Curimatá

 

 

 

 

ruas de e casas de sol     água na moringa   

aqui tem estrela     cerveja noite inteira (sinuca

contra sinuca) cachaça com cobra     mel na cera

berro à venda sumo de limão amarelo  vaca-preta       

uma pedra alta     coqueiros  &  vendaval      uma

pelada     sempre oito horas    (38 graus à sombra

julho 1997)    enxadas    descanso na rede   preás  

pão  a  doze  centavos  e  meio     andar descalço    

mosquito barbeiro  Bar e Funerária São Pedro

 

 

 

 

 

 

*

 

 

 

eis

não é seguro

nãoqualquer certeza

que a  própria coisa possa estar

mas é preciso insistir

aceder à urgência

da imaginária linha

 

estabelecer um limite?

derivas suturas fraturas

sobrepõem os entrechos

e os mapas:

nãoentrada

ou saída

 

uma incontornável pronúncia

de si para si

coagula

faz do não-lugar

mancha e partida

 

 

 

 

 

 

programa

 

 

 

murros para o futuro

(vão)

inútil tumulto de vultos

 

quase surdo

lúbrico          (vão)

músico atirado ao escuro

 

casmurro, hercúleo

(vão)       obtuso

 

(névoa-nada e fome-de-vento

como escudo)

 

espúrio, rudo (vão)

súbito

nulo

 

 

 

 

[Poemas de Corpo sucessivo. Oficina Raquel, 2008]

 

(imagem ©paul taylor)

 

 

  

 

Danilo Bueno (Mauá-SP, 1979). Reside na cidade de São Paulo desde 2006. Publicou a plaquete Fotografias (Alpharrabio Edições, 2001) e os livros: crivo (Alpharrabio Edições e Fundo de Cultura do Município de Mauá, 2004) e Corpo sucessivo (Oficina Raquel, 2008).