Zero a Sem — Haicais Chineses, de Paulo Portugal
Acabo de publicar Zero a sem, livro de haicais, pela Editora 7Letras. O livro reúne poemas escritos nos últimos anos, principalmente na China.
Haicais sempre estiveram entre meus poemas, desde o início, há décadas atrás. Mais que marca geracional, corrente internacional que participa da poesia realizada em vários países a partir dos anos 60-70, o haicai é um dos pilares da prática da poesia para mim, para meus amigos e colegas de atividade literária (como Ricardo Silvestrin, autor do belo prefácio) e muitos poetas que escrevem a partir da experiência luminosa com o trabalho de Paulo Leminski e Alice Ruiz (que escreve a apresentação das orelhas do livro). Também sob os influxos deste privilégio do Brasil que é a presença marcante de uma grande comunidade japonesa. O haicai para mim foi a porta de entrada da experiência definitiva do oriente, sua vida e sua arte; do Japão, mas da China e da Coreia também.
A seguir, coloco uma sequência de haicais escritos em Pequim, Xangai, Guangzhou (Cantão), Macau e Hong Kong. Neles todos há cenas chinesas (pois cenas têm muito a ver com haicai, instantâneos cinematográficos escritos) ou, simplesmente, a vivência da China.
Feliz ano do dragão para todos.
Abraços de Guangzhou (Cantão) neste início de 2012,
Ricardo Portugal
novo passageiro no metrô a quem chega o bebê dá adeus
trem bala para Cantão a menina canta a canção da avó
pescaria no inverno uma rede de luzes sobre o Rio das Pérolas
ponte na primavera também as luzes da cidade param a olhar o rio
janela para o inverno barcos navegam o vidro entre a cama e o rio
ponte na neblina cruzam cobras de fogo na noite da China
paisagem na neblina luzes antigas deslizam pelo rio
pracinha no inverno trinta velhinhos dançando um raio de sol
viagem dos velhinhos bonés bandeiras vermelhos cabelos brancos
soa o sino no templo tempo é silêncio tempo não é dinheiro
Mais informações em https://www.7letras.com.br/zero-a-sem.html. |