Quando a conheci, as andorinhas brincavam no estreito espaço entre meu prédio e a praça Buenos Aires, apesar de ser inverno. Ela caminhava abraçada à filha, uma menina magra, levemente corcunda, cuja pele tinha a coloração das coisas amargas ou mortas. As últimas chuvas haviam limpado a poluição do céu, deixando que o azul translúcido nos enganasse, mais uma vez, com sua promessa de felicidade. Ela, ao contrário da filha, caminhava grandiosa, mas sem imponência, sem arrogância. Seu corpo transmitia um influxo generoso, quase maternal, uma promessa de aconchego e calor, de umidade e sofrimento. Ruiva, os cabelos crespos abriam-se, brilhantes, como um leque no qual alguém houvesse bordado com fios de cobre. E os olhos... Ah!... Grandes, verdes, explodindo no rosto oval, levemente corado, encimados pelas sobrancelhas grossas em que víamos se repetir o mesmo tom dos cabelos. Medi seu corpo enquanto ela caminhava sob as árvores: os seios pesados sob a blusa vermelha e justa, a calça amarrando as carnes do traseiro agressivo e das coxas que me fizeram apertar as mandíbulas, desejando mordê-las. Que fêmea! Um animal perfeito para espancar e amar, para agredir e acariciar, para desprezar e, passadas poucas horas, possuir novamente. Atravessei a rua e cumprimentei-a. Caminhei ao seu lado enquanto ela arrastava atrás de si aquela menina que era apenas mais uma falha da nossa espécie. Seus dentes eram claros, e seriam perfeitos se os caninos não fossem tão desagradavelmente pontiagudos. Mas a boca abria-se como um túnel de promessas loucas, desenhadas de antemão pelo batom vermelho. E a voz, tenra como a carne que eu ansiava agarrar, prometeu-me um novo encontro no dia seguinte.

         O mesmo sol nos descobriu mais algumas vezes nas esquinas da praça com a avenida Angélica, até que, em certa manhã, ela aceitou meu convite para um café no apartamento. Subimos, levando a tiracolo a idiota. O café, confesso, ficou pela metade na xícara sobre a mesa de centro. Agarrei-a ali mesmo, no sofá de couro, e ela me presenteou com uma igual urgência. Por pouco não rasguei suas roupas. Lutávamos entre o sofá e o tapete, enquanto a menina, sentada a uma poltrona, assistia tudo, babando com mão enfiada na calça, esfregando a boceta.

 

         Jamais vi rabo igual ao da mãe. Um poço de lava fervente de onde emanavam gases venenosos. Seu cu era uma boca animalesca cuja musculatura deglutia meu pau, ao mesmo tempo em que eu me agarrava aos seios que tocavam o tapete. Ela berrava como uma porca arrastada ao sacrifício, seus gritos ecoavam pelo apartamento, saíam pelas janelas e eu me divertia imaginando-os como nuvens carregadas de relâmpagos a cobrir toda a praça. Agarrei-a pelos cabelos e, enterrando o cacete na carne lodosa, espanquei-a nas costas, na cabeça, nas nádegas, enchendo-a de tapas e deliciando-me com seus gritos de louca. Para gozar, ela enfiou quase a mão inteira na boceta, estrebuchando em acessos que me pareciam ataques de epilepsia. E quando eu me preparava para fodê-la na frente, ela se afastou de mim, calma, sorridente, agradecida, olhou o cacete vibrando sujo de merda, fez-me sentar no sofá, encostou seu corpo ao meu e sussurrou:  — Agora, o seu presente. A um sinal da mãe, a menina pulou para o chão e veio, arrastando-se como um verme trêmulo na minha direção. Debruçou-se sobre as minhas coxas e me engoliu com a boca disforme e pegajosa. Sem esperar um segundo, a mulher arrancou a cinta da minha calça e começou a espancar a criatura. Era inacreditável, mas a garota sorria a cada lambada, massageando a boceta sem descuidar das chupadas. E a mãe, de pé ao nosso lado, sorrindo, enigmática em sua beleza grandiosa, com a perna esquerda sobre o sofá, enquanto batia no verme, masturbava-se com a outra mão. Uivávamos como uma matilha de cães raivosos. Eu via caírem sobre mim as chamas daquela cabeleira esvoaçante. E nossa cadelinha engolia a minha porra, sorrindo e gozando sob as cintadas que só o amor pode conceder.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

(imagem ©theo berends)

 

 

 

 
 

Konstantin Gavros cresceu no Brás, em São Paulo, sob uma dupla influência: a cultura literária da mãe, uma professora primária que adorava ler poesia grega e francesa, e os ideais políticos do pai, um comunista como o avô, que lutou na Grécia ao lado de Markos Vaphiadis. Tem textos espalhados pela web, mas principalmente em seu blogue A verdade é o sexo, o sexo a verdade, cujo título é inspirado no polêmico verso de John Keats: "Beauty is truth, truth beauty".