|
Conjunção de corpos
há uma
aderência notívaga
entre
tua mão e meus peitos
uma
urgência notável entre
tuas
pernas
e as
minhas
a
calcinha
arrancada
de súbito e num único fôlego
foi
arrancada de súbito num único fôlego igual
um
espinho
um
esparadrapo
um
decalque
algo
completamente descartável
já
cumprira seu papel
agora
você
vem
hirsuto
(é o que me veio para descrever seu pau)
famélica
(é o que me vem para descrever sua boca)
estricto
(sei lá de onde me veio isso)
nos
procuramos no escuro
às
apalpadelas
à
maneira dos caranguejos de manguezal
Baba!
Ei, cara
estou vestida de
vermelho
pra tua festa em
preto e branco
até o coração vem decotado
quase revelando
o que não deve...
vou furar o colchão de água da
tua língua com meu sapato
de salto agulha
Traça que não
te traça
por absoluta
escassez de coragem
por
ignominiosa lacuna de ousadia
por esfalfante
falta de audácia
de me insinuar
pelas frestas e
colar minha
boca em teu plexo
chupar toda
extensão do teu
pescoço sigo
na escuridão
dos roupeiros mordendo
o pano
me masturbando
ao cheirar
tuas camisas
Fetiche
Chega descalça, vestido branco
e leve
Ele olha ardente os
tornozelos lúbricos
vê um decote ousado no
colo do pé
Pelos ombros ela escorrega o vestido
até o chão, completamente nua...
Ele pergunta:
— Que pudor é esse? Por que os cobriste?
Voyer
pelo vidro
espio você
tomar
capuccino:
lábios na
espuma quente
como
um banho
acho buracos
de fechadura
na sua camisa
me delicia
surpreender
partes do
tórax
abdômen
imagino seu
membro
oculto sob a
mesa
(seu membro,
imagino, um pé de mesa)
meu olho de
vidro é um olho mágico
na espreita
um dia
descobri
suas chaves
escondidas sob
o meu
tapete...
Skinwalker
Vivia
sob custódia
dos
torvelinhos
pernas
separadas à revelia
cada
investida dele
com
odor a vinagres
Transformou-se
(inigualável)
certo
dia
Percebeu-se
no
espelho roto do banheiro
onde
guardam os remédios:
olhar
alumiado, gadanhos,
cabeleira
violenta
Pulou
sobre ele
12
facadas
Fugiu
deixando
pelos
pubianos no caixilho da janela
Todos
atestaram que fora ataque
de
animal bestial
desconhecido
ela
escapou sem nunca saber
e
sem nunca voltar
foi
viver longe
com
os lobos
que
a protegeram ocultos sob o casaco
todos
esses anos
Atentado ao pudor
de que
preciso hoje
que
pese em meu vestido verde MAIS
que um
punhado de maçãs?
te dou
o codinome "Beijo":
minha
boca, naco de pão que mastigas
faminto
até cansar a mandíbula
te dou
o codinome "Mendigo":
enquanto
me farejas afoito lambe
o açúcar
no cantinho dos meus lábios
nos
becos mais recônditos
morador
de rua, sem talheres
nem
guardanapos
você
me come com as mãos
ávidas
e se lambuza
inteiro
às
cinco da manhã alguém abre as janelas
Florescência
aquela menina
era
reduzida
só guardava andrajos de
sorrisos
fiapos de
esperança
reiterados momentos
olhava
aos lados
certificando-se de que ninguém
a
veria tocando-se
sob a calcinha
às vezes,
tinha ânsia de desatar a fita
que
mantém fechado o botão de rosa
|
