O Professor de Piano de Reinaldo de Fernandes Rinaldo de Fernandes
já é conhecido do público por seu romance Rita no Pomar, finalista do
Prêmio São Paulo de Literatura 2009, e por ter organizado coletâneas de
contos e de ensaios de sucesso editorial, tais como Chico Buarque do Brasil
(Garamond/Fundação Biblioteca Nacional, 2004), Contos Cruéis (Geração
Editorial, 2006) e Capitu mandou
flores (Geração Editorial, 2008). Ao
posfaciar O Professor de
Piano, a grande ensaísta e professora de literatura Regina Zilberman se rendeu ao
talento do autor, chamando-o de "Mestre do Conto". De fato, Rinaldo de Fernandes, contista
premiado nacionalmente (seu conto "Beleza", que abre O Professor de Piano, ficou em
primeiro lugar no Prêmio Nacional de Contos do Paraná e foi escolhido
entre os melhores do Premio Unicamp Ano 40 de Conto), já vem se
consolidando no panorama da literatura brasileira contemporânea como um
dos mais destacados e talentosos ficcionistas e suas obras já começam a
ser pensadas para o cinema. Os
contos de Rinaldo de
Fernandes — já abordados por vários ensaístas e objetos de trabalhos
acadêmicos, inclusive de tese de Doutorado — são peças essencialmente
realistas, urbanas, com personagens angustiados, dilacerados por dramas,
neuroses e violências que assolam o homem contemporâneo. O premiado
"Beleza" é um conto extraordinário, contundente desde as primeiras
linhas, com o protagonista vivendo uma situação absurda, kafkiana. Antonio Carlos Secchin, da
Academia Brasileira de Letras, disse sobre esse conto: "É um lindo,
emotivo, emocionante conto, impecavelmente escrito". Já "O professor de
piano", que dá título ao livro, é um dos contos mais brilhantes de
Rinaldo. Um mergulho na alma de um personagem atormentado por dramas
econômicos e familiares e por uma forte paixão. Neste conto, como também
em "Beleza", Rinaldo refina ainda mais — investigando, com intensidade e
de forma funcional, a subjetividade do homem contemporâneo – o uso das
técnicas do monólogo interior e do fluxo de consciência, já tão bem
exploradas em Rita no Pomar, o que chamou a atenção do escritor Raimundo Carrero (vencedor do
Prêmio São Paulo de Literatura de 2010): "Em Rita no Pomar, um romance e
tanto, o monólogo vai pouco a pouco cedendo espaço ao fluxo, porque a
confusão mental procura a rapidez e, na rapidez, encontram-se os
barulhos, os ruídos, as aliterações". Essas técnicas utilizadas para
compor Rita no Pomar, e
agora os contos, também chamaram a atenção de Silvia Marianecci. Para a
crítica italiana, Rita é "emblema de uma geração em permanente busca da
própria identidade" e experimentando uma "incomunicabilidade
insuperável". "Ilhado"
e "O Cavalo" são peças magníficas do conto brasileiro atual, admirados e
já comentados por autores como Moacyr Scliar e Mário Chamie. "Oferta", que
dialoga estruturalmente com a publicidade, expõe, como poucas narrativas
de nossa literatura, a miséria da prostituição juvenil no país. O
carnavalesco "Dois buracos para os meus olhos" mescla Eros e Tânatos na
medida exata, abordando enfermidade e comportamento na
contemporaneidade. "Você não quis um poeta", um tanto experimental,
elaborado de forma fragmentada, com cortes rápidos, é um retrato
pungente da violência do homem contra a mulher. "Alucinação" merece uma
abordagem psicanalítica, pela paranóia profunda que desarranja a
protagonista. Além
da problemática social, há, em alguns dos contos deste livro, um
subtexto político, como no caso do alegórico "O Caçador" ou mesmo do
poético "O Besouro". O especulativo "Onde está o agente?" — que se passa
no Brasil do séc. XXIII — dialoga com a narrativa policial e com a
ficção científica, trazendo também um protagonista
paranóico. O
leitor irá encontrar aqui 11 contos que, sem sombra de dúvida, se
enquadram entre os melhores da literatura brasileira dos últimos anos.
Um livro marcante, de um "Mestre do Conto", para ser lido e comentado.
E, certamente, para não ser esquecido.
ISBN: 978-85-7577-718-3 Ano: 2010 Formato: 14 X 21 Páginas: 96
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