atalhos de sobreviver
Como se não fosse detê-la
nenhum vento
aprontou-se para a luta
talhou armadura
em
dor
Fez do labirinto interno
via de urro
e ternura
molde robusto
de
flor
favo do inconsciente
A casa dos meus sentimentos se
parece
com aquela morada de abelhas
muitos buracos juntos
uns dos outros
sem que se possa mesmo distinguir
porque
ou quando
cada um deles foi-se
abrindo
ou se juntando
e construiu um quebra-cabeças
quase inviolável
colado no mel
adeus às cinzas
De cinzas
agonias e paixões
ao cair de tardes já cansadas
de
sonhos flutuando aos turbilhões
perdendo-se no meio de
cantatas que soam
qual Bolero de Ravel
Para lutar
como que
pendurado em sua estrada
juntando pedacinhos pela
trilha
e forças para começar outra viagem
Oh dor de trazer grudada junto
ao peito
uma enorme estrela de Davi
a brilhar em outro
tipo de cenário
A falar baixo coisas de quase
estremecer
para o inquilino
que lá dentro
mora
Seria mesmo bobo o
coração
ou será que não havia mesmo chegado sua hora?
De levantar o mais bonito
e
derradeiro vôo
daquele tipo de não mais escorregar
de
nunca mais verter nenhum orvalho
chuva
forte
para que a planta pudesse
respirar oh alma
terna
E no final apenas
uma cerimônia
onde se queimam cinzas e tristezas
[tal qual hindus envoltos em seus panos
Legado de paixões que
soçobraram
adubo de bonitas plantações
ração para
peixinhos coloridos
E o Adeus
a todos
desenganos
alma naïf
Na minha casa estão
um quartinho de jantar
uma sala de dormir
tudo assim
trocado mesmo
Na minha mente está
a
vontade de cantar
de fugir dessa corrente
de ganhar novo
oriente
num navio
num
trenzinho
num abraço
ou num pedaço do teu
ninho
de mais divagações sob essa lua
Há uma coisa de animal
no
brilho dessa lua
que vem cobrir a pele tua
em simbiose
tátil
e te faz réptil
te
transforma n'alguma coisa nua
a arrastar-se e
arranhar-me
porém sem sulcos a deixar
em minha carne
Imensas e enormes taças
de bebida entorpecente
a despejar tal qual
serpente
em mim
sementes
que nem pensam vicejar
ou
viciar
Lua
domínio
dominó
mares e crateras no cristal repousam
dosagem
lúcida de fogo
ateias
pó indecifrável
que
ousa derramar-se
em minhas
veias
acalanto aos pensamentos de um
final
Assim como uma luz
meio sem
forma
está entrando em limiares de colunas
cheias
salinas e desconcertantes
tu apareces
como se
dali de onde cuspido foste
mensagem te viesse
de
que nada poderias fazer para voltar
E rugas aparentas ter
como
se de pele antiga fosse composta tua face
para que em
processo
rápido audaz
quase um milagre
lisa
em
pouco tempo ela acabasse por ficar
Como se a própria Vida
num palco
se esticasse
E assim começa a esquisita
caminhada
para o fim
e ainda que não possas enxergar em meio
às névoas
elas se dissiparão
e tu alcançarás com certa
nitidez
uma das verdades que em
ti
vão esbarrar
E um dia
passando pelos
dramas da tristeza
em meio ao burburinho de perder-te
ao
aninhar-se como fosse ainda
aquele
feto
em rima que não rende
perceberás
que nada além de
um regresso estás vivendo
que tudo apenas
começa a retornar
E ao se transformar de novo na
criança
em busca do calor e da umidade
já tens de novo
rugas
mais idade
pelos brancos
num corpo bem franzino
que
repousará em seu lugar
de vinda
e de destino
E saberás então
que era
esse movimento
muito mais simples mesmo do que
pregam
O arco emboscado
desta Vida