Almir Zarfeg mistura ficção e realidade no seu romance de estreia: Estação 35



Por causa da pandemia do novo coronavírus, o poeta e jornalista Almir Zarfeg resolveu antecipar a publicação do seu primeiro romance. Trata-se de Estação 35, que vem a público com o selo da Lura Editorial e já pode ser adquirido no site da editora. (O livro pode ser encomendado diretamente ao autor e com direito a autógrafo.)

Ao estrear na narrativa longa em 2021, Zarfeg mata dois coelhos com uma cajadada: celebra os 30 anos de sua trajetória literária, iniciada com o livro de poemas Água Preta, de 1991 e, ainda por cima, homenageia a estrada de ferro Bahia/Minas, que durante 85 anos transportou os moradores e o progresso pelas regiões do extremo sul baiano e nordeste mineiro.

A "Baiminas" — como é lembrada pelos saudosistas — permaneceu em atividade até 1966, quando foi desativada pelo presidente-general Castelo Branco. Outras tantas estradas de ferro foram desativadas no país durante o regime militar. O ano de 2021 marca, portanto, os 55 anos da desativação da saudosa Maria Fumaça e os 140 anos da inauguração dela ainda no 2º Império.

Mas é preciso enfatizar que estamos diante de uma narrativa leve ou "de aventura", como aparece no subtítulo da obra, tendo como pano de fundo os 578 km de trilhos e a pandemia do coronavírus. Isso nos diz muito sobre o texto zarfeguiano.

Em primeiro lugar, ele mistura ficção com realidade, partindo do presente para o passado e não o contrário. Logo, não se trata de um romance histórico, como algumas pessoas podem pensar à primeira leitura. Na verdade, presente e passado se misturam para contar a saga da locomotiva que, durante mais de oito décadas, ligou o extremo sul da Bahia (Caravelas) ao médio Jequitinhonha (Araçuaí), beneficiando localidades que se transformariam em municípios relevantes do Vale do Mucuri, como Nanuque, Carlos Chagas e Teófilo Otoni. Finalmente, sertão e mar haviam se encontrado — como sonhara Teófilo Otoni, o empreendedor visionário.  

Em segundo lugar, a intenção zarfeguiana é mesmo homenagear a "velha e boa" estrada de ferro que, passados tantos anos após o encerramento das suas atividades, segue inspirando artistas — com seus poemas e canções; bem como estudiosos — com suas monografias e manifestos. No fundo, mesmo quem não vivenciou os tempos áureos da Maria Fumaça sente saudade dela.

Com uma linguagem simples e uma narrativa ágil, Estação 35 nos conduz ao vaivém do Trem do Adeus, misturando presente e passado, fotografando emoções e imortalizando saudades. Assim acompanhamos as peripécias da Operação Abrolhos que, com a desculpa de tentar localizar um chinês de máscara, revisita estação por estação e incendeia a trama. E está dada a largada providencial.

Se Zarfeg pretendia nos emocionar com um livro leve e divertido, marcado pela aventura, pelo suspense e pela ironia, conseguiu seu intento. E nós, seus leitores, conseguimos matar a saudade de uma época marcante com seus personagens e conquistas. Seus equívocos colossais também. Conseguimos, enfim, nos divertir viajando no trem da história. Ou seria no trem da verossimilhança?



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O livro: Almir Zarfeg. Estação 35.
São Paulo: Lura Editorial, 2021, 152 págs., R$ 34,90
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março, 2022



Edelvânio Pinheiro é jornalista formado em Letras Clássicas e pós-graduado em Ciências Políticas.

 

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