©alfred gescheidt
 
 
 
 
                                                                    
  

É preciso construir outro vazio no abismo. É preciso escolher a fagulha do incêndio. É preciso avaliar o soluço da memória. Daqui pra frente, o gesto escolherá seu autor, seu ator. O Caos é a réstia do acaso. Por isso.

 

Ninguém mais apropriado para enfrentar a linha do lapso do que o cego acrobata. Ninguém mais certo para o sol.

 

No imenso Caos, as palavras estão tontas, presas ao espetáculo do silêncio. Assim como na vida o caminho.

 

Dizer algo é permitir a voz, mesmo em segredo. Esta:

 

o segredo do horizonte multicor

 

Guardaram em profundo segredo da linha do horizonte a cor. O velho pai recomendara o caminho do sol aos meninos. Quem pôde saber se cálidas aves se tornaram, livres, rompendo o caminho da existência? O velho pai sabia da linha do horizonte a cor. Mas ontem aqui chegaram órfãos engaiolados na memória. E até agora permanecem mudos, talvez pela lembrança da voz de quem traçou o horizonte numa última frase entrecortada...

 

 

***

 

 

Outra voz, e a espera de um novo Caos, sempre, por vir. E sem segredo, um espírito, fragmento:

 

No princípio era o Caos eu não quis ser o Caos nem nada. Só queria estar ali, sempre ali. Flutuando imerso na própria consciência sem interferir no nada. Um dia vieram as cobranças, ordens vindas de não sei onde. Ondas fluindo sob o azul que ressoava. Ignorei e continuei ali sem devorar nada. Me mandaram escolher: ter uma pele, possuir uma textura. Era essa a ordem. Ordem suprema. Disseram para não desobedecer. Falaram de punição. Eu não podia mais ser o que era. Tinha que ser algo. Pisar flores, comer corações de pássaros. Só que eu não sabia o que eram tais coisas. Continuei ali sem a menor intenção. Me falaram de uma tal de dor. No mais, ignorei. Me falaram de um tal de sofrimento, me encolhi. Forçaram no que devia ser o meu centro, o meu chakra, o seja lá o que for que só as ordens entendem. Disseram para escolher, jogaram na minha frente: insetos, pedra, flor e fera. Depois de muito relutar me mostraram a tal de dor. Contorcido mal disse ao azul de que eu mais gostava... ("Iniciação", Luís Marcus da Silva)

 

Enquanto é possível, não vejo a hora de alterar os ponteiros, que se não deixam estancar.

 

 

 

 

____________________________________________________________________________________

 

ps:

 

1. estante: ainda sobre o Caos Portátil: um almanaque de contos, # 2, quem vai querer?

2. Em agosto Bienal do Livro de Fortaleza, Caos # 3... e em setembro, no Centro Cultural Banco do Nordeste, troca de idéias.

3. contato: letraemusica@secrel.com.br

 

____________________________________________________________________________________

 

 

 

 

agosto, 2006

 

 

 

 

 

Mais Jorge Pieiro em Germina

> Contemas