Nômada, de Rodrigo Garcia Lopes

       NÔMADA, o mais recente livro de Rodrigo Garcia Lopes, reúne poemas de intenso lirismo e forte plasticidade que discutem temas da época contemporânea, marcada pela incerteza e turbulência. A epígrafe de Paul Auster resume o conceito posto em circulação no volume: "Nenhum poema pode brotar da crença de que já existe uma linguagem que vincula coisa com coisa: é um ainda-não de uma linguagem que ainda temos que descobrir e criar: a fome de utopia — de lugar nenhum. Como se, desse ponto zero, pudéssemos enfim prosseguir e descobrir onde estamos".

       Com apuro na escolha das palavras e investindo na poesia como um processo de descoberta, um instrumento perceptivo, Rodrigo nos surpreende com peças que recordam canções, pela sutileza e alta musicalidade, em contraste com outras peças, mais ásperas e contudentes, que revelam um poeta consciente de seu tempo ("Sou uma ilha que respira. / O ocaso retalhava o que restava de voz: / Vento pressente uma tarântula. / O mundo é um vácuo que se afasta".). Em composições mais livres, semelhantes a improvisos de jazz ou à "prosa espontânea" de Jack Kerouac, o que chama a atenção é a maneira como a experiência dos sentidos, das viagens, dos sonhos e das percepções cotidianas se transforma em poesia, sem perder uma atitude ousada com a linguagem.

       Se estamos "em estado permanente de linguagem", como o autor gosta de frisar, este é um livro que propõe novas jornadas para a experiência humana, rompendo os limites da banalidade, mas sem renunciar à poesia como "alquimia do verbo" ou jogo criativo com as palavras, sendo elas próprias uma realidade, um mundo de idéias e sensações. NÔMADA é composto por cinco seções: Mônadas, Fragmentos em Movimento, Viagens à Hiper-realidade, Liberdade de Pó: um Diário e Nômada.

       Vale a pena ressaltar que Rodrigo traduziu poetas insólitos como Samuel Beckett, Arthur Rimbaud, Mina Loy e Laura Riding e que a sua dissertação de mestrado teve como foco a obra de William Burroughs, um dos mais inquietos autores norte-americanos do século 20. Nômada, de certo modo, dialoga com suas "afinidades eletivas", que inclui ainda a poesia beat, a oriental, a language poetry, a herança do legado vanguardista, além da filosofia. Um dos mais inventivos poetas de sua geração, Rodrigo foi incluído nas principais antologias da poesia brasileira recente, como Esses Poetas, de Heloísa Buarque de Hollanda, Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século, de Italo Moriconi, e Na Virada do Século, de Frederico Barbosa e Claudio Daniel. O autor é um dos editores da revista de literatura Coyote e tem três livros de poesia já publicados, Solarium, Visibilia e Polivox, que chamaram a atenção de críticos e poetas de renome internacional, como Eduardo Milan, Victor Sosa, Jose Kozer e Marjorie Perloff.

 

176 p.
Preço: R$ 39,00
Editora: Lamparina
À venda nas livrarias Curitiba, Cultura, Siciliano, Saraiva, FNAC, entre outras.