INADIMPLÊNCIA

 

 

Amarro,

 

quedas

ou me permito..?

 

Tendo meus pés

inquilinos,

 

sapatos correm..

 

Quero cruzar a linha

de sua porta

 

entreaberta..!

Cadarços

 

desamarrados..

Aluguel atrasado.

 

Lonjuras,

Juras,

Jurados e eu — réu..

 

 

 

 

 

 

(INVER)TIDO



Por motivo de urgência..



Na promessa

do reencontro — ou

 

do adeus,

soprei



milhares de beijos refugiados..

 

 

 

 

 

 

RATOEIRA

 



 


Nosso
Amor

é do tamanho


de um elefante..!



Nosso

amor é

parelho — no sentido

figurado..
Marca

atalhos
inesperados..

Tem medo de ratificação..!


Nosso
amor

é uma pata de elefante,


que
por onde passa

fode tudo..


Mas
todas as formas

de amor


me interessam;

todas..

O amor

é uma ratoeira que tem medo..

 

 

 

 

 

 

(DES)CAMINHO

 

 

Perdi minha

certidão

de idade

 

agora conto

os anos

 

na gastura dos sapatos!

 

 

 

 

 

 

CANDEEIRO



Tropecei na minha própria

sombra,

 

mas não caí..!

Sorri;

 

e acendi os vaga-lumes..

 

 

 

 

 

 

DISPARATE

 

 

Minhas borboletas no estômago..

 

Simplesmente,

resolveram se rebelar..!

E sem exigências;

 

como negociar com esse nosso amor doido..?

 

 

 

 

 

 

 

 

ENSEJO



Como um poeta

revisitando

os corações..

 

No inquieto das mãos,

me escondo..

Na odisseia do duo,

eu amadureço!..

No enrosco dos dedos,

eu espero..!

Na exceção da regra,

me abstraio..

 

No defronte do espelho,

me revejo..

No decerto do tento,

eu aprendo..!

Na recusa do direito,

eu argumento!..

No ensejo do inacabado,

eu finalizo.

 

Como um poeta

revisitando

os corações..

 

No desconserto do não,

eu persisto..!

No silêncio do noturno,

me dispo..

No direito do açoite,

me perdoo..

No desconforto da rotina,

eu fujo!..

 

No contraponto da balança,

me avalio..

No inverso do ócio,

me vejo..

No desassossego do cio,

me acho..!

No enlaço das pernas,

me jogo..

 

Como um poeta

revisitando

os corações..

 

No desprezo do zero,

eu recomeço.

No contradizer do juízo,

eu brigo..

No encalço do infinito,

me busco..!

No insano dos lençóis,

me encontro..

 

No inquieto do deleite,

me perco..

No efêmero do agora,

me inspiro..!

No ensejo do reencontro,

me permito.

 

No mais,

 

até mesmo da mesmice,

sempre vem a novidade..!

 

Como um pintor

Salpicando

tinta na tela..

 

No repente das paixões,

me tento..!

No desarranjo das canções,

me ouço..

No embaraço da cena,

eu improviso.

No contratempo do tom,

eu canto..

 

Na disritmia do coração,

me proponho..

No ensejo do reencontro,

me permito..!

Na intempérie do tempo,

eu cresço.

No descompasso da dança,

me arrisco..!

 

No acaso do amor,

me entrego!..

No inerte do diurno,

me renego..!

No contento do riso,

me visito!..

No avesso dos ponteiros,

me dito..

 

 

 

 

 

 

PASÁRGADA

 

 

Asa quebrada na minha frente,

passo

 

por cima..!

sem medo

 

de bico..

voo

 

sem pedir esmola..!

 

Ame

ou apedreje-me..

Sou passarinho

 

que come pedra..!

 

Voar

 

pra não chegar..?

Esquece..!

 

Só quero minha rota de fuga livre..

 

 

 

 

 

 

APROPRIAÇÃO



De coração em coração..


Canela fina.

Joelho vesgo.


E os pés inquilinos desapropriados dos sapatos..

Não por ordem de despejo.

Sinal de respeito..

 

Peço licença e

adentro em corações..

 

 

 

 

 

 

(IN)CONSCIENTE



Dependendo do momento tenho fé..!

Acredita em anjos..?

Vi um..

 

Apareceu em meio às minhas

 

perturbações;

com asas enormes..

Parecia real,

 

superficial

ou mera coincidência..?

 

Convidou a descer,

do muro,

 

a metade que pendia para o outro lado..

 

 

 

 

 

 

SOÇOBRA



Me isqueirando..

Faz acontecer..!

 

Desencadeia

o estopim

para as bobagens

 

do coração.

 

Manda o papo!..

Ou novos

velhos fatos..

 

Queria entender

o amor..

Me isqueirando..!

 

Acende o pavio

 

e espera acontecer!..

É o fim do se..!

 

Quero mais incêndios..

 

 

 

 

 

 

MENINO-SENHOR-AMARELO

 

 

Menino-senhor-amarelo..

 

Da lira;

que de propósito,

não se perde!..

 

do parto — não do infinitivo do verbo partir,

 

poético..!

 

Menino-senhor-amarelo,

da casa amarela..!

 

Não partindo — do gerúndio do verbo partir.

Não partido — do particípio do verbo partir.

 

Da lira;

 

que não se rasga!..

Quebrar a casca do ovo e nascer ensanguentado..!

 

A bênção..

 

 

 

 

 

 

[imagem ©karl taylor

 

Seh M. Pereira (São Paulo/SP, 1981). Poeta, publica cotidianamente sua poesia na internet. Participou da Antologia Sarau O que dizem os umbigos?!! e divulga seu trabalho nos diversos movimentos de saraus da cidade de São Paulo. Bloga em sehmpereirapoemas.blogspot.com.br.