marina abramović | portrait with scorpion | closed eyes | 2005
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Vamos acompanhar uma breve análise do mapa astrológico da artista Marina Abramović, um ícone da arte contemporânea. No meu trabalho costumo misturar elementos de astrologia tradicional com uma abordagem psicológica e moderna da astrologia indo em direção à compreensão da personalidade do indivíduo da forma mais profunda possível, e é isso que vamos observar aqui. Vou falar das principais configurações e aspectos e as implicações. Nem todos os microdetalhes serão citados e a análise vai mais em direção a um entendimento de quem é a artista e do como entender a sua obra pelo que podemos ver em seu mapa.

 

Marina Abramović é uma das mais importantes artistas da atualidade, responsável por um movimento de popularização da arte performática, especialmente, a partir do final da última década, quando essa modalidade artística sai do espectro das excentricidades e ganha um status e uma projeção inéditos até então, que renderam pesadas críticas de diversos artistas contra a atitude de Marina de buscar o mainstream e despertaram a curiosidade de um público cada vez maior, composto principalmente de jovens. Algumas pessoas a chamam de "mito em vida" e a consideram como o principal nome da história da arte performativa. 

 

Ela nasceu em Belgrado, na antiga Iugoslávia, atual Sérvia, no dia 30 de novembro de 1946. O horário de nascimento, segundo um site de astrologia francês, é 19h16 e o mapa pode ser visto abaixo:

 

 

 

 

De acordo com essa informação, ela é sagitariana, tem ascendente em Câncer e a Lua em Aquário. O temperamento predominante é o fleumático, assim como a Água (que lhe é associado) é o elemento que predomina. Isso demonstra sensibilidade, imaginação e uma natureza contemplativa e profunda, o que é comum em artistas.

 

O ascendente em Câncer entra em choque com os luminares em signos visionários e progressistas (Sol em Sagitário e Lua em Aquário). Câncer é um signo intimista, que significa simplicidade e conservadorismo. Isso gera algo anacrônico no comportamento, porque a pessoa pode se colocar de forma rebelde e revolucionária em situações em que se exige uma postura conservadora e, ao mesmo tempo, portar-se de forma conservadora e autoritária em situações em que se espera algo mais moderno, aberto ou visionário. Há algo que pode ser considerado contraditório nisso, mas existe uma constância em que a pessoa sempre parecerá fazer parte de uma outra época, como se ela fosse uma viajante do tempo, ora vinda do passado, ora vinda do futuro. Quando levamos em consideração a presença de Saturno em Leão na casa 1 esse elemento se intensifica. Ela termina por ser ao mesmo tempo general de si mesma e das pessoas que se aproximam dela, ao mesmo tempo em que atua como uma rebelde e uma iconoclasta.

 

Saturno em Leão e a Lua em Aquário são os principais componentes comportamentais do mapa da artista. Saturno está posicionado na casa 1, que fala sobre o corpo e a personalidade, e a Lua em Aquário é a regente da casa 1. Saturno na casa 1 indica sempre que a vivência do corpo físico para o nativo traz algo de desafiador, em geral, indicando problemas de autoimagem que podem se manifestar efetivamente por meio de anomalias na forma física ou apenas em função de uma percepção distorcida, como um perfeccionismo exagerado em relação à própria forma. Além disso, a pessoa absorve profundamente as experiências que envolvem algum modo de repressão da expressão espontânea dela, como pais ou professores autoritários, um meio circundante moralista ou restrições políticas no local em que ela vive. Para Marina isso foi mais do que verdadeiro. Ela era filha de dois ativistas políticos da antiga Iugoslávia (em sua fase comunista) e foi criada praticamente em regime militar, com muita disciplina, frieza e restrições à espontaneidade, o que é muito de acordo com esse Saturno na casa 1, que mostra o quanto ela absorveu e internalizou as restrições observadas em seus anos de formação.

 

Uma das coisas que ela divulga é a necessidade de criar artificialmente situações de restrição dos prazeres, do convívio com os outros, das facilidades e prazeres da vida, digamos assim, para que o artista seja capaz de expressar ao máximo seu potencial criativo, como se um vazio tivesse que ser criado para que o artista o possa preencher com sua criatividade. Sendo Leão o signo associado à criatividade e ao drama, esse Saturno em Leão aponta a forma entendida por ela para se atingir a inspiração e isso envolve restrições, isolamento e profundidade, todos elementos associados a Saturno. Lady Gaga tornou bem conhecidas, recentemente, várias características do "método Abramović", aparecendo em um vídeo nua, de olhos vendados e realizando exercícios de concentração em um local ermo. Em outra cena, ela aparece abraçada a um pedaço de gelo. Uma metodologia espartana, que certamente funciona para as duas, porque esse Saturno em Leão de Marina Abramović forma trígono (uma relação harmônica e de mútuo beneficiamento) tanto com o Sol dela mesma em Sagitário, como com o Sol em Áries de Lady Gaga. É o "mal", que nesse caso, tem condições de servir para algo produtivo.   

 

A lua em Aquário do mapa de Abramović descreve sua natureza emocional. É um posicionamento que fala em pessoas inteligentes, gregárias e fraternais, porém, também fala de pessoas que podem ser muito distantes emocionalmente. Esse distanciamento, que serve pra proteger a pessoa das fragilidades inerentes às vivências íntimas, é interpretado pelas pessoas que olham de fora como "frieza", mas é muito mais um mecanismo de autopreservação. Não se trata de ausência, mas de fuga das emoções. Ela mesma revelou em diversas ocasiões que se transformou em uma pessoa emocionalmente deficiente após o fim da sua adolescência. E o instinto de se distanciar como mecanismo de defesa é presente, porém o mapa dela aponta um conflito muito interessante que, de certa forma, a ajuda bastante a romper o lacre de frieza ao seu redor. 

 

Há no mapa um pequeno stelliun, que é um aglomerado de planetas no signo de Escorpião, além do fato de o Sol Sagitariano estar próximo da estrela alfa de Escorpião (Antares). Esse aglomerado inclui Vênus, Mercúrio e Júpiter. Escorpião é, em contrapartida a Aquário, o signo mais intenso, mais profundo e mais emotivo do zodíaco, simbolizando tanto a paixão quanto o ódio. Esse aglomerado em choque com a Lua em Aquário levou Marina, principalmente após a adolescência, a iniciar suas experimentações no campo da percepção e das sensações. Ela fez isso por intermédio da arte e esse conflito se expressa no radicalismo que ela imprime em várias de suas performances. Fica evidente a busca incessante por um sentimento profundo e, em algumas performances, fica latente uma busca por profundidade, contato e verdade. A lua aquariana simboliza um vazio de emoções causado pelo comportamento de fuga e a atitude blasé e distanciada. Mas o signo de Escorpião em evidência (principalmente, mediante Vênus, nesse caso) indica uma necessidade de ir mais fundo. Por meio de suas performances artísticas, Marina reencena seu drama interior, seu conflito básico entre vazio e necessidade de preenchimento. O conflito pode chegar ao ponto de se transformar em um tormento quando pensamos na presença de Saturno e Plutão em Leão, que acabam participando indiretamente da configuração, apesar de não haver muitos contatos exatos envolvendo esses dois.

 

A quadratura quase exata entre Plutão em leão e Júpiter em Escorpião fala de uma natureza extremamente ambiciosa e voraz. Como Júpiter é um planeta fortíssimo na expressão de Marina, esse aspecto transforma-se em um elemento dominante. Júpiter é um princípio de expansão e crescimento e, aliado (e pressionado pelo contato exato) a Plutão, indica que essa busca por crescimento e expansão não conhece limites. Júpiter é justamente o planeta associado ao pecado capital da gula, mas em essência, quando em desequilíbrio, fala de ausência de limites, de alguém que não mede consequências ou esforços para chegar onde deseja. E isso carrega em si tanto o potencial para a superação de limites quanto o potencial para se criar inimigos e magoar pessoas, porque pode partir furiosamente na direção de um objetivo sem levar em conta quem fica no caminho.

 

Já a quadratura bem próxima entre Lua e Vênus demonstra uma pessoa que corre o risco de se tornar carente por não saber pedir o afeto ou não se sentir à vontade com ele e isso acaba por afastar as pessoas que ama com atitudes repentinamente indiferentes. Um contraste entre o ardor da Vênus em Escorpião — intensa, apaixonada e repleta dos mais profundos desejos e carências — e a frieza da Lua aquariana — com sua altivez, indiferença e atitude afrontosamente impessoal — que pode surgir sem aviso prévio surpreendendo amigos e amores. Muito dessa Lua em Aquário, fria e distante, é reflexo da relação gélida entre Marina e sua mãe, conforme a artista já relatou. A mãe teve grandes dificuldades para aceitar posteriormente o trabalho anticonvencional da filha.

 

Nessa configuração toda envolvendo signos fixos fica evidente também um elemento de obsessão. Em muitas performances, Marina realiza movimentos repetitivos para  atingir determinado tipo de sentimento ou contato com o público. Além da obsessão há também um flerte com o mórbido, com o perigo e uma atitude de entrega e imersão, algumas vezes, beirando a automutilação e a sujeição a riscos reais. Há muita experimentação, muito drama e uma vontade indisfarçada de causar uma impressão forte, que leve distúrbio e instabilidade para o interlocutor, uma força tempestuosa e inquieta, ainda que frequentemente a única coisa que ela faça seja ficar sentada olhando fixamente para alguém aleatório do seu público ou repetir uma frase ou movimento durante horas. Escorpião é o signo que simboliza a morte e a perda; Aquário, o signo da rebeldia e da originalidade, e Leão, o signo do drama, da pompa e do desejo de atenção. Dos quatro signos fixos o único que não entra na configuração é o signo de Touro, mas justamente por ser o braço vazio nessa configuração acaba sendo um dos elementos mais presentes, como se fosse a síntese de todos os conflitos. Isso ocorre porque o signo de Touro, do elemento Terra, fala do mundo das sensações, dos cinco sentidos, do erotismo e do corpo físico. Por ser a energia que falta, é a que ela persegue por meio do seu trabalho. Touro é um estado de completude e conforto absoluto e todo o conflito no mapa de Marina vai na direção de se atingir esse ponto de equilíbrio a partir de um átimo de sensação profunda e verdadeira.       

 

Acima de tudo, está presente na obra de Marina uma atitude de rompimento com normas estabelecidas, não apenas em relação ao que pode ser considerado arte, mas até mesmo em relação a questões éticas. Provocações, profanação de tabus e uma atitude que parece desejar contrariar expectativas. Na obra "the artist is present" (o artista está presente) ela quase se aproxima do limite ao propor uma performance em que ela não faz nada além de olhar fixamente para as pessoas, numa atitude que chega a ser uma representação emblemática da Lua aquariana, o blasé em sua expressão máxima. Mesmo sendo tão simples, a proposta acabou mexendo muito com as pessoas, porque todas ao presenciar aquilo iam pra algum extremo: algumas se maravilhavam e se emocionavam, outras se encolerizavam pela aparente ausência de propósito e a simplicidade desconcertante que, em geral,  não se associa ao que se entende como arte. Principalmente, a atitude de se assumir como a obra de arte, que é a síntese da arte performática.

 

Marte em Sagitário é um planeta que sintetiza a atitude de Marina em seu trabalho, primeiro porque descreve a natureza desse trabalho. Por mais que aquilo que ela faça seja arte, é uma arte em que o artista se coloca em movimento (como na dança, por exemplo). Todo trabalho que envolve atividade física, movimento e riscos, é regido por Marte. Marina tem Marte na casa 6, de acordo com o horário fornecido, indicando que ela executa esse trabalho com maestria. Apesar de não parecer ao observador distanciado, existe muita técnica e muito critério na escolha de cada ação, mas o efeito é o de produzir uma impressão de espontaneidade. Marte é o regente da casa 10, que governa a carreira e a imagem pública, portanto, ela fica conhecida publicamente principalmente  em função do que simboliza esse Marte. Ela tem o Meio do céu (início da casa 10) nos primeiros graus do signo de Áries , e havia uma conjunção (por trânsitos) entre Júpiter e Urano no meio do céu dela durante a apresentação mais célebre, "The artist is present", uma das mais recentes. 

 

A atitude do Marte em Sagitário é impulsiva, exagerada, apaixonada e um tanto dispersa. É um Marte que por si mesmo não tem grande poder. Porém, no mapa de Marina, ocorre uma situação que atenua bastante essa falta de dignidade. É porque ela tem, ao mesmo tempo, a presença de Júpiter em Escorpião na casa 5. Escorpião é domicílio de Marte e Sagitário é o domicílio de Júpiter, assim, ambos trocam dignidade e se fortalecem mutuamente. Por isso, esse Marte em Sagitário é espontâneo porque quer, porque existe uma intenção por trás disso, e frequentemente essa espontaneidade vai ser falsa. Escorpião traz toda uma carga de intencionalidade e precisão nas ações e, nas suas performances, Marina executa suas propostas com a intensidade, a precisão e a frieza de um ninja. É interessante que temos daí um Júpiter na casa 5 (casa da criatividade e expressão artística, dentre outras coisas) e Marte na 6 (casa que fala dentre outras coisas, da técnica, do detalhe, do método, da repetição, do treino, em suma, do perfeccionismo). Essas duas casas, em geral, governam mundos muito distintos, e essa mistura é uma das grandes responsáveis pelo exotismo na arte apresentada por ela.

 

Esse Marte, além de tudo, está em oposição a Urano em Gêmeos na casa 12. A casa 12, por ser um desdobramento subjetivo da casa 10, fala de um tipo de fama que foge do controle da pessoa, e Urano ali revela a forma como Marina acaba sendo conhecida indiretamente. Essa é a casa dos "inimigos ocultos" e, portanto, fala de uma fama ou impressão negativa causada pela pessoa, que foge totalmente do controle dela. Mas essa "negatividade" é considerada assim, principalmente, pelo elemento de inconsciência e ausência de controle sobre o que acontece que encontramos na casa 12. Frequentemente, a única impressão que ela causa é um choque e uma profunda revolta naqueles que a assistem, porque ela nega tudo aquilo que as pessoas têm como certeza em se tratando de arte. Para outras pessoas, sua obra e metodologia são consideradas revolucionárias e até mesmo libertadoras. Rebelde, iconoclasta, portadora de distúrbios psiquiátricos ou simplesmente uma pessoa desesperada por chamar atenção. Especialmente no começo de sua carreira, o impacto de sua obra lhe angariou muitas críticas e muitos rótulos, o que aparentemente lhe serviu como combustível, porque uma coisa que a move é justamente a vontade de contradizer todos os rótulos.     

 

A fama conscientemente perseguida é apontada pela casa 10, no início de Áries, e aí temos a imagem da pioneira, da empreendedora, da mulher audaciosa, corajosa e repleta de iniciativas, que tem sempre algo de novo para trazer ao seu público. Um outro artista que acabou, ao seu medo e no seu tempo, tendo um tipo de fama muito parecida, foi Salvador Dali, que também nasceu com o Meio do céu nos primeiros graus de Áries. Aliás, a estrutura das casas nos mapas de Marina Abramović e Salvador Dali são um tanto parecidas, apesar de o restante do mapa ter elementos completamente diferentes, já que eles foram por caminhos bem diferentes.

 

 

 

dezembro, 2015

 

 

 

Elias Mendes (Florianópolis/SC, 1985). Cursou Agronomia e Psicologia na UFSC, mas não concluiu nenhum dos cursos, pois decidiu dedicar-se exclusivamente à astrologia, que estuda há quinze anos. Atende profissionalmente como astrólogo desde 2008. Leciona, profere palestras e trabalha com consultoria astrológica na internet. Já escreveu artigos em diversos sites especializado. Todo o conteúdo no site www.megastrologia.com é de sua autoria intelectual.