Yo soy el sexo de los condenados.
No el juguete de alcoba que economiza vida.
Yo soy la amante de los que no amaron.
Yo soy la esposa de los miserables.
Soy el minuto antes del suicida.
Sola de amor, mas nunca solitaria,
limitada de piel, saco raíces...
Se me llenan de ángeles los dedos,
se me llenan de sexos no tocados.
Me parezco al silencio de los héroes.
No trabajo con carne solamente...
Va más allá de digital mi oficio.
En mí labor hay un obrero alto...
Un Quijote se ahoga entre mis dedos,
una novia también que no se tuvo.
Yo apenas soy violenta intermediaria,
porque también hay verso en mis temblores,
sonrisas que se cuajan en mi tacto,
misas que se derriten sin iglesias,
discursos fracasados que resbalan,
besos que bajan desde el cráneo a un dedo,
toda la tierra suave en un instante.
Es mi carne que huye de mi carne;
horizontes que saco de una gota,
una gota que junta
todos los ríos en mi piei, borrachos;
un goterón que trae
todas las aguas de un ciclón oculto,
todas las venas que prisión dejaron
y suben con un viento de licores
a mojarse de abismo en cada uña,
a sacarme la vida de mi muerte.

 
                                                                                                            (imagens ©aldo palazzolo)
 
 
 
 
 
 
Eu sou o sexo dos condenados.
Não o joguete de alcova que poupa vida.
Eu sou a amante dos que não amaram.
Sou a esposa dos miseráveis. 
Sou o último minuto do suicida.
Largada de amor, mas nunca solitária,
de pouca pele, mas lanço raízes...
Enchem-se de anjos os meus dedos,
enchem-se de sexos não tocados.
Pareço-me com o silêncio dos heróis.
Não trabalho somente a carne...
Vai além do tato o meu ofício.
Trabalha comigo um operário alto...
Um Quixote se afoga entre meus dedos,
uma noiva também, que não se teve.
Eu sou apenas o violento elo,
e há versos em meus espasmos,
sorrisos que se coagulam em meu toque,
missas que se dissipam sem igrejas,
discursos fracassados que resvalam,
beijos que se curvam do crânio ao dedo,
toda a terra suave num instante.
É minha carne que foge de minha carne;
horizontes que invento de uma gota,
uma gota que reúne
todos os rios em minha pele, bêbados;
uma enorme gota que atrai
todas as águas de um ciclone oculto,
todas as veias libertadas,
e sobem numa lufada de licores,
a molhar-se de abismo em cada unha,
a arrebatar-me a vida de minha morte.
 
 
 
(Tradução de Silvana Guimarães)