©hilton archive
 
 
 
 
 
 
 
 
 

ADF

 

Gostaria de começar fazendo a resenha do novo cd do Asian dub foundation (para se familiarizar, leia o artigo A desconstrução de clichês e outros barulhos, deste mesmo autor), mas ele ainda não foi lançado deste lado do Atlântico. Só sei que se chama Tank e que não seria comercializado nos EEUU como boicote à política Bush. Esses meninos...

 

 

BOLLYWOOD

 

Tão inusitado que merecia maior destaque. Nosso Consulado e o Centro Cultural de São Paulo organizaram em março uma mostra de raridades de Bollywood, em cópias novas! Da década de 50 aos anos 90, onze filmes representativos da idiossincrática maneira indiana de se fazer cinema. O público paulistano agüentou firme as três ou até quatro horas de duração de cada filme. Conterrâneos prestigiando, saris esvoaçantes nas escadarias do CCSP. Coisa linda!

 

 

BOMBAIM

 

Pois a Índia vai bem, thanks. Um professor amigo, que acaba de deixar no aeroporto de Guarulhos a poeira que trouxe, me disse que Bombaim (que agora se chama Mumbai) parece outra coisa, depois de dois anos de ausência. A Marina Drive, avenida beira-mar, limpíssima. Carros modernos e novos. E a tendência, infelizmente, é que os preços subam. Ainda assim, se comparada à São Paulo, Mumbai é barata. Jovens turistas ainda podem se hospedar no albergue do Salvation Army por poucos dólares, com café da manhã e jantar (fica a dica).  Há cinemas e danceterias legais no bairro chamado Colaba, que é o lugar onde vale a pena ficar. A juventude descolada se encontra nos cafés (ao estilo McDonalds), vestidos à maneira ocidental. As tevês exibem jogos de criquete e todo mundo passa horas nestes lugares, já que na Índia, meu amigo, o tempo é medido de outra maneira. Time is money, e por isso mesmo vale a pena ser desfrutado.

 

 

TIGRE ASIÁTICO

 

Noutro dia, na imprensa brasileira, me chamou a atenção um artigo sobre a China e a Índia, traduzido do Financial Times. Fiquei me perguntando até que ponto era pertinente a comparação econômica entre dois países que são tão diferentes, apesar de vizinhos.

       

É sabido até por aqui que a Índia tem crescido economicamente, mais do que o Brasil. Houve boas políticas socialistas (e outras de amargar, mas isso fica pra outro artigo), o que ajudou na distribuição de renda e fez melhorar um pouco as condições de vida de populações castigadas pela pobreza.  Investimentos externos e um bom nível de educação (para aqueles que podem estudar) ajudaram a colocar a Índia no competitivo mercado mundial.

       

Mas a China, cara pálida, é outra coisa. Me sinto um pouco autorizado a falar pois fui criado como socialista, tenho amigos no Partido Comunista Marxista de Kerala (pois sim, há outro partido indiano comunista não marxista),  e já pude vivenciar  um pouco o comunismo latino-americano. Na China, tudo o que era de direito foi desrespeitado. Houve canibalismo por fome nos anos 50. Quiseram acabar com a estrutura familiar em nome do Estado. Invadiram o Tibet, mataram 1/3 da população, obrigaram monges a cometer estupros e homicídios e destruíram templos budistas milenares. Ainda hoje, o Nepal corre o risco de ser anexado à China, se guerrilhas maoístas tomarem o poder (tudo isso em nome da "libertação" dos povos amigos). Assim, a China aumentaria as fronteiras com a Índia. E é claro que os USA fazem vistas grossas, pois há o grande mercado consumidor chinês e é mais seguro invadir o Iraque.

        

E o que tem isso a ver com economia? Ora, a Índia é a maior democracia do mundo enquanto a China tem um monte de escravos, que trabalham sem opção, apesar de haver por lá alguns milionários também. Sendo assim, é fácil conseguir exportar (já que a mão-de-obra é barata) e crescer economicamente. Ou seja, apesar de ambos seguirem políticas socialistas ou com tendências socialistas há mais de 50 anos, a maneira de executá-las é muito diferente. Por isso até me irrita ver a comparação entre os dois países (com todo respeito à sabedoria do povo chinês), cujas similaridades se limitam ao fato de serem asiáticos, milenares e de terem as duas maiores populações do mundo. Não entendo muito de economia, meus argumentos são até infantis, mas talvez sejam os mesmos da maioria dos indianos. Talvez se a China não tivesse tomado as políticas repressoras que tomou (lembrem-se do ópio) ela fosse hoje uma Índia, cheia de indigentes e analfabetos. Mas agradeço aos deuses todos os dias o fato de a Índia não ter, entretanto, se transformado numa China.

 

 

TSUNAMI

 

O pós-natal foi indigesto nas imagens. Corpos pra todos os lados, mães chorando por filhos perdidos, crianças sem pais, gente sem casa nem emprego. Ricos suecos, miseráveis indianos e tailandeses, todos na mesma situação. Algumas coisas deixam a gente sem resposta. E sem Deus.

 

 

 

abril, 2005

panditgaram@yahoo.com.br