GERMINA - REVISTA DE LITERATURA & ARTE
©ralph maia
 
 
 
 

 

  

 

É necessário que se faça um breve esforço para imaginar duas situações: a situação I e a situação II. Na situação I, há três personagens, assim nomeados, Senhor A, Senhora B e Empregada C. A situação II conta também com três outros personagens, a saber, Senhor D, Senhora E e Enteado F. 

 

O Senhor A era dono de uma sapataria, na qual era auxiliado pela Senhora B, com quem tinha dois filhos. Na casa do Senhor A e da Senhora B, por acaso o mesmo espaço em que funcionava a sapataria, também vivia a Empregada C, que recebia pagamento o suficiente para também dormir no emprego, já que, entre outras coisas, basicamente cuidava dos filhos do casal A + B. Na ausência da Senhora B, o Senhor A aproveitava para dispensar um tratamento especial à Empregada C, bem distanciado do que pressupõe a rígida relação patrão-empregado. Tal tratamento não era posto em questão pela Empregada C, ao contrário, era por ela muito apreciado.

 

O que o Senhor A não sabia é que as ausências da Senhora B, a pretexto de compras, visitas a um determinado parente ou amiga, entre outras desculpas, eram preenchidas, na realidade, por encontros furtivos em improváveis recônditos com o Senhor D, dono de um próspero escritório de contabilidade.

 

Enquanto a Senhora B e o Senhor D vivenciavam um romance bastante incomum para um casal de meia idade provindo de famílias distintas e tradicionais daquela pequena cidade, a Senhora E mantinha em sua própria residência, coincidentemente o mesmo espaço em que funcionava o escritório de contabilidade do Senhor D, um caso inaudito, próximo ao que ficou vulgarmente conhecido por incesto, com seu Enteado F, dez anos mais moço que a madrasta.

 

O que em qualquer história desse gênero, envolvendo triângulos amorosos, poderia resultar em tragédia, essa teve um epílogo diverso, culminando mesmo num raro final feliz, a julgar-se pela remontagem das situações I e II iniciais, que, contradizendo qualquer lógica, criou uma outra, a situação III, conforme a seguinte disposição:

 

a) casamento do Senhor A com a Empregada C, de cujo relacionamento vingaram três novos rebentos, o que implicou na assunção da Empregada C à Senhora C, condição essa que lhe permitiu reivindicar a contratação de uma nova empregada.

 

b) Casamento do Senhor D com a Senhora B, que, não abrindo mão da convivência com os filhos que tivera com o Senhor A, reuniu a todos sob um novo teto, adquirido às pressas pelo bem sucedido contabilista.

 

c) Casamento da Senhora E com seu Enteado F, relação essa que não culminou no nascimento de filhos, dada a infertilidade da Senhora E, que, inclusive, já havia resolvido consigo mesma esse dissabor materno, sendo madrasta do ex-enteando, agora seu digníssimo esposo.

 

d) A Senhora E e o ex-Enteado, alçado agora a Senhor F, ficaram morando no lar que era também o escritório de contabilidade do Senhor D, de quem o Senhor F passou a ser, em razão de uma ótima relação pai-e-filho, sócio.

 

 

 

março, 2014