escolha de 169 intelectuais entre historiadores, sociólogos, antropólogos, romancistas, economistas, juristas, além de representantes de Portugal, Angola e Moçambique. O painel é diversificado em raça e gênero, que contempla as cinco regiões brasileiras, além dos três países citados. Segundo Diogo, o painel "200 anos, 200 livros" é "uma fotografia, um daguerreótipo, um retrato em lombadas que explica o Brasil diverso, moderno, que tem uma consciência exata do seu passado, do lugar que hoje tem no mundo e dos seus desafios futuros". Além de o projeto ser "uma verdadeira ação de celebração do bicentenário da Independência do Brasil, construída por meio da arte e da cultura, tendo expressão física e virtual", a iniciativa ganhou o apoio da Embaixada de Portugal, do Instituto Camões e da Universidade de Coimbra.

São livros que dão voz a ideias, valores, sentimentos acerca da condição de ser brasileiro — as nações são imaginação, dizia Benedict Anderson, e se "distinguem pelo estilo com que são imaginadas, desde a necessidade de se construir uma imaginação que não repudie sua própria historicidade, sendo por isso imprescindível aproximar-se do país, recolher os traços do país em sua população para nele atuar", comenta a historiadora Heloísa Starling, coordenadora do Projeto República e professora da UFMG. Na acepção do também historiador Danilo Marques, do Projeto República, "o projeto tem relevância de reunir múltiplos olhares sobre o Brasil em um painel contemporâneo, e em muitos casos, surpreendente. "Montar retratos do pensamento como esse está entre os serviços de missões do jornalismo profissional", afirma Sérgio Dávila, diretor de redação da Folha.

Apenas livros de ficção ou não-ficção foram contabilizados para a lista final, letras de música não foram levadas em conta; foi desconsiderada a indicação quando o conselheiro recomendou um livro de sua própria autoria ou que tenha sido organizado por ele. Foram excluídos ainda livros que não tenham sido publicados em língua portuguesa. Ao fim da captação de obras, os curadores haviam recebido 366 livros, isso em 2021. Pessoas com cargos políticos não foram convidadas, à exceção de Randolfe Rodrigues, presidente da Comissão do Bicentenário no Senado Federal. Entre outros participantes da indicação livresca estão Adriana Calcanhoto, Afonso Borges, Alejandro Chacoff, Angela Alonso, Antonio Risério, Armindo Fraga, Bárbara Bulhosa, Bernardo Carvalho, Boris Fausto, Carlos Eduardo Lins e Silva, Cristóvão Tezza, Delfim Netto, Eugênio Melo e Castro, Fernanda Torres, Glória Kalil, Heloísa Buarque de Holanda, Ignácio de Loyola Brandão, Jânio de Freitas, João Silvério Trevisan, José Celso Martinez Corrêa.

Entre outros livros selecionados estão: Tristes trópicos (Claude Levi- Strauss); Quarto de despejo (Carolina Maria de Jesus); Formação econômica do Brasil (Celso Furtado); Por um feminismo afro-latino-americano (Lélia González, Flávia Rios, organização); Os donos do poder (Raymundo Faoro); Triste fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto); O povo brasileiro (Darcy Ribeiro); Formação do Brasil contemporâneo (Caio Prado Jr.), Viva o povo brasileiro (João Ubaldo Ribeiro); O genocídio do negro brasileiro (Abdias Nascimento); Coronelismo, enxada e voto (Victor Nunes Leal); Memórias do cárcere (Graciliano Ramos); Ao vencedor, as batatas (Roberto Schwarz); A carta de Pedro Vaz de Caminha; Cidade de Deus (Paulo Lins); A selva (Ferreira de Castro); Tenda dos milagres (Jorge Amado); Carmen (Ruy Castro); Iracema (José de Alencar); Lavoura arcaica (Raduan Nassar); Dialética da colonização (Alfredo Bossi); Morte e vida severina (J. Cabral de Melo Neto); O caráter nacional brasileiro (Dante Moreira Leite); Verdade tropical (Caetano Veloso); Brasil: mito fundador e sociedade autoritária (Marilena Chauí); O tempo e o vento (Érico Veríssimo); A terra dos mil povos (Kaká Werá Jekupé); Romanceiro da Inconfidência (Cecília Meireles); Brasil, terra de contrastes (Roger Bastide); Corografia brazilica (Manuel Aires de Casal); História da Independência do Brasil (Francisco Varnhagen); Hello, Brasil (Contardo Callegaris); Geografia da fome (Josué de Castro); História do Brasil — 1500-1627; Esaú e Jacó (Machado de Assis); Pedagogia da indignação (Paulo Freire); Reinações de Narizinho (Monteiro Lobato); Poema sujo (Ferreira Gullar); Projetos para o Brasil (José Bonifácio de Andrade e Silva); A revolução burguesa no Brasil (Florestan Fernandes).

Segundo o ex-ombusman da Folha, Bernardo Ajzenberg, a lista de 200 livros é um reflexo do peso cada vez maior da questão racial no país, analisados sob as preocupações mais ou menos pontuais nas áreas cultural, política, econômica e social, que conseguem traduzir o que constitui esta nação e qual o olhar de momento lançado sobre sua existência. Quem se interessar pela lista completa dos 200 livros basta consultar a edição da Folha de S.Paulo do dia 5 de maio.

 

 

 

 

Em recente diálogo com um amigo ele, sempre com raciocínio brilhante, reportou-me que socialmente vivemos no país, hoje, o contrário do slogan cunhado na bandeira nacional —  em vez de "ordem e progresso", a pecha do retrocesso e do caos. E ele mergulhou mais fundo: em sua acepção — rigorosamente correta: o povo brasileiro é vítima da doença social, patologia que impregna até a alma com tudo o que há de errado, porque o país está sem referência de bom senso, de lógica, de justiça, de mérito. A isso se dá o nome de "anomia", conceito criado por Émile Durkheim para designar a perda de identidade a partir do rompimento com os valores perenes, criando, consequentemente, o sentimento de a população estar à deriva de sua própria vida. Irretocável!

"Não se confia mais nas instituições", asseverou o amigo. "Antigamente (ou seja, há pouco mais de quatro décadas) tinha-se confiança cega na igreja, que apresentou inúmeros casos de pedofilia; numa Justiça que se tornou, como os demais Poderes Constituídos, eivada de profissionais corruptos". Quem há de negar? "Hoje, prosseguiu o amigo, crianças nascem órfãs de pais, porque o amor tornou-se um ato gratuito. Falta respeito aos idosos, que são considerados um estorvo. Os políticos repetem e aprofundam seus crimes de lesa-pátria, porque têm sabida impunidade. Contra a violência são criadas novas leis, mas que não funcionam na prática cotidiana".

Não são apenas as patologias presumíveis que se mantêm no âmbito da qualidade de vida da população brasileira, que insistem em permanecer no país por incompetência política do atual sistema de governo. Também a fome, o analfabetismo, o suicídio, o desemprego, a precária situação da educação, da segurança e da saúde, além do envelhecimento do povo e da deficiente substituição titular nas profissões básicas pela juventude ainda mal preparada para as vicissitudes e desafios, entre outros fatores, justificam o Brasil ser subserviente a doenças sociais. Vícios, o acintoso comércio de drogas, da prostituição e da criminalidade sob proteção institucional, concomitantes à perversidade da corrupção nas religiões, nos sistemas político e jurídico, tudo vivo na nação como um coração pulsante, mas podre em virtude da impunidade, fazem do Brasil país em que a anomia, o controle do poder, a ameaça social, a subserviência às facções dominem o povo por três maneiras: pela sobrevivência à fome, à perda da saúde e do emprego. Alia-se a essa tríade a falta de segurança. A corrupção dos políticos é a "legítima" representação da imagem da população levada à aceitação corrupta. A doença social é tamanha e tão visceralmente corrosiva da verdade que, diz Celso de Deus, a parcela da população que se mantém íntegra, por convicção e caráter, acaba marginalizada, como se a integridade fosse um crime. Além de estar com sua identidade altamente comprometida pelos políticos, o estado de coisas latente no país, independentemente das reformas que precisam ser realizadas — reforma política, tributária, previdenciária e do Código Civil, por exemplo —, faz com que o Brasil perca também — e cada vez mais — a credibilidade. E que a conta da corrupção brasileira é calculada em R$100 bi! Com isso, criou-se a cultura do medo e da ameaça para escorar a esperança, como uma espécie de "ditadura do tempo real" baseada na eterna vigilância, na censura, no revanchismo, na economia dos mensalões, na ilusão de se fazer mais corrupção com propostas diferentes através de eleições conchavadas com facções do poder.

A política nacional faz o homem brasileiro não valer nada. Torna-o inexoravelmente subserviente à sobrevivência ou à subjetividade da ganância, a um poder excludente que alimenta a anomia com a fatalidade, o terrorismo light de profissionais da corrupção e a desesperança criada pelo continuísmo mantendo a doença social como entrave ao modo de ser feliz. Tem cura o homem ser tão vil?


 

 

junho, 2022

 

 

 

CORRESPONDÊNCIA PARA ESTA SEÇÃO

Av. Américo Leite, 130 – Centro

35540-000 – Oliveira/MG

 

::  revista  ::  uns  ::  outros   ::  poucos  ::  raros  ::  eróticos&pornográficos  ::  links  ::  blog  ::