Sem muito perceber, você se vê às voltas
com aquela sonhada viagem à Índia. Talvez não saiba bem os motivos e é
provável que busque repostas ao chegar lá — no meio do caminho, outras
perguntas surgirão. Viver cada momento com atenção plena, diminuir as
expectativas e procurar enxergar a Índia como um país diferente do seu — mas não como outro planeta — são algumas dicas deste viajante.
Certa feita, o monge zen Shitou Xiquan, que
era discípulo do Sexto Patriarca Huineng, também saiu em viagem.
Caminhando, logo conheceu outro monge, que lhe
perguntou:
— De onde você é?
— Venho de Caoxi, o Templo do Sexto
Patriarca.
— E o que ganhou em
Caoxi?
— Nada me faltava quando fui para lá.
— Então, por que foi?
— Se não tivesse ido, como saberia que nada
me faltava?
Abaixo, algumas informações para ajudar a
tornar a sua viagem mais tranqüila e interessante.
a) Quando ir
Depende muito do destino final (Norte ou Sul),
mas no geral é sempre melhor evitar os meses de monções, quando a chuva
alterna-se com o sol e calor, provocando uma sensação de umidade e vapor
bastante desagradável. Os melhores meses são de outubro/novembro até
fevereiro/março. Há também festivais religiosos importantes ao longo do
ano, que devem ser considerados de acordo com seu
interesse.
b) Preparando-se
·
faça as malas
com antecedência;
·
experimente dar
uma volta no quarteirão com as malas já feitas. Isto dará uma idéia
sobre a funcionalidade e peso da sua bagagem. Etiquete as malas com seu
endereço permanente no Brasil (incluindo e-mail e telefone) e endereço
do destino;
·
adquira seguro
de viagem com cobertura total;
·
procure o
consulado para tirar o visto: www.indiaconsulate.org.br;
·
é necessário
vacinar-se contra a febre amarela;
·
durma bem antes
da viagem;
·
uns dois dias
antes, comece a se adaptar ao novo fuso horário, dormindo mais tarde
(Índia +8h30);
·
uma vez no
avião, beba bastante água, caminhe e alongue-se.
c)
Dinheiro
A moeda indiana é chamada de rúpia. Com um
dólar americano pode se comprar aproximadamente 40 rúpias. Ao chegar na
Índia, troque cerca de US$ 200,00, para ir se acostumando ao dinheiro.
Se estiver em grupo, deixe que somente um membro faça o câmbio do
dinheiro de todos, evitando assim, filas e burocracia indiana. Cartões
de crédito (Visa e Mastercard) são aceitos em lojas maiores, e somente
considere a possibilidade de sacar dinheiro em caixas eletrônicos com
seu cartão, em cidades grandes (Mumbai, Delhi, etc).
Para uma viagem de um mês, dependendo do
que pretende comprar e por
onde viajar, de US$ 500
a US$ 1200 estará de bom tamanho. Alguns, que já
viajaram economicamente pela Índia, acharão exagerada esta sugestão,
pois sabem que há sempre possibilidades infinitamente baratas de se
hospedar e de se alimentar — de acordo com o padrão de cada um. Leve
sempre as notas mais recentes de dólares, as antigas não são aceitas.
Certifique-se com o seu agente de câmbio no
Brasil.
Barganhar é um hábito comum entre lojistas
e clientes. As lojas que não praticam barganha costumam avisar
em cartazes.
Mesmo que tenha gostado muito de um objeto, mostre-se
desinteressado. Se o vendedor não oferecer um desconto razoável,
lembre-se de que você poderá voltar à loja noutro dia. Às vezes é comum
que vendedores saiam atrás de você na rua, oferecendo um desconto maior.
Mas observe até quando sua insistência — ou a dele — começa a tornar-se
inconveniente.
Quase todos na Índia esperam que você dê
gorjetas. Vinte ou trinta rúpias aos carregadores de malas nos hotéis é
suficiente. Tenha sempre dinheiro trocado no
bolso.
Para serviços extras, como táxi, combine
antes o preço com o motorista, e não pague além, mesmo que ele levante o
tom de voz. É comum tentarem aumentar o preço, uma vez feito o serviço.
Fale mais alto, pague e deixe o local, evitando discussões. Taxistas
também tentarão levar você a lojas e hotéis de parentes/amigos, onde
ganham comissões. Certifique-se do seu trajeto.
Você pode resolver dar ou não esmolas. Se
der, lembre-se de que, no geral,
sempre haverá muita gente atrás de você, assim que distribuir
algo (seja moedas, balas ou canetas). Guie-se pela sua consciência e
verifique se você e o pedinte não estão no meio de uma
multidão.
d) Levar daqui ou comprar
lá?
Não há como definir exatamente o que levar ou
não. Pense sempre que é melhor viajar com menos peso, contando com a
possibilidade de embarcar em trens e ônibus. Lembre-se que você deverá ser responsável
pela segurança e carregamento da própria bagagem.
Contrariando a idéia de que a Índia é um país
atrasado, há quase de tudo para se comprar por lá. Há muitas
farmacinhas, mesmo em cidades grandes, que têm uma variedade enorme de
produtos. Mas não espere encontrar seu remédio usual, com a mesma caixa
e nome, ainda que seja fabricado por um laboratório
estrangeiro.
Você pode interagir com os hábitos locais, por
exemplo, utilizando os sabonetes e cremes dentais da região, que muitas
vezes têm ingredientes naturais e um gosto/cheiro bom de Índia. Há uma
marca de produtos ayurvédicos chamada Himalaya que oferece quase tudo
que você possa precisar em termos de cosméticos e medicamentos. Mas se
você já esta muito acostumado com seus próprios produtos, talvez seja
melhor não se arriscar. Absorventes íntimos não são comuns. Há papel
higiênico nos hotéis, mas são difíceis de se encontrar à venda, além de
custarem caro.
Se você lê em inglês (ou em hindi, punjabi,
tamil, etc) aproveite a viagem para comprar livros, que custam muito
menos do que aqui. Se for despachar os livros pelo correio, guarde as
notas fiscais, para poder retirá-los na alfândega do seu país, no caso
de ficarem retidos. Há cds baratos e lojas que os
pirateiam.
Leve roupas leves e fáceis de lavar. Se pretende
utilizar as lavanderias dos hotéis, devo avisar que quase sempre recebi
alguma peça trocada. As mulheres devem levar roupas que cubram os ombros
e tornozelos. Mangas longas e calças — para ambos os sexos — evitam
picadas de insetos. Os indianos acham estranho homens adultos que usam
shorts/bermudas, pois lá são roupas de crianças. Leve também um calçado
fácil de colocar, sem cordões, para entrar e sair com mais facilidade de
templos, casas, etc, pois na maioria dos locais é necessário tirá-los.
No geral, leve roupas já usadas, às quais você não tem muito apego, que
inclusive poderão ser doadas
aos indianos — para criar mais espaço e deixar sua bagagem mais
leve na volta. Para não sair com mala pesada de casa, experimente
comprar e usar as roupas locais, logo ao chegar na Índia, o que pode ser
muito divertido, barato e útil. Assim sendo, leve:
·
medicamentos de uso
pessoal (consulte o item Saúde);
·
absorventes íntimos e
lenços umedecidos;
·
artigos de toillete;
·
gel para desinfetar
as mãos;
·
hidrosteril para
purificar água;
·
barras de cereais
(para os primeiros dias);
·
boné;
·
óculos de
sol;
·
máquina fotográfica e
filmadora (se vai levar equipamentos eletrônicos que necessitam de
declaração, chegue antes ao aeroporto para passar pela Receita Federal);
·
livro para ler no
avião/aeroporto;
·
caderneta/diário para
anotações;
·
traje de banho
conservador;
·
um jogo de roupa de
cama e toalha de banho (há locais onde não poderá contar com este
conforto);
·
despertador
(funcionários de hotéis são conhecidos por não acordarem os hóspedes na
hora combinada);
·
alguma malha mais
quente para as cidades mais próximas aos
Himalayas;
·
cadeado e corrente
para prender malas (nos trens e hotéis);
·
sandálias;
·
pochette;
·
cópia do passaporte e
da passagem;
·
cartão de crédito
internacional;
·
adaptador de tomadas
(nos hotéis há geralmente secador de cabelos) A voltagem é
220;
·
lembranças do Brasil,
para dar de presente aos indianos (chaveiros com bandeirinhas, moedas,
notas de R$1);
·
lanterna;
·
discman, mp3 ou
iPod;
·
protetor de ouvido e
tapa-olhos (para dormir nos trens);
·
ao sair às ruas, leve
consigo papel higiênico e/ou lenços umedecidos;
·
coloque nas malas
etiquetas com identificação e fitas coloridas, para reconhecimento nos
aeroportos;
·
no avião, leve uma
malha confortável para o caso de sentir frio;
·
guarde tudo de valor
(passaporte, dinheiro, passagem) num money belt, na cintura;
·
não coloque
instrumentos de corte na bagagem de mão nos aviões, mesmo em vôos
domésticos;
·
leve uma mochila
menor para andar pelas ruas. Além disso, tenha sempre duas malas,
considerando que, ao viajar, você pode deixar a maior no guarda-volumes
do hotel e levar consigo a menor (nos trens e aviões).
e) Saúde
As condições da higiene na Índia são diferentes
das nossas. Desprenda-se de seus padrões ocidentais e evite comparações,
para poder usufruir melhor da viagem. Por precaução, para alegrar os
mais hipocondríacos, listamos alguns medicamentos que talvez você queira
levar, além de outros cuidados necessários:
·
antiinflamatório;
·
analgésico;
·
antitérmico;
·
antiemético
(vômitos);
·
antidiarréico;
·
repositor da
flora intestinal;
·
vermífugo;
·
cicatrizante e
band-aids;
·
vitamina C
(auxiliar na recuperação de desgastes físicos);
·
protetor solar (há na
Índia, mas não é muito comum);
·
repelente de
insetos;
·
protetor
labial;
·
escove os dentes
com água mineral, a não ser que já esteja muito habituado com a
Índia;
·
tenha sempre as
mãos bem limpas. Aproveite o hábito local e divirta-se, comendo com as
mãos.
f)
Comida
Esqueça-se daquele restaurante indiano que
você visitou num shopping
center qualquer de sua cidade — a comida nativa é muito mais apimentada. Há sempre, porém, hotéis e
alguns fast-foods que servem
comida quase ocidental e sem pimenta. Uma vez acostumado, saboreie uma
das culinárias mais inventivas do mundo:
·
descasque as
frutas antes de comer;
·
não use gelo nas
bebidas (nunca saberá a procedência da água);
·
deixe algumas
rúpias de gorjeta, em geral, não é necessário calcular 10%;
·
confira sempre
se a água mineral está lacrada;
·
bebida alcoólica
não é comum e, em alguns estados, prevalece a Lei Seca. Restaurantes
mais ousados arriscam servir cerveja — às vezes, disfarçada em bules de
chá;
·
há locais para
se tomar café basicamente em cidades grandes ou em hotéis, portanto, vá
preparado para um eventual jejum de cafeína. O chá preto é um bom
substituto;
·
normalmente não
há carne bovina na Índia. Frango, peixe e carneiro podem ser encontrados
em restaurantes descritos como non veg. Mas rememore aquela sua
admiração por Gandhi e experimente virar vegetariano por alguns dias — bom para você e para os animais;
·
frutas secas,
nozes e castanhas encontram-se nos mercados e podem ser um bom descanso
ao seu estômago. São excelente fonte de proteínas, assim como o queijo,
o ghee (manteiga) e o
iogurte, presentes em quase todas as refeições.
g)
Etiqueta
Evite tocar a cabeça de pessoas e crianças. Ao
sentar-se no chão, não aponte os pés para seu interlocutor. Restrinja o
contato físico em público com seu parceiro/parceira. Lembre-se de que
não é comum indianos de sexo oposto se tocarem e/ou beijarem-se
publicamente. Há muitos homens que andam abraçados e/ou de mãos dadas
pelas ruas, mas isto deve ser encarado como um ato de amizade. O
homossexualismo masculino é crime e pode levar à
cadeia.
Não dê atenção aos vendedores de rua, e não
se distancie muito de seu grupo, se alguém quiser levá-lo a uma loja.
Seja gentil — mas firme — ao dizer "não" aos mais
insistentes.
Na dúvida, entre sempre sem sapatos nos
locais. Há regras específicas ao se visitar templos — os sikh (aqueles de barba e
turbante) irão pedir aos
homens que cubram a cabeça, por exemplo. Peça sempre permissão antes de
tirar fotos — de algo, de alguém e de algum lugar. Nunca fotografe nem
filme cremações.
Use somente a mão direita para comer, caso
resolva comer com as mãos. Normalmente, ao tomar água de uma
jarra/garrafa compartilhada, os indianos o fazem de um jeito a não tocar
o recipiente com os lábios.
h)
Segurança
Nos aeroportos, caso esteja numa excursão,
fique perto do seu grupo/guia e mantenha sua bagagem junto de você. Ande
sempre com a lista de hotéis onde o grupo estará hospedado e não saia
sem um cartão do
hotel.
No geral, a Índia é segura e sem violência.
Mulheres que viajam sozinhas devem redobrar o cuidado com indianos
despudorados, mas em muitos casos, basta que se arme um pequeno
escândalo, para que eles sumam.
Há casos de furtos de mochilas e bolsas nos
trens. Jamais deixe a sua sozinha num banco. Se você não confiar no
indiano que te oferece algo para beber e/ou comer — o que ocorre com
muita freqüência nos meios de transporte — seja gentil e diga
"não".
O trânsito é caótico na maioria das
cidades, com animais no meio das vias, que são estreitas e dão a
preferência sempre aos veículos maiores. A mão de direção é a inglesa,
portanto, só se arrisque a dirigir caso seja realmente necessário.
i)
Comunicação
O sistema telefônico, em geral, funciona
bem. Em cabines nas ruas, com as placas STD ISD PCO, há uma espécie de
taxímetro, que marca quanto você deve pagar, enquanto fala. É muito mais
barato do que usar o telefone do hotel. Lembre-se sempre do fuso horário
do Brasil ao ligar para cá (-8h30).
A internet normalmente é lenta e nem sempre disponível.
O famoso namaste/namaskar é um
cumprimento religioso que serve somente aos hindus, mais de 80% da
população. Aos muçulmanos utilize
saalam aleykãm, e aos
sikh cumprimente com saat shiria kaal. Na dúvida,
diga simplesmente hello. Os
indianos são muito curiosos e hospitaleiros. Vão querer saber de onde
você é, se é casado(a), se tem filhos, sua profissão, nome completo, o
que acha da Índia, etc. Não encare isso como uma indiscrição. Lembre-se
de que o inglês também não é a língua materna deles, portanto, seja
paciente e educado.
A língua oficial mais falada na Índia,
depois do inglês, é o hindi, uma língua indo-européia — como o
português. Utiliza o alfabeto devanagari — aquele no qual o sânscrito
foi mais escrito — e é divulgada amplamente pelo cinema bollywoodiano.
Embora haja quase 20 línguas oficiais e
alfabetos bem distintos, vale a pena aprender algumas expressões básicas
e também o som das letras do alfabeto devanagari antes de embarcar. O
site abaixo, de uma universidade australiana, ensina passo a
passo:
http://www.anu.edu.au/asianstudies/hindi/index.html
j)
Filmes &
livros
Há alguns dvds
disponíveis para locação no Brasil, para quem quer saber de antemão o
que pode encontrar na Índia. Outros, talvez prefiram não ver nada até
aportar por lá. Em todo o caso, ficam algumas dicas:
·
Lagaan — A coragem de um povo
·
Passagem para Índia
·
Gandhi
·
O Motim
·
Nascidos em
Bordéis
·
Missão Kashimir
·
Asoka
·
Casamento à Indiana
Livros
·
Tentações do Ocidente — Pankaj Mishra
·
O Deus das Pequenas Coisas — Arundhati Roy
·
Esta Noite a Liberdade — Lapierre &
Collins
·
Vislumbres da Índia — Octavio Paz
·
Cabine para Mulheres — Anita Nair
·
A
History of India — Romila Thapar
k)
Guias
Em janeiro último, fui presenteado em Goa
com o guia India — Lonely
Planet. Amplamente ilustrado, com fotos e mapas, tem sido bastante
útil. Para saber tudo sobre a cultura indiana, fique com Índia — Um Olhar Amoroso, de
Jean Claude Carrière. Obra de um ocidental que conhece aquele país como
poucos, um misto de dicionário e crônicas de
viagem.
l)
Sites
Sobre a Índia, mapas, jornais online e todo o tipo de cultura
local:
www.germinaliteratura.com.br/india.htm
www.himalayahealthcare.com
www.incredibleindia.org
www.khoj.com
www.mapsofindia.com
www.onlinenewspapers.com/india.htm
m) Fontes
www.raidho.com.br
www.venturas.com.br
www.lonelyplanet.com
