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O homem e sua hora e outros poemas, de Mário Faustino
Org. por Maria Eugênia Boaventura
Editora Companhia das Letras
288 páginas, R$34,00

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No final dos anos 1950, pontificava no jornalismo literário brasileiro uma figura ímpar: o poeta Mário Faustino, nascido no Piauí, e que antes dos 30 anos, além de uma invejável cultura (sabia grego, latim e outras línguas), havia escrito um livro que emocionou minha geração — O homem e sua hora.

 

A par de uma poesia de qualidade incontestável, seus versos, porém, pareciam vaticinar uma tragédia iminente e aérea. Foi o que aconteceu em 1962, quando o avião em que viajava caiu cinco minutos antes de chegar ao Aeroporto de Lima, no Peru, em Cerro de los Cruzes.

 

Morria então uma das maiores promessas da crítica e da poesia brasileira. Faustino brilhou nos tempos do "SDJB - Suplemento Dominical do Jornal do Brasil", ao lado da geração concretista, com estudos e traduções magistrais de Mallarmé, Pound, Eliot, Kafka e outros mestres do século XX, na época ainda não muito conhecidos no Brasil.

 

Seu argúcia crítica antenou jovens como eu que procuravam nas páginas do Suplemento uma palavra de orientação frente as novidades de violentação do verso e as mudanças que anunciavam uma nova arte. E sua poesia — no início, de linha melódico-discursiva, porém consciente da matéria a produzir — aprimorou-se nas conquistas da linguagem poética, apontando sempre para o futuro.

 

A professora Maria Eugênia Boaventura, através da Companhia das Letras, iniciou há algum tempo a publicação de sua obra com a edição deste magnífico O homem e sua hora e outros poemas. Ali o leitor poderá conhecer também vários inéditos de Mário Faustino, e, como eu, maravilhar-se com a diferente, bela e inovadora música dos seus versos, como neste final premonitório contido no poema "Romance" (p. 81):

 

"Não morri de mala sorte

morri de amor pela morte".

 

Ou nos últimos versos do primeiro poema da coletânea, denominado "Prefácio" (p. 71), em que Faustino dá o tom do livro e ao mesmo tempo vaticina, sempre perseguindo o ideal de "poesia e vida minha seguirão paralelas":

 

"Quem fez esta manhã fê-la por ser

um raio a fecundá-la, não por lívida

ausência sem pecado e fê-la ter

em si princípio e fim: ter entre aurora

e meio-dia um homem e sua hora".
 
 
 
junho, 2005
 
 
 
 
Joaquim Branco, poeta, crítico, professor das Faculdades Integradas de Cataguases (MG), doutorando em Literatura Comparada na UERJ. Autor, entre outros livros, de O caça-palavras (poemas) e O menino que procurava o reino da poesia (ficção infanto-juvenil). Mais aqui.