Se alguém me perguntasse qual livro poderia comprar para presentear um amigo que gosta de poesia, eu diria: Amar, verbo atemporal: 100 poemas de amor. Mas por que este livro?

Onde mais você poderá ler, lado a lado, poemas de Aleilton Fonseca e Alberto de Oliveira, Antonio Carlos Secchin e Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos e Bruno Cattoni, Cleberton Santos e Casimiro de Abreu, Cláudio Manuel da Costa e Domício Proença Filho, Gonçalves Dias e Marco Lucchesi, Mariana Ianelli e Hermes Fontes, Mônica Montone e Machado de Assis, Olavo Bilac e Raquel Naveira, Raimundo Correia e Ruy Espinheira Filho, enfim, 100 poetas do passado, do presente e do futuro em diálogos explícitos e implícitos na carnadura textual do amor e seus desdobramentos. Canônicos e não canônicos, imortais e mortais, publicados e inéditos, todos reunidos em um único livro, uma saborosa e eclética antologia atemporal. Reunidos pela força do amor. Juntos pela atemporalidade do verbo amar. Irmanados pela construção do Belo. Selecionados pela sensibilidade da leitora, escritora e tradutora Celina Portocarrero, publicada pela Editora Rocco, e já lançada em Rio de Janeiro e São Paulo, já disponível em todas as livrarias do Brasil.

Esta antologia representa um trabalho de grande pesquisa e sensibilidade por parte de sua organizadora, pois temos vários elementos que diferenciam esta publicação de tantas outras que já circulam pelo mercado editorial.

Não somos convidados a leituras já consagradas quando se trata do tema amoroso. Pois Celina Portocarrero fugiu, sabiamente, dos poetas e poemas que se tornaram padronizados em nosso repertório de poesia amorosa. Somos presenteados com a leitura de autores e poemas que acrescentam novas impressões, ritmos e imagens em nossa memória poética.

 Na antologia, temos 100 poemas, sendo 50 de poetas nascidos entre 1623 a 1897, período que corresponde do Barroco ao Simbolismo, e os outros 50 de poetas nascidos entre 1936 a 1989, do Modernismo aos dias atuais. Ou seja, temos um vasto mosaico da poesia brasileira, que durante quatro séculos sempre projetou grandes vozes da lírica amorosa.

E podemos realmente chamar esta antologia de "brasileira"? Os poetas escolhidos representam de verdade o retrato da nossa poesia nacional? Acredito que sim. E defendo que sim.

No poético e conciso prefácio de Celina Portocarrero somos informados ser a antologia "um pequeno quadro da poesia brasileira voltada para o sentimento amoroso". A maioria as antologias que carregam este adjetivo, não passam de pequenas amostras de uma certa região do Brasil, pois seus organizadores confortavelmente acomodados em suas patotas literárias, selecionam apenas os amigos dos amigos, não representando realmente o cenário amplo e diversificado da nossa literatura nacional. Em Amar, Verbo Atemporal podemos ler poetas do Maranhão, Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraíba, Santa Catarina, Paraná, Sergipe, Alagoas, Bahia, Piauí, Goiás, Ceará, Rio Grande do Norte, Pará, Mato Grosso do Sul e Rondônia.

Apresentando grande variedade de estilos e técnicas poéticas, o leitor encontrará o amor encarnado nos versos decassílabos de Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Cláudio Manuel da Costa:

 

 

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada

E triste, e triste e fatigado eu vinha.

Tinhas a alma de sonhos povoada,

E a alma de sonhos povoada eu tinha...

(Olavo Bilac, p. 173)

 

 

Sonhei-te assim, ó minha amante, um dia:

— Vi-te no céu; e, enamoradamente,

de beijos, a falange resplendente

dos serafins, teu corpo inteiro ungia...

(Alberto de Oliveira, p. 29)

 

 

Estes os olhos são da minha amada:

que belos, que gentis, e que formosos!

Não são para os mortais tão preciosos

os doces frutos da estação dourada.

(Cláudio Manuel da Costa, p. 77)

 

 

Ou, nos versos livres e de novas modulações rítmicas:

 

 

Todo afeto é comprometido.

Promessa a dois de receber o contido

naquela bagagem de tantas desfeitas,

de tantos ideais interestelares,

desculpas aceitas, dores descontinuadas...

(Bruno Cattoni, p. 55)

 

 

Sedento,

o vento

roça brando

as águas oferecidas

dos verdes mares

do mundo.

(Domício Proença Filho, p. 79)

 

 

As calcinhas umedecidas de ontem

podem até secar no varal

mas o desejo, não

(Mônica Montone, p. 151)

 

 

A força ou a fraqueza do amor se manifesta através de homens e mulheres que sentiram e continuam sentindo os efeitos líricos deste atemporal sentimento humano em suas oficinas poéticas. E várias são as formas do amor. O amor contemplativo dos poemas de Afonso Celso, Alberto de Oliveira, Humberto de Campos. O amor visceral de Aleilton Fonseca, Salgado Maranhão, Bárbara Lia, Domício Proença Filho, Goimar Dantas, Iracema Macedo, Mônica Montone, Regina Lyra, Ruy Espinheira Filho. O amor metapoemático de Claufe Rodrigues, Paulinho Assunção. O amor filosófico de Antonio Carlos Secchin, Carlos Machado. O amor sublime-inocente nos poemas de Basílio da Gama, Cláudia Cordeiro, Casimiro de Abreu, Francisco Otaviano, Gonçalves Dias, Guimarães Passos, Machado de Assis. O amor conceitual de Carmem Freire, Cruz e Souza, Flávio Morgado, Henrique Rodrigues, Joaquim Serra, Thereza Christina Rocque da Motta. O amor trágico de Euclides da Cunha, Guimarães Junior. E até o amor irônico de Alice Sant'Anna, Bruna Beber, Estrela Leminski, Walquíria Raizer. Todas as formas de amar são possíveis e cantáveis.

Assim, temos uma belíssima antologia que reúne de diferentes tempos e espaços, escritores e escritoras pelo eterno e sublime poder do amor, inspiração atemporal. Um verdadeiro presente aos leitores de poesia, um indispensável luxo para os amantes.

 

 

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O livro: Amar, verbo atemporal. Org. Celina Portocarrero. Rio de Janeiro: Rocco, 2012

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setembro, 2012
 
 
 

 

 

Cleberton Santos. Poeta e professor. Publicou os livros de poemas Ópera urbana (2000), Lucidez silenciosa (2005) e Cantares de roda (2011).