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A VIAGEM



Mal cabia em si de tanta felicidade. Sim, mais uma viagem iria começar. Ela se sentia renovada, cheia de expectativa pelas descobertas que certamente viriam.

Era como se fosse um prêmio para si mesma: nada como sair da rotina e fazer um mergulho profundo num outro universo. Que personagens iria encontrar? Talvez algumas pessoas tivessem algo em comum com ela mesma, um coração sensível e delicado, muitas vezes machucado pela brutalidade do mundo. Talvez encontrasse tipos envolventes, carismáticos e sedutores, aquelas pessoas que ela sempre admirou por saberem aproveitar a vida com intensidade.

Se interessava mais por gente do que por paisagens. É claro que adorava conhecer novos lugares, mas o que a fascinava mesmo era a história de vida de cada pessoa que iria conhecer. Os dramas, as vitórias, os costumes, a personalidade de cada novo companheiro que esta aventura iria lhe trazer.

Já havia conhecido muitos tipos inesquecíveis em outras viagens. Gente que a marcou profundamente por tocar de modo tão intenso e transformador os seus sentimentos. Gente que acrescentou alegria, paz, fé, compaixão, através de histórias que muitas vezes a fizeram rir, embora outras lhe arrancassem lágrimas. Se envolvia inteiramente com cada tipo que lhe chamava a atenção. Mesmo que soubesse que não iria ficar com eles para sempre, pois haveria um momento em que teria que voltar para sua rotina, fazia questão de se colocar inteira, como amiga e confidente, de pessoas que se tornariam íntimas e queridas durante estes dias diferentes e cheios de surpresas.

Já havia rodado o mundo inteiro. Conheceu o glamour das celebridades, se emocionou com a vida sofrida dos moradores de rua, se divertiu com jovens, aprendeu com idosos, sonhou com adolescentes, se apaixonou por homens, se identificou com outras mulheres, lutou em favor dos negros, apoiou os homossexuais. Aprofundou seus conhecimentos sobre política, cultura, religião. Conheceu o dia a dia de roqueiros, sambistas e sertanejos. Já se sentiu como se vivesse no futuro ou amarrada ao passado. Descobriu o frio das geleiras, o calor do deserto. Viveu a agitação das metrópoles e a vida pacata do interior. Trazia dentro de si toda a pluralidade do mundo.

É por isso que amava tanto as suas viagens. Quando a aventura chegava ao fim, era tomada por um imenso sentimento de gratidão. Sentia-se transformada, enriquecida e emocionada por viver momentos tão maravilhosos.

Cada vez mais, repetia para si mesma: nada como se deixar envolver inteiramente por um bom livro. E, cheia de entusiasmo, abriu a primeira página.







ESCREVER É APAIXONAR-SE



Criar um texto é mesmo um caso de amor. A satisfação que sinto ao colocar uma palavra após a outra, expressando tudo o que se passa na minha cabeça e vai no meu coração, é tanta, que me entrego de corpo e alma a esta deliciosa tarefa.

Como um amante se prepara para uma noite inesquecível de prazer, também eu me preparo para o meu encontro com a escrita. Antes tomo um banho frio, para despertar a mente e o corpo: não preciso me demorar muito, apenas uma rápida ducha gelada já me deixa com mais disposição para escrever. Saio do banheiro animado e feliz, como um apaixonado que sabe que em breve estará com sua amada, vivendo momentos de entrega, cumplicidade e alegria. É mesmo um instante muito íntimo, onde me revelo por inteiro à emocionante atitude de criar algumas linhas.

Os preparativos continuam no quarto: uma poltrona confortável me espera. Ao lado do notebook, há também uma luminária sobre a mesa. Nessa hora de intimidade, silêncio é fundamental. De vez em quando, entre uma frase e outra, dou uma pausa para um cafezinho. E assim se passam as minhas noites de amor.

Se estou inspirado é uma delícia: as palavras fluem naturalmente, como se os anjos me sussurrassem o que colocar no papel ou na tela do notebook. Sinto facilidade em escolher um assunto e, nessas horas, criar o texto é super prazeroso porque percebo que o meu trabalho está se transformando em algo sincero, gratificante, bacana, feito com o coração.

Mas também há os momentos de tormenta, quando as palavras me fogem. Fico ansioso e tenso, como numa situação mal resolvida de um caso de amor. Procuro uma boa ideia, mas não acho. Rabisco qualquer coisa, mas não acho que o texto esteja bom. Rasgo papéis, deleto o que já havia escrito no notebook. Sofro por isso. Reescrevo. Tento me acalmar, dou uma pausa. Até que a inspiração venha e eu volte a produzir com satisfação. Isso pode levar alguns minutos, horas ou dias, mas sempre passa.

Como no sexo, me dedico por inteiro para que este momento de entrega seja perfeito. É como se não existisse mais nada no mundo: toda a minha atenção está voltada para o texto. Carinhosamente, escolho as palavras, abraço minhas emoções, me sinto bem em ler e rever o que já foi escrito. São momentos incrivelmente gostosos, onde a imaginação corre solta. Me sinto livre e agradecido. Me permito sonhar e, quando uma boa ideia aparece, a sensação que tenho é de um orgasmo: aquele momento mágico onde tudo é belo. Sinto uma enorme euforia e, entusiasmado, agradeço a Deus por viver instante tão gratificante. É como se ao escrever eu estivesse celebrando a vida.

Acredito que toda forma de arte tenha esse poder transformador, trazendo o que é bonito, bom e sensível para perto de nós, como a sensação que temos ao viver um romance.

É a paixão pela palavra que me move. Uma paixão arrebatadora, da qual você, leitor, é o meu maior cúmplice e confidente. Que este textinho, feito com prazer, tenha te trazido bons momentos. Porque, sem o seu olhar e a sua atenção, este meu caso de amor não teria razão de existir. Fica aqui o meu muito obrigado a você que, nem conheço, mas que é fundamental para a minha felicidade. Valeu mesmo por me acompanhar da primeira sílaba até este ponto final. Ler também é apaixonar-se.








GENTE QUE GERMINA



Pessoas que germinam sabem como criar uma vida interessante. Estão sempre atrás de uma grande ideia, por isso, costumam viver motivadas e se jogam por inteiro dentro de um novo projeto.

São movidas pela paixão. E sabem como usar o tempo a seu favor. Os germinadores podem passar a madrugada trabalhando, transformam o domingo em dia útil e estão sempre produzindo porque amam o que fazem.

É o prazer de fazer bem-feito, com entrega e dedicação. Gente que germina vive amorosamente o seu propósito e oferece ao mundo todo o talento, criatividade e dons que descobriu em si.

Um germinador de verdade costuma incentivar outras pessoas a germinarem também. Torce muito pelo sucesso dos amigos e vibra com as conquistas de cada um como se fossem suas. Toda essa generosidade contribui para criar conexões positivas de amor e amizade, laços profundos e verdadeiros de quem sabe que relacionamentos gratificantes são fundamentais para uma vida feliz.

É o tipo de gente que esbanja bom humor e inteligência. Respeita sua essência e seus desejos mais íntimos. Por isso, a opinião dos outros tem pouca importância e seguem mesmo o que o coração diz. É gente que ousa, se arrisca e não mede esforços para realizar um sonho.

Pessoas germinadoras percebem que a vida vem em ciclos. E que é necessário sabiamente desapegar de tudo que já não traz harmonia e paz. São capazes de largar um emprego sem ter outro em vista, terminar um romance já desgastado, se afastar de pessoas com as quais a cumplicidade já não existe mais. A vida está sempre em transformação: é preciso descartar o que não funciona para que novas possibilidades de sucesso apareçam.

Gente assim está sempre se reinventando e não perde uma oportunidade de crescer e criar bons momentos. São pessoas que adoram viajar, ler, namorar, produzir, cooperar e se juntar a outros germinadores para promover o bem e a prosperidade de todos.

Germinar é oferecer ao mundo o melhor de si, a sua melhor versão. É encontrar a paz, se sentir grato por fazer o que gosta e contribuir para que mais e mais pessoas também se sintam entusiasmadas e percebam a plenitude de uma vida bacana, gratificante e interessante a cada novo dia.

Germine as sementes que existem no seu coração. Que brotem o otimismo, a alegria, a generosidade e a certeza de uma vida bem vivida. Germinar é fazer cada dia valer a pena, aproveitando ao máximo toda a beleza que podemos ter. Carpe Diem!

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Luiz Cláudio Siqueira nasceu em Campos dos Goytacazes/RJ e atualmente mora em Niterói/RJ. É formado em Publicidade pela Universidade Federal Fluminense, já trabalhou como redator para diversas agências de propaganda e tem quatro livros publicados. Entre eles, Crônicas, um caso de amor (Autografia, 2021).

 

 

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