Agosto brasileiro: arrastado, o mês foi cheio de sustos e vai embora, morrendo de sede.

 

Em São Paulo um homem calado, no escuro, aplaude os sabiás-laranjeira que invadiram a cidade. Ele diz que são faladores, melhor, cantadores das últimas horas da noite. Garante que seus trinos brilham antes do sol. Em São Paulo, o homem calado que aplaude os passarinhos também é um cantador e sabe voar. Guttemberg Guarabyra brilha. E vem conosco. Traz Luís Nassif, que entende tanto de música quanto de economia.

 

José Nêumanne, na Academia Brasileira de Letras, recita, emocionado, o primeiro verso do único poema que sabe de cor. Como um mantra. "Meu coração tem catedrais imensas". O começo de "Vandalismo", de Augusto dos Anjos. A língua portuguesa não pode morrer, ele exige. Que não "roubem do povo o que ainda lhe resta de dignidade e nobreza: a possibilidade de serem os cidadãos brasileiros justos e solidários, comunicando-se em frases simples, diretas e verdadeiras". Ele foi buscar seu Prêmio Senador José Ermírio de Moraes 2005, pelo romance O Silêncio do Delator. Eta, Nêu.

 

A palavra salva. Germina, orgulhosa, comemora. E espera o chão de setembro.

 

 

agosto, 2005