Ah, lua cheia!
Nem mesmo um rosto bonito
Entre os presentes...

 


Por este caminho,
Ninguém mais passa —
Tarde de outono.

 


Recolhendo toda
A chuva do mês de maio
Corre o rio Mogami.

 


Num galho seco,
Um corvo pousado.
Tarde de outono.

 


Apesar do sol
Ardendo sem compaixão,
O vento de outono.

 


Vento cortante —
Se esconde em meio ao bambu
E desaparece.

 


Venerável
É quem não se ilumina
Ao ver o relâmpago!

 

 

 

A libélula,
Sem conseguir se agarrar
A uma folha de capim.

 


Que tocante!
Debaixo da armadura
Sai um grilo.

 


A flor
Da beira da estrada
Foi comida pelo cavalo.

 


"Viajante"
Poderia ser meu nome —
Primeira chuva de inverno.

 

  

 

Normalmente feios
Até os corvos ficam belos
Na manhã de neve.

 


Não se esqueça
Do gosto de solidão
Do orvalho branco.

 


Doente de viagem,
meus sonhos vagueiam
pelo campo seco.

 


Anoitece no mar —
Os gritos dos patos selvagens,
Vagamente brancos.

 


Cem anos de idade —
A paisagem das folhas
Caídas no jardim.

 


As cebolinhas
Lavadas e tão brancas —
Que frio!

 

 

Mesmo em Quioto,
Saudade de Quioto —
O canto do cuco ...



 

 

Quietude —
O canto das cigarras
Penetra nas rochas.



 

 

Nada indica
Que ela vá morrer —
Canta a cigarra.



 

 

Tudo o que restou
dos sonhos dos guerreiros —
Capim de verão



 

 

Já é primavera —
Uma colina sem nome
Sob a névoa da manhã.



 

 

Tão mirrada,
De tanto arroz e cevada,
A gata enamorada.

 


 

 

À cotovia,
Que canta sem cessar,
O dia inteiro não basta.



 

 

Ah, quanta saudade
De meu pai e minha mãe
Na voz do faisão.



 

 

Acorda, acorda!
Vem ser minha amiga,
Borboleta que dorme!



 

 

 

O velho lago...
O ruído do salto
Da rã na água.

 

(imagens: selos japoneses)

 Traduções de Edson Kenji Iura
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