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Um sujeito esfomeado percorre a rua Direita, no centro de São Paulo. Sua deambulação é obsessiva, cheia de intertextos. O corpo está preso a essa rua, enquanto a mente parece dominada por uma polifonia neurótica.

 

Não importa a extensão do percurso, caminhar é a alegoria mais constante na literatura universal. O deslocamento e seus diferentes sentidos (religioso, político, científico, estético etc.) movem a Ilíada, A Divina Comédia, o Ulysses e uma infinidade de clássicos e modernos.

 

A estranheza nasce da multiplicação, pois o esfomeado delirante de Anderson Borges Costa contém em si outros andarilhos. Impossível não enxergar nesse pobre-diabo o Naziazeno de Dyonelio Machado ou o Inácio de Lúcio Cardoso, por exemplo.

 

Carlos Felipe Moisés matou a charada. No prefácio, o crítico nos alerta que o anti-herói desse romance não é uma pessoa de carne e osso. É um símbolo, uma representação de cada um de nós. E a rua Direita não é bem uma rua. É um lugar mágico, um universo em miniatura.

 

 

 

[Publicado originalmente no Guia da Folha de julho de 2014]

 

 
 

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O livro: Anderson Borges Costa. Rua Direita.

São Paulo: Chiado, 2014, 160 págs.

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agosto, 2014
 

 

 

 
Luiz Bras é doutor em Letras pela USP e autor do romance Sozinho no deserto extremo (Prumo) e da coletânea de minicontos Pequena coleção de grandes horrores (Circuito).