Só depois que a peônia
Se desfolha e cai
Ela pode ser mais bela.
 
 
 

A noite veio mais cedo.
As estrelas brilham
Sobre o pântano desolado.
 
 
 

Flores de chá.
São brancas? São amarelas?
Quem poderia dizer?
 
 
 

 
 

Gritou três vezes
E não foi mais ouvido:
O gamo na chuva.
 

Traduções de Paulo Franchetti
 
 
 
 
Lentos dias se acumulam —
Como vão longe
Os tempos de outrora!
 
 
 

Mar de primavera —
O dia todo
Lentamente ondula.
 
 
 
 
 
A sensação de tocar com os dedos
O que não tem realidade —
Uma pequena borboleta!
 
 
 

Flores de colza —
A lua no leste,
O Sol no oeste.
 

 
 
 

Quando a lua se move para oeste
A sombra das flores
Caminha para leste.
 
 
 

Com a luz do relâmpago,
Barulho de pingos —
Orvalho nos bambus.
 
 
 

Partem os barcos —
Como ficam distantes
Os dias de outono!
 
 
 
 

Entardecer de outono —
Ainda mais solitário
Do que no ano passado.
 
 
 

Uma pessoa
Visita outra pessoa —
Entardecer de outono.
 
 
 

Lua de outono:
Nos cantos escuros
A voz dos insetos.
 
 
 

As libélulas,
A cor destes muros:
Que saudade da terra natal!
 
 
 

Cortado o arroz,
O sol de outono
Brilha no capim.
 
 
 

 
 
 

O ruído do rato
Andando pelo prato.
Que frio!
 
 
 

Sem barulhos, sobre o musgo,
A chuva do início do inverno —
Como eu me lembro dos tempos antigos!
 
 
 

Anoitece mais cedo —
E as estrelas brilham
Sobre os campos secos.
 
 
 

Ah! O chá
Também diz "dabu, dabu"
Nestas dez noites.
 
 
 

Quando venta do oeste
Amontoam-se a leste
As folhas mortas.
 
 
 

Traduções de Paulo Franchetti e Elza Taeko Doi, em Haikai — antologia e história (Campinas: Editora da Unicamp, 1990)
 
 
 
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