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Simpatia para virar moça virgem:

esfregue uma pedra-ume no orifício vaginal e ele se fechará.

[De um dos livros proibidos da madrinha]

 

 

Sim, doutor Armando. Eu entendo. Não, não preciso de atestado de remoção de hímen por processo cirúrgico. Para quem eu deveria mostrar tal disparate?! Não, não, acho até que isso precisava ser feito com toda mulher, ainda bebê. Tirar a virgindade de nascença. De quantos problemas a gente ficaria livre, já imaginou? Claro, doutor, em nome da honra de vários machos, pode meter o bisturi.

 

§

 

Querido diário, aqui estou eu, inebriada. Ah... Genésio. Nunca vi alguém tão feliz, tão orgulhoso, tão. Só porque me fez mulher [coisa mais jeca]. Noite de foda desabalada. Fogos de artifício & arrepios. Sei, sei, não sou poeta, não consigo falar de amor sem cair na vala comum da linguagem. Falo assim mesmo. Falo. Pronto. Enorme.

 

§

 

Céu ou inferno, dona analista. Um furdunço. O coração em fúria, fora do ritmo das ancas, que se ondulavam molemolentes-malemolentes: uma arraia com o capeta no corpo. A senhora já passou por isso? Minha terceira vez e eu estou só começando. Frederico, o nome dele. Sim, foi Freud. E que Freud.

 

§

 

De: Adamastor [mailto:adamastor@...]

Enviada em: sábado, 14 de outubro de 2017 09:28

Para: Edwiges de tal

Assunto: Re: Todo o meu amor

 

Querido amor, Adamastor, meu devedor

Toda apaixonada, fico assim, cheia de rimas.

Aposto que não sabe que devedor, em alguns confins deste país, é o cara que tira a virgindade da moça. Meu primeiro homem. Fico te devendo essa. rs

Ligo ainda esta semana e a gente combina outra trepada noite fantástica. Pode esperar.

Beijos da sua para sempre

Duvirge

 

§

 

— Marilda, minha santa, pensei que não chegaria inteira aqui no caixa.

— Estranhei sua demora, sumiu lá pros fundos... Credo, mulher, voltou meio amarrotada, o que houve?

— Um susto. Estava ali, escolhendo verduras, quando apareceu o Manuel, dos legumes. Aqueles muques-bíceps-tríceps me arrebataram, você entende?

— Mais ou menos.

— Ora, Marilda, não se faça de boba.

— Transaram.

— Ele foi ao paraíso sobre um saco de batatas.

— Minha nossa.

— No fim, declarou-se emocionado por ser o primeiro.

— Minha nossa.

— Já marcou data pra nova farra.

— Minha nossa.

— Claro que ele vai esperar sentado, né, Marilda? [no saco]

 

§

 

sim, olimpinho, vc é o cara

me marcou pra vida inteira

sentindo saudades... jamais esquecerei aquele domingo, juro

não, não, vc não me fez mal, pelo (pubiano, rs) contrário

desculpa, estava com problemas no cel, não deu p/ responder antes

mas qualquer hora eu ligo e a gente repete aquela epidemia de gozos, viu? bjs.

 

ü  Visualizado — Sáb 10:58

 

§

 

— Claro que não, Delurdes, preciso desenhar? — Os caras me comem, mas não levam a minha... minha... minha castidade — Só a ilusão — Como? — A ligação está péssima — O nome dele é Inguimar — Arrancou-me o sétimo selo — Olha que chique, parece até nome de filme — Não, Delurdes, você pirou, só pode — Tenho hímen displicente — Hahahahaha... — Estou esperando o Enrique, vai ser o oitavo — Ah, ele chegou, vou desligar — Calma, querida, não vou perder a cabeça. Nem o.

 



setembro, 2022



Adelaide do Julinho. Viúva. Do lar. Vive discretamente em Belo Horizonte, Minas Gerais. Musa de quatro importantes personalidades do cenário nacional (um poeta, um escritor, um músico e um político — de direita). Poeta neobarraco, participa do coletivo Escritoras Suicidas, está em Amar é abanar o rabo, de Jovino Machado (Belo Horizonte: Excelente, 2009) e Dedo de moça — uma antologia das escritoras suicidas (São Paulo: Terracota Editora, 2009). Foi um dos autores convidados da mostra #Tuiteratura (São Paulo: Sesc Santo Amaro, 2013). Tem poemas traduzidos para o inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, albanês, latim, romeno, entre outros. Se pudesse escolher, preferia ser a Gisele Bündchen, com um pouco mais de bunda.

 

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