DROPPING SOUTH: BRAZIL

Walking and walking in a mothy robe,
one finger pushing through the pocket-hole,
I crossed the reading room and met my soul,
hunched, spinning downward on the colored globe.
The ocean was the old Atlantic still,
always the swell greened, rushed white, and fell,
now warmer than the air. However, there
red flags forbade our swimming. No one swam.
A lawless gentleness. The Latin blonde,
two strips of ribbon, ripened in the sun,
sleeping alone and pillowed on one arm.
No competition. Only ring of boys
butted a ball to keep it in the air,
while inland, people starved, and struck, and died —
unhappy Americas, ah tristes tropiques!
and nightly in the gouges by the tide,
macumba candles couterd Yemanjá,
tall, white, the fish-tailed Virgin of the sea,
corpselike with calla lilies, walking
the water in her white night gown. "I am falling.
Santa Maria, pray for me, I want to stop,
but I have lost my foothold on the map,
now falling, falling, bent, intense, my feet
breaking my clap of thunder on the street."

 

 

 

 

 

CAINDO PARA O SUL: BRASIL

 

Andando e andando dentro de um pijama cheio de traças,
com um dedo aumentando o buraco do bolso,
atravessei a biblioteca e encontrei a minha alma agachada,
espiralando-se para baixo, entrando num globo colorido.
O oceano ainda era o velho Atlântico,
sempre o arrogante esverdeado, o branco impetuoso e cruel,
agora mais quente do que o ar. Por outro lado, lá
as bandeiras vermelhas proibiram nosso mergulho. Ninguém nadou.
Uma delicadeza anárquica. Uma latina bronzeada,
dois trapos, amadurecida pelo sol,
adormece solitária usando o braço como travesseiro.
Sem comparação. Somente um grupo de meninos
cabeceiam uma bola mantendo-a no ar,
enquanto o povo passa fome no interior, faz greve e morre —
Américas infelizes, ah tristes tropiques!
e todas as noites, arrancadas pela maré,
as velas de macumba cortejam Yemanjá,
alta, branca, a virgem-sereia do mar
envolta em lírios brancos, no seu véu branco noturno,
caminha sobre as águas. "Estou caindo.
Nossa Senhora, rogai por mim. Quero parar,
mas perdi o pé de apoio no mapa,
agora caio, caio, desvio, intenso, meu pés
violam, nas ruas, as minhas palmas violentas."

 

 

 

SKUNK HOUR

                  For Elizabeth Bishop

 

Nautilus Island's hermit
heiress still lives through winter in her Spartan cottage;
her sheep still graze above the sea.
Her son's a bishop. Her farmer
is first selectman in our village,
she's in her dotage.

Thirsting for
the hierarchic privacy
of Queen Victoria's century,
she buys up all
the eyesores facing her shore,
and lets them fall.

The season's ill —
we've lost our summer millionaire,
who seemed to leap from an L. L. Bean
catalogue. His nine-knot yawl
was auctioned off to lobstermen.
A red fox stain covers Blue Hill.

And now our fairy
decorator brightens his shop for fall,
his fishnet's filled with orange cork,
orange, his cobbler's bench and awl,
there is no money in his work,
he'd rather marry.

One dark night,
my Tudor Ford climbed the hill's skull,
I watched for love-cars. Lights turned down,
they lay together, hull to hull,
where the graveyard shelves on the town…
My mind's not right.

A car radio bleats,
'Love, O careless Love…'I hear
my ill-spirit sob in each blood cell,
as if my hand were at its throat…
I myself am hell,
nobody's here —

only skunks, that search
in the moonlight for a bite to eat.
They march on their soles up Main Street:
white stripes, moonstruck eyes' red fire
under the chalk-dry and spar spire
of the Trinitarian Church.
I stand on top
of our back steps and breathe the rich air —
a mother skunk with her column of kittens swills the
garbage pail
She jabs her wedge-head in a cup
of sour cream, drops her ostrich tail,
and will not scare.

 

 

HORA DO GAMBÁ

                        Para Elizabeth Bishop

 

A herdeira ermitã da Ilha Nautilus
ainda vive na sua cabana espartana durante o inverno;
as suas ovelhas continuam pastando pelo mar.
O seu filho é um bispo. O pastor
é vereador em nossa vila;
ela está maluca.

Sedenta por sua privacidade hierárquica
do século da Rainha Vitória,
ela compra todas
as quinquilharias da praia,
e as leva à merda.

A estação está uma bosta-
perdemos o nosso verão milionário,
que parecia ter saído de um catálogo da
L. L. Bean. Seu barco de nove-nós
foi leiloado para pescadores de lagostas.
Uma mancha rubra escaldante cobre a Blue Hill.

E agora o nosso decorador
bicha, limpa a loja para o outono,
sua rede de pesca está repleta de rolhas alaranjadas,
laranja, banquinhos, corujas;
porcarias sem valor,
ele preferiria estar casado.

Numa noite escura,
o meu Ford Tudor escalou o topo da colina,
observei os carros dos enamorados. Luzes desligadas,
eles estavam lado a lado, casco a casco,
onde os túmulos do cemitério adentram na cidade…
A minha cabeça não está bem.

O rádio de um carro bali,
"Amor, Oh! Amor descuidado…" Ouço
o meu espírito-doente soluçar em cada célula de sangue,
como se as minha mãos estivessem em cada uma de suas gargantas…
Eu sou o próprio inferno;
e não há ninguém aqui —

somente gambás que buscam
no luar besteiras para comer.
Eles marcham para a Main Street:
faixas brancas, fogo rubro dos olhos lunáticos
sob a cal seca e a torre espiral
da Igreja da Santíssima Trindade.
Permaneço no topo
de nossa lembrança e respiro ar puro —
a mãe-gambá com uma fila de filhotes emporcalham-se
no balde de lixo.
Ela soca o focinho numa xícara
de creme de leite, deixando seu rabo de avestruz cair,
e não ficará assustada.

 

 

 

DOLPHIN

My Dolphin, you only guide me by surprise,
a captive as Racine, the man of craft,
drawn through his maze of iron composition
by the incomparable wandering voice of Phèdre.
When I was troubled in mind, you made for my body
caught in its hangman's-knot of sinking lines,
the glassy bowing and scraping of my will...
I have sat and listened to too many
words of the collaborating muse,
and plotted perhaps too freely with my life,
not avoiding injury to others,
not avoiding injury to myself —
to ask compassion… this book, half fiction,
an eelnet made by man for the eel fighting

my eyes have seen what my hand did.

 

 

 

GOLFINHO

 

Meu golfinho, só você para guiar-me de surpresa,
um cativo como Racine, o homem dos engenhos,
tragado para o seu labirinto de composição férrea
pela voz vaga e incomparável de Fedra.
Quando eu estava mal da cabeça, você trouxe o meu corpo
preso à corda de forca feita àquela como guia de mergulho,
com todo o cuidado para não quebrar os meus desejos…
Sentei e escutei um monte
de coisas do meu devaneio,
e conspirei livremente com a minha vida,
sem blasfemar injúrias aos outros,
sem blasfemar injúrias a mim mesmo —
para pedir compaixão… este livro, metade ficção,
uma rede para enguias feita pelo homem para o combate de enguias

meus olhos vêem o que as minhas mãos fizeram.

 

 

Tradução de
Marco Aurélio Cremasco