da série metamorfose || jb lazzarini || acrílica sobre tela || 150X150 cm || coleção particular || belo horizonte || 2007

 

 
 
 
 
 
 

 

 

"Tudo já foi dito uma vez, mas como ninguém escuta é preciso dizer de novo". [André Gide]

                                                                                                                                                                                          

 

JANEIRO || FEVEREIRO: "Começou o ano martelando água em Inhotim. Salvou a paisagem tropical da morte, e renasceu contemporâneo. Num dado momento, a andorinha pinta o céu de vento. Passa o gato movido a álcool, e outra nuvem anuncia a substância do verbo. Tirou as roupas das expressões e assoviou bem-te-vi".

 

MARÇO || ABRIL: "O bem-te-vi quer ter filhos. Ampliou a solidão com lápis cinza na máscara de Carnaval. Sua mãe diz que não é coqueluche. Vacinou contra catapora. Mesmo assim, rastejou entre moscas, segurando os ovos entre palhas escuras".

 

MAIO || JUNHO: "Os ovos chocaram verdes com tons amarelados. Duras penas aguentam a picada da cobra coral, que engole o perfume da trepadeira. Vermelho com amarelo perto, fique esperto; vermelho com preto ligado, pode ficar sossegado. Não é uma jararaca. Sobrou só um bem-te-vi abstrato-geométrico no silêncio que estica a noite".

 

JULHO || AGOSTO: "Tentou criar o bem-te-vi na gaiola com pedaços de palavras açucaradas. Veio o gato entortar a gaiola. Comprou pastilhas Valda. E tomou remédio alopático para começar o mês, numa escrita automática, contando os riscos de dar nomes existenciais às flores".

 

SETEMBRO || OUTUBRO: "Desmanchou o quintal, fez florir três jardins, e soltou o bem-te-vi. Perdeu aquilo que encontrou, quando o gato retornou. Os ratos detestaram a ideia. Almoçou frango xadrez, sentindo gosto de liberdade, inventando nova gaiola".

 

NOVEMBRO || DEZEMBRO: "Queria ser lido nos bicos dos passarinhos. Contrariado, armou a arapuca. Foi repetir o canto do bem-te-vi, a história. Criou a ilusão de que a metamorfose poderia ser contrariada. Tempo passado, abusando gerúndio: o cisco incomoda muito o olho esquerdo, pois a liberdade sempre machuca num abandono sem fim".

 

 

A HISTÓRIA SE REPETE || O BEM-TE-VI ABSTRATO-GEOMÉTRICO || CONTRATEMPOS LIBERDADE

 

 

"Tudo já foi dito uma vez, mas como ninguém escuta é preciso dizer de novo". [André Gide]

 

 

NOVEMBRO || DEZEMBRO: "Queria ser lido nos bicos dos passarinhos. Contrariado, armou a arapuca. Foi repetir o canto do bem-te-vi, a história. Criou a ilusão de que a metamorfose poderia ser contrariada. Tempo passado, abusando gerúndio: o cisco incomoda muito o olho esquerdo, pois a liberdade sempre machuca num abandono sem fim".

 

JANEIRO || FEVEREIRO: "Começou o ano martelando água em Inhotim. Salvou a paisagem tropical da morte, e renasceu contemporâneo. Num dado momento, a andorinha pinta o céu de vento. Passa o gato movido a álcool, e outra nuvem anuncia a substância do verbo. Tirou as roupas das expressões e assoviou bem-te-vi".

 

MARÇO || ABRIL: "O bem-te-vi quer ter filhos. Ampliou a solidão com lápis cinza na máscara de Carnaval. Sua mãe diz que não é coqueluche. Vacinou contra catapora. Mesmo assim, rastejou entre moscas, segurando os ovos entre palhas escuras".

 

MAIO || JUNHO: "Os ovos chocaram verdes com tons amarelados. Duras penas aguentam a picada da cobra coral, que engole o perfume da trepadeira. Vermelho com amarelo perto, fique esperto; vermelho com preto ligado, pode ficar sossegado. Não é uma jararaca. Sobrou só um bem-te-vi abstrato-geométrico no silêncio que estica a noite".

 

JULHO || AGOSTO: "Tentou criar o bem-te-vi na gaiola com pedaços de palavras açucaradas. Veio o gato entortar a gaiola. Comprou pastilhas Valda. E tomou remédio alopático para começar o mês, numa escrita automática, contando os riscos de dar nomes existenciais às flores".

 

SETEMBRO || OUTUBRO: "Desmanchou o quintal, fez florir três jardins, e soltou o bem-te-vi. Perdeu aquilo que encontrou, quando o gato retornou. Os ratos detestaram a ideia. Almoçou frango xadrez, sentindo gosto de liberdade, inventando nova gaiola".

 

 

 

 

 

setembro, 2013

 

 

 

José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista, escritor, pesquisador, ensaísta, colecionador e crítico de artes plásticas e literatura. Estudou Economia (UFMG). Graduado em Comunicação Social e pós-graduado em Jornalismo Contemporâneo (UNI-BH). Autor de Pavios curtos (Belo Horizonte: Anomelivros, 2004). Primeiro lugar na Primeira Mostra de Vídeo-Poema Londrix 2012, 8º Festival Literário de Londrina/PR. Participa, dentre outras, das antologias O achamento de Portugal (Lisboa: Fundação Camões/Belo Horizonte: Anomelivros, 2005) e H2HORAS (São Paulo: Cronópios/Dulcinéia Catadora, 2010); dos livros Pequenos milagres e outras histórias (Belo Horizonte: Grupo Galpão, Editoras Autêntica e PUC-Minas, 2007), Folhas verdes (Belo Horizonte: Edições A Tela e o Texto, FALE/UFMG, 2008), Poemas que latem ao coração! (São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2009), Rodrigo de Souza Leão: tudo vai ficar da cor que você quiser (Rio de Janeiro: Edições Pinakotheke, 2011) e Literatura Futebol Clube (Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012).

 

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