Shih

 

 

O arco de uma figueira desce sobre o meu sono intranqüilo.

Estou perdido, mas conheço este lugar,

que é sempre o mesmo e diferente:

É o meu, desconhecido, lugar.

 

Tenho um mapa na memória

que no entanto muda de segundo a segundo,

reescreve-se sozinho, nunca forma o nome de um país,

um oceano, uma cadeia montanhosa.

 

E como eu tremo no caminho dessa desordem.

Pois meus mortos não estão a salvo, e eu canto.

Estou voltando por um caminho truculento

às coisas simples. Eu canto.

 

 

 

 

 

 

Animais que subiram em mim

 

 

O céu passeia essa manhã com seu gato de nuvem

e eu acordo a jovem ao meu lado com um sopro.

Quero que coisas desconhecidas aconteçam a ela.

 

Ela sorri e é minha para conduzir por meus mapas loucos.

Mas eu, que fui às grandes profundezas e aos céus afastados,

há muito prometi não libertar quem não quiser ser libertado.

 

Penso em todos os animais que já subiram em mim

e que eu deixei viver. Ah, como eles,

não precisar amar de volta o que os amou!

 

 

 

 

 

 

Poema de amor anfetamínico

 

 

            à Vivian Manheimer

 

 

dois cat-lovers na correnteza da noite: já são duas.

acima os vampiros varam o vazio infinito das ruas.

hoje somos marinheiros e uma boate é o nosso ancoradouro,

onde dançamos e somos deuses, como todos os outros.

 

enquanto de uma em uma, como hóstias, te oferto nossas balas,

você me ensina todas as cantadas do mundo, e como aceitá-las.

e você é tão cínica, feito fumaça onde nunca há fogo,

que quando passa, deslizando como um gato pelo Soho,

faz estalar os melhores cristais das casas

e inspira todas as jogadas de xadrez erradas

(como eu, nesta mesma frase, escrevo a frase errada).

 

e é como se nevasse dentro da boate e os teus cabelos

atraíssem todos os flocos e os fizessem negros

(pois em tuas mechas navegam ainda os antigos petroleiros

derramando o óleo denso dos porões nos teus cabelos),

e os teus lábios arrancassem o rubro das paredes e dos cantos

enrubescendo para sempre as asas de todos os anjos.

 

mas você deve não estar pensando em nada agora

e eu vou tentar fazer o mesmo

 

o teu cabelo contém todos os penteados do mundo

e todos os chapéus, do cocar dos Pueblo ao cloche plúmeo.

teus lábios têm correntes pesadíssimas

que puxam os meus, e os satélites, como pontes levadiças.

e do teu corpo feito inteiro com o metal desse universo

saem preces de porcas e parafusos de ferro.

 

todos os arcos e pilares são no prumo dos teus ombros

e os tablados de cadafalso, e a náutica aérea dos pombos.

teus olhos são faróis azuis e quando fecham falta luz na vizinhança

por isso os fótons se agarram a eles como se fossem uma criança.

a tua fala é uma pausa que nunca acaba, apesar de ser só uma pausa

onde Deus guarda as palavras em Sua mais escura jaula.

 

e você está de novo entediada esperando

eu terminar de te escrever

 

você é judia e isso me ajuda a te comparar à Torá:

tuas plataformas são as torres mais altas de Cades-Benir;

em Horebe, teus pêlos são mercados como a mais macia lã;

e as tuas mãos colhem o sêmen como as conchas mais alvas de Basã.

 

 

e eu tiraria uma foto agora se tivesse como nos iluminar no meio de tudo

e não achasse que nem toda a luz do mundo pode te iluminar.

e serão precisos muitos caixões no teu enterro, e rituais e viúvos de luto

para que viajes bem, não assombres os vivos que não te podem amar

 

para mim não fará diferença

uma vez que só nossas sombras sabem se beijar

 

mas você deve não estar pensando em nada agora

e eu vou tentar fazer o mesmo.

 

 

 

 

 

 

*

 

Que simples seria percorrer meu caminho

se ele também não caminhasse, se seu solo

 

não tremesse e ondulasse e cambasse também,

sob o caminhante.

 

A dissolver-se de vista no ópalo da noite,

meu caminho também pensa

 

como eu

ser seu único caminhante.

 

 

 

 

 

 

Moléculas de idéias num pequeno sistema de incerteza

 

 

i.

Como uma alma petrificada tem muita fome,

eu venho de uma longa linhagem

de madeira e pedra.

 

ii.

Deram-me para comer quando nasci

uma palavra com o meu nome

que eu hoje tudo vendo para comprar.

 

iii.

Pois eu sou um pôster pendurado num muro

que não existe, ou então um peixe escuro

tentando pescar o rio.

 

iv.

E as árvores, com quem compartilho

os ativos do município, exibem-me

a seus filhos: "Eis o homem

 

v.

Em que habitamos e que tudo esquece

sobre nós. Submergindo como um seixo

sem deixar suas pegadas no mar".

 

vi.

E porque eu não sei nada sobre o silêncio

ou sobre as estrelas,

eu pagarei Deus com a minha própria morte.

 

 

§

 

 

vii.

A mulher é um lugar

onde cada porta tem um espelho

e por trás um deus que se devora.

 

viii.

Mas toda mulher que alimenta

meus animais com vidro moído

tem o direito de ser um homem.

 

ix.

Por isso é a minha amante como as nuvens negras:

perseguindo-me com braços de fumaça

e flores de fumo.

 

x.

Ela é também como a terra

que me vai cobrindo lentamente,

fossilizando meus frutos.

 

xi.

E ela tem lábios de lápides, onde os mortos

se inscrevem na língua das pedras para viver,

o que a chuva, descobrindo, apaga.

 

xii.

— Que ela perca muitas corridas ainda,

contra muitos outros cavalos,

por muitas outras e muitas vezes!

 

 

§

 

 

xiii.

A noite não se adianta nem se atrasa:

na praça, o pontual pôquer dos poodles

e o brilhinho brega das estrelas.

 

xiv.

Este é o subúrbio delicado dos coadjuvantes:

enfeitado por flores que não se abrem

porque ninguém as chama.

 

xv.

Onde soluço as cinzas do que sempre digo

e as árvores gritam pelos galhos

com uma voz de lenha.

 

 

 

Uma raiz se enlaça ao meu dedo

 

 

uma raiz se enlaça ao meu dedo

como um anel do mundo

estou noivo

e amo de repente

 

meus pensamentos de longe observam

esta sombra que agora se soltou

das outras sombras, que a chamam:

mas todas elas são minhas

 

dizem que o mundo é infinito

vai do último fôlego dos náufragos

aos sonhos secretos de Deus:

mas todos sabem que há um número para isso

 

sim, eu também posso sonhar

uma negra africana vestida com pérolas

boto um beijo onde havia uma corrente

e me recosto à espera do seu amor

 

 

 

 

 

 

Manhã

 

 

Vem vindo, sim, vem

O único sol sobre tudo isso,

Que se levanta, forçado

A levantar-se.

Vem passando na planície

Só, onde eu não estou.

Quem, quem estava em pé

Com todos que esperavam

Levantar-se sobre tudo?

Quem, com todos, forçado

A tudo isso, vinha, sim, vinha

Por trás dos meus olhos?

 

Uma visita

Uma visita veio na manhã.

Submersa sob o sol

Submergindo tudo isso.

Veio porque as árvores cresciam.

Sim, porque oh quanto mundo

Onde eu não estava. Oh mundo

Que sabe ainda onde eu estou.

Ela estava perto e vinha atrás dos olhos,

A visita que caçava na manhã.

Sim, eu vinha e ela vinha, sim

Eu estava perto.

 

Abro os olhos sob o sol, sim

Eles vieram, os restos sagrados vêm.

Colhendo minhas palavras

Sem serem convidados.

O sol vem na manhã, submergido

Sob os restos sagrados: tudo

Está perto e esquecido.

E eu vinha, sim, uma visita,

Uma visita não convidada

Para tudo isso em que não estava.

Sim, eu estava na manhã, mas

Quem, quem lhes diria isso?

 

 

 

 

 

 

Porque eras assim, sob a toalha lunar

 

 

porque eras assim, sob a toalha lunar

e as estrelas debruçadas sobre ti, respirando

as tuas suspeitas noturnas. E ríamos mais

de vinte vezes por noite como

um ator antigo, que despe e veste

o próprio interior: ou como feiticeiros

com delicadas argolas de madrepérolas nos seios.

Mas também, às vezes, éramos barcas

muito pálidas, as proas perdidas no silêncio,

navegando devagar, com uma tristeza aberta e

pura por vento. E as nossas mãos abertas

eram velas, enlaçando, velejando. Nós,

finalmente, reduzidos a nós próprios

ao mesmo tempo.

 

porque eras assim, e mulheres são coisas

que encurvam o talento masculino, que

revolvem antigas palavras gritadas no ar. E

o homem enlouquece nessas lembranças

de uma beleza sangrenta e inexplicável. Às

vezes, na noite interna, o homem constrói

um observatório para essas mulheres, onde

as converte em bichos ferozes doce-

mente feridos: em criaturas de uma

eternidade terrível sorrindo por dentro

da carne fabulosa: como um cervo caçado

por adoradores e feito a própria estátua

de si, emparedado dentro do ouro: forçado

à sua própria imagem. Os olhos mexendo,

presos dentro de sua riqueza des-

afortunada. E admirável.

 

imagino agora teus seios, deitado

no campo, sob a árvore que plantei.

Ou serrei. Ou que levantou-se sozinha

das profundezas de outro mundo, como

a tua imagem agora, onde trabalho. Meus

braços. Meus músculos imaginados, trabalham.

Sobre. Tua boca minúscula. Com uma doce

violência. E eu escolho enlouquecer assim,

bebendo-te lentamente, feito um gato lento bebe,

deitado, a radiação do sol. Ou então arrebatado,

como ondas esparramadas no arrecife. Tanto que

o amor escorre, brutal, quebrando

minha garganta de espelhos.

 

e imagino agora todo o canibalismo

da tua docilidade, de onde emergia

um jardim intenso, onde teus olhos

adotavam nuvens. E eu, um alguém a serviço

dessa terra de borboletas, vivia entre

tulipas, piscinas de pólen, e me deitava

ao zumbido alado da vida intacta.

E enquanto trazias a virgem noite reclinada

sobre teus cabelos, quando a brisa

afaga as flores com doces mentiras, eu

tentava salvar-te de mim mesmo, de tua

terrível eternidade dentro

de mim. Observando. O quieto

navegar de estrelas em teus gestos revelando

que o teu sorriso é o universo

que tomba e te faz cócegas.

 

 

 

 

 

 

De umbra

 

 

§1. Ao contrário de uma imagem, uma sombra se estende sempre à sua origem.

 

§2. Eis a origem das sombras: ao assistir o primeiro sol abocanhar um naco do globo lunar, uma imagem, cansada de se transformar, comeu um pedaço de si própria.

 

§3. Pois intuiu corretamente que o conteúdo de uma sombra negocia-se muito menos com o tempo do que a substância de uma imagem.

 

§4. Logo, a sombra e o contrário de sua imagem não são uma só coisa. A sombra é o substrato manifesto da imagem, não um ente abstrato. Por exemplo: uma sombra expira, segundos após a sua imagem.

 

§5. De fato, uma sombra se suicida, seguindo a sua imagem — assim  como num pôr-do-sol pomposo, em que as sombras de uma tarde, coletivamente, se suicidam no horizonte.

 

§6. Uma sombra expira exatamente como o infinito expira sem a matriz que o concebeu. O trabalho sombrio é conter o infinito. Quem, senão a sombra, separa as coisas que querem continuamente trocar de lugar, expandir-se ao todo, contrair-se ao nada?

 

§7. Portanto é esta sombra a teus pés, agora mesmo, que traça e escolta a tua imagem.

 

§8. Escuta: tu tens um nome, mas considera isso um truque. É a tua sombra que tem o teu nome. Tu te chamas todo o resto.

 

§9. É notável que o leitor e a sombra estejam na mesma delicada posição, enfrentando um perigo duplo de desintegração, entre a luz e a ausência de luz.

 

§10. Por isso é avisado não se deter o olhar muito longamente sobre a sombra, pois esta, como o mar, puxa para baixo os mergulhadores que têm mais segredos.

 

§11. Mas quem conhece a sua sombra esquece um pouco o que crê ser o seu nome, e pode finalmente pelo seu nome ser perdoado.

 

§12. E, finalmente, porque todo filho é para o pai o limite além do qual o Universo se torna inobservável, um pai perde pouco a pouco a projeção da sua sombra. (Minha mulher aguarda agora meu primeiro filho. Seus seios se enchem de leite, eu sei, mas como sofrerei sem meu antigo palácio de poentes.)

 

§13. Estes axiomas parecem-me definitivos, de modo que creio ter encontrado, em todos os pontos fundamentais, a verdade sobre tais problemas. Meditarei a seguir sobre o quão pouco se alcança com a verdade.

 

 

 

 

 

 

Cruzando o rio Yun Pa, rio sob bambus

 

 

um relâmpago traz à força o perfume dos astros

e os bambus acima assobiam

algo doce que faz meu coração menos doce

 

a lua entra na nona constelação; nova ou velha,

não há diferença: as raízes dançam na treva

onde meus olhos não as podem tocar

 

apertei com força as meninas na neve;

leite e favo, não há diferença:

que as fez menos doce a minha boca

 

as perdizes sobrevoam o sampan

algo doce que faz meu coração menos doce

porque minhas mãos não as podem tocar

 

mas brilha no festival a lua crescente,

a esposa que me segue entre as montanhas

e que um dia desbotará para sempre

 

não sei por que me encontro nas terras de Mei

meus amores estão em Ling, oh doces

porque minhas mãos não os podem tocar

 

 

 

 

 

 

Teogonia

 

(Este poema foi escrito 4 anos antes de eu nascer.)

 

Ao Ugo

 

 

I

 

A tinta da noite toca-Lhe os lábios

e Nele amarelece um coração.

Cruzando o jogo bruto das estrelas,

Deus, montado num pássaro chamado Não,

abre por acaso uma biblioteca que sempre vence.

 

E Seus primeiros modelos são dominados

pela vontade de ser o primeiro, de ser um só

com o que sabe, para que tudo que pense

seja o caso. Numa harmonia talvez estranha

para algo vivo, como a de relógios.

 

E assim foi a melhor parte de Sua vida,

dizendo "Oi" para todas as coisas, lá de cima.

Mas quando desceu pelas comportas com as águas

e tremeram as marolas por Seus músculos

de gestação interrompida (Sua mãe fumara muito,

 

Pouco se sabia de gravidez naquela época),

viu nas águas o rosto fundo de Seus 28 anos: o olhar

de homens abandonados, as índias nuas tatuadas

nos braços de marinheiro, as juras entalhadas a canivete,

um ferro-velho de porquês em qualquer canto de Sua boca.

 

Pôs-se então a viver as manhãs artificiais,

como se não tivesse tempo para as coisas

para as quais fora criado. E a morte, amadurecendo

ao longe, espreitava o que nunca tocaria,

porque Ele próprio havia drenado o Seu poder de excitá-la.

 

E de repente, Ele desapareceu.

Simplesmente porque o que estava por trás

O dominou: Ele havia Se tornado prisioneiro

de uma máquina para ver a própria imagem.

E o vento é hoje o navegar confuso de Seus dedos.

 

 

Agora existe inseguramente,

sentindo ciúme da intimidade das mulheres

com seus corpos, obcecado pela vida das pessoas.

Porque na verdade Deus é como as mulheres

que decifram velozmente o alfabeto dentro dos homens.

 

 

 

II

 

A tinta da noite toca-me os lábios

e em mim amarelece um coração.

 

Porque também eu investi

em deambulações, erguendo depressa

a rampa monstruosa de um estilo.

De noite, enlouquecendo meu reflexo,

enquanto eu tentava pensar tudo

ao mesmo tempo.

 

Mas é preciso acolher

esse desaparecimento que madura em mim

sem dar-lhe forma, sem juntar um som sequer

ao que é o céu acima, um museu azul de gritos.

Sem pedir

 

 

 descerra, pai, os nimbos frios e acres

 e eu beberei contigo pelas ruas

 cantando um impoluível desejo de vida

 

 pisa com teu pé meu sorriso e dá-me um sorriso de espuma

 onde dormem coisas tão sem peso

 que de tantas fartarias minha boca de vazio

 

 

E enquanto Deus fertiliza mulheres à noite,

eu canso de trabalhar este vão encontro.

Distraindo-me no pântano das mulheres onde

eu liberto eu crio o encanamento eu invento

o porquê o último táxi dois olhares desgastados

o horário de almoço de deus —

uma criatura que não faz senão babar e ouvir discos de verão antigos.

 

 

III

 

 

Ó crianças de alegria intolerável

criadas para um conhecimento inverso;

 

Ó folhas dispostas ao silêncio,

onde insisto prolongadamente::

 

 

                   assim é o meu Deus, a amante

                   por onde cresço como uma vinha absurda.

 

 

 

 

 

 

Dia 4. um puto uma navalha o lixo de açúcar entre eles

 

 

escrevo-te atarefadíssimo    desde o primeiro instante da viagem dormi com o presságio de que hoje acordaria exatamente como me descreveste da última vez, maldito: um puto uma navalha e o lixo de açúcar entre eles   contei isto a um veado canadense que trabalha como modelo em barcelona e bombeia a luz para pequenos astros   (com um tubo de lona e chifres cinza-sarçais de ácido) e fingimos rir de ti na dimensão das horas bolorentas, enquadradas   rapunzel (lembras?) e olhos-de-poços sustentam-se a base de puxadas de volta da morte   para que tenhas idéia, não serão agora talvez oito horas e acabou-se já a cocaína   o peso dos dentes soerguidos pelo latejo a lava amarinha-se como orvalho, a febre em forma de cama   não distinguimos mais o medo do alívio   tu interessar-te-ás por tudo isso, a mandrana invejosa que és   sabes que logo será preciso fazer algo sobre a viagem   que está prestes a formar o meu nome e que o grande plano é que não haja ninguém em mim

 

 

porém tenho pensado em ficar uns dias a mais em mim, conversando com uma bailarina brasileira que mora aqui há 10 anos, agora grávida de um catalão com quem se juntou e louca para receber uns cheques do governo   esperar talvez crescer-me à boca o sorriso câimbrico do criado-grave   deixar que teu fossilismo encontre ao menos algo quando eu já estiver longe   quando não mais me importará o quanto desunhes meu espólio   escarafunches-lhe o rego   separes-lhe as margens como espécies de filhos   olha, depois de vinte e cinco anos fazendo-te ciúmes digo-te isto: não amo os outros que atravessam em oblívio, como RAPUNZEL   porque se estilamos toxina, às vezes confundimos o curare com a amarílis e embebemos as flechas em flores ao invés de veneno   conheço RAPUNZEL   ele está a dormir e não o acordarei   ele quererá despedir-se de mim   chorará um pouco e logo depois retomará os avios do seu cabúqui interno   adeus, amigo   se obtiver algum sucesso, nunca mais me reconhecerás   [estendo-me   anoto alguns   agora só   fotografo-me tocando fogo em mim]

 

 

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Marcello Sorrentino nasceu no Rio de Janeiro em 20 de agosto de 1975. Segundo a mãe, é um rapaz bom e limpo. Segundo o pai, tem demasiado medo de errar e consome muito álcool. Publicou Um pequeno sistema de incerteza pela 7Letras, em 2006.

 

(imagens ©paulina)