*

 

Nos empórios de um olhar se escondem fornalhas despenhadas e o ar silêncio.
As faíscas brilham entre os campos vastos repletos de árvores diluvianas, descaindo suas ramas pelos terrenos afígies. Flores e ninhadas de rubis. Cavalos. Pássaros. E o Astro completavam o anfiteatro.

Camélias desbocavam, desbocam aqui e acolá. Margaridas. Papoilas fenícias entre a visão do agora e a ereção da natureza divina. Tua…

Extasiada, Petúnia caminhou entre a vegetação fugaz. O Azul cobriu o céu e em reflexos surdos o círculo síbalo nas cimalhas dos Cristais. Tecedeiras, as sombras que entre os gritos mudos sopram salvas e asteriscos. O céu á boleia de um olhar, pelos orfantes nostálgicos, batimentos interiores, a respiração reflexa na luz arregaçada. O vermelho rigoroso de um coração silenciosamente libertino, procurando embarques, trajetórias e proliferações, provérbios entre a solidão pressentida nas alucinações sem nome. A ilusão plantada vinha. O tempo escorre aplainando o silêncio. Suposto em todos os espaços, batendo. Percorrendo-me na gota de um mundo que voa sobre o sonho ainda quente. Porta a porta. A dança infloresce primordialmente, o desassossego rasgo, a convulsão infinita, verbal, ontem, os espelhos dispersos expiram desnudares. Ataduras. Crivos. O vermelho arbóreo no percurso de um fogo faiscante brota hisbicos nas exalações medusas. As virgulas escolhidas e alcatroadas em nascentes nos vendavais indecifráveis, no pulsar que se desata intacto nos verões vivos onde o cio regista a luz, o canto e os guizos de um sexo em circunspecção.

Odin azougado toca-me tocando-se em curvas pela cinta pequena, absoluta por ali abaixo onde longamente atravessa tudo no instante batente. A amparar trilhos galopantes…

A ravina é mestre na vagina das mulheres quando em alámos friccionadas anunciam-se predadoras e ogivas perseguidoras. Brilham quando abertas. Fundidas. A carne violenta na manobra, fecha-te os olhos e as coisas que te vêm…

A ilusão plantada vem sem descanso num rio de suspiros e sincronias aladas a bailes que tornneiam loucamente, verticalmente, planadoramente todos os gestos vibratórios de um pénis em crua vassalagem. Fruto das águas que tombam intensas entre a sede e o espaço opaco da minha floresta que segrega hálito em alicerces que esgrimam os nossos dois reflexos sôfregos em rituais intermináveis, os abraços rejuvenescidos, a cadência dos gritos em nossos mares que gladiam infinitos…

 

 

 

 

*

 

Que me importam as sombras vagas nos espantos!?

Que me importam o gemer eterno das raizes sobre o chão ignoto num mar amplo em que tu és o Deus perene em altos escapares em vida larga.
Que me importa o fragor vivo docanto que resguarda de todos os meus flagelos e inúmeras chuvas onde se anunciam as lunares falésias...

É terrível a fatalidade dos dias!

Nos meus dias.

Os dias anões, queimando-me redondezas.

As Asas!

...
A Flauta somente sobra, na roupa que não amas pelos orifícios da demência.

Que importa o som se o arco outrora uma espécie de elástico queima no golfar da pancada do sangue atrás, na forma, suprema e rotativa de uma fenda leve e lenta...

Que importa o mar onde os dias se atrevem num mudo compacto em carne rude e víscera!?

Que importa a mim o nunca mais repouso grande e mortal do medo rio, oferecido sem descanso ao ser Humano!?

Que importa!?

sobre os altos pés que atulham o caminhos e o meu desejo perene e curvo!?

Como gostaria que os meus dias tivessem sangue e força por onde se beberia ramais e fieiras de um sopro coberto de aguardares e potentes gritos desordenados. é morta ainda a minha inocência. é morta num céu que apavora e conserva a miséria gasta dos meus passos gastos em ecos, através das minhas letras ácidas no monte da mesa onde repousam debaixo os meus pés, os mesmo dos passos gastos pelos cumes altíssimos onde nenhum sol ousa brilhar ou cantar para mim num pórtico inclinado do vestido cheiro que embriaga as gotas no mar da noite...

Que importa vos, pergunto eu!?

se um ponto de vista se encostou longinquamente a mim!?

 

 

 

 

*

  

"... pedaços de carne na mão que ouve e sorde a foice; a largura transpira múltipla o lanço animal, o lençol corpo. o epicentro no nexo trilhado; na lembrança e eu escrevo-te toda das mãos que em Ti escorregam, fechadas por indícios e sistemas de palavras no sexo; entro no sexo. ergo-te perante a minha verdade corporal, porque TU és a mó; o sentir vertigem, eterno no meu abdicar de asas.


Pedaços de coração nas palavras que aperto contra o meu quanto entre mim e as folhas em carne, ceifando para ti as letras na grande glande, nas cores mergulhada, nos meus estreitos soando. Sentada..."

 

 

 

 

 

"Poesia é uma inteligência, emplogante, emplogada, viva na turbulência entornada, no [meu] nome transfigurado. Consanguíneo. Nos amplos quadris, onde se alojam Impérios, que, se laceram sobre a minha cabeça, inclusa e arremessada dentro da vulcanica névoa, pulsando, à distancia o teu rosto na minha carne implantado, que implora o exprimir das minhas cruas escarpas, no meu enlace maternal,... onde húmidos e escarlates, os lábios se desvaneiam num indefinido desejo oculto em nós.

O acto corre na paisagem, na personagem em ti explicita e obsessiva, num tumulto fundo, onde o meu poder te enche nas prosas que em mim tanto despes. Lívido. Na minha abertura interior. Onde te concentras, trémulo e seguro das labaredas que em ti ardem e nos afundam num tempo que não é de ninguém, porque a poesia é um nome largo, um astro que nos queima, nos perfura em jorros, as folhagens quentes. Transparentes na brasa. Em brasa. Que em nós geme, explodindo, geme, comprimidas, gemem numa manhã infinita, renascente, geme e tudo se espalha num impulso longo e caído no tempo e nas coadas das palavras. Gemendo odores nominais. Limbos translúcidos. Seivas compactas. Um espigão negro que devora (nos) areas actuais, abraçado a uma pauta rápida, em areas reais, desdobradas no silêncio delirante, na pele. Da nossa pele, em figuras de estilo. Nos baixos ventres. Da pele. Transportos na gota, na vulva, onde escorrega, um êxtase horizontal, e a vida secreta de um poema...

O nosso!... (...)

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

Derrames desenfreados desaparelham ígneas enceadas pélvicas. a hombridade servidora da boca imponente que despoja dentes em cardume arrebatando sílabas á garganta fálica do órgão.

maconha esfomeada, apócrifo rente á alfaia concêntrica dos funiculares respiros ardentes.

— Ha! os ardentes pulsares equidistantes de uma penetração urde e salitrosa onde o leite afiança orgasmos nos hisbicos cilíndricos dos sexos.

indica-se perfilados bebedouros na polidez esponjeira dos olhares mais assediadores e conjerminados pela abundancia sustentados.

os girinos indefesos a invadir as paredes e todas as conversações e parábolas ignoradas por todos os inquisidores de textos nítidos.


(a minha morada é ameaçadoramente vulcânica aos odores virginais. as metáforas

imobilizam as masturbações circulares das aventuradas mulheres que se deixam anular pela felicidade amplexa de um orgasmo)

não sou eu que vos escrevo é a excrescência bruxula no atoleiro de uma gruta domadoramente falante e imperiosa.


— o fogo, desertoras no dedilhar rotatório que extravia os alicerces das estatuas amontoadas em despenhados cenários tirânicos...


— o fogo liberta o calafrio e solta a sede das lavas epidermicas e nos entrelaça num suor exaltado e urdeiro. Engrandece o prazer nas teias de uma desejo em sítios comedores.


[AH! pudesse eu fazer chegar a todos os corredores amanuences os meus sentires e aniquilar as luas prisioneiras que balanceiam cervas de um castrar que carboniza as virilhas em vitrais encalços]

 

 

 

 

*

 

"Os lábios animais no discurso de um tempo...

O céu adentro, hábil a gravitação assanhada da língua em movimento. A pressa, faiscante. Soldada e cheia de extremo a extremo e as pálpebras em queda nos arrastam numa loucura arborizante…

As mãos exiladas tudo cercam e as margens entre nós derrubam-se cercando-nos em contagio nas frases orgânicas que embelezam a forma cilíndrica, no agora naufragante…


O poema se liberta. Ilusionista por entre a fortaleza da púbis.


O ar felídeo, anatómico pelos timbres de um fogo que transborda pelos corpos e mantos… ah se os acordes falassem que diriam eles dos nossos respirares ilícitos?


No inicio sempre existe o verbo, depois ele aquece e se torna incandescente, ardendo, ardente, em fogo, num parêntese latente que bate, e se torna Infinito."

 

 

 

 

*

 

(...) o meu delírio arde, espelha-se o olhar, os séculos, degrau a degrau erguem-se e nele a escadaria húmida nus meus Múltiplos Astros…

o meu delírio é, alguém predatório que procuro no silêncio profundo de um foco transparente. Límpi...

do, cheio de reflexos invasivos e viseiras que guinam o amargo, o meu delírio tinge e atinge em mim os montes e vales submersos nas carnes trémulas onde sustento a futura palavra em batimentos e adágios gigantes.

Plinio, terrível, o meu delírio ardente na loucura, nas águas esticadelas que em mim se evaporam e reaparecem no sangue que antecipa o corpo monstruoso, o espelho dextro, sonâmbulo.

A linguagem, minha, È delirante!...

Uma onda, imemoral que rebenta entre os meandros quentes, difundidos, secretos, subtis, tensos na translúcida brutalidade do Astro em delírio.------- ele é a minha palavra, aquele onde me encontro profunda de lírio em lírio. Onde a fera cresce e aumenta, o delírio geométrico, ganítico! Um naufrágio(...)

 

 

 

 

*

 

"O Teu ébano gigante borda-me os dias e as fontes, todos os éteres impossíveis. O nada absoluto atravessa o meu pretexto tempo. Incrustada na acção, o sonho respira, e prolonga-se no escuro que suspende paisagens, apertando-me completamente às colinas de um impulso concreto, difundido entre os nossos pensares espaços. Sonhos e outras matrizes ininterruptas".


Ouve-se o recamado dos passos. Debruça-se a dia. Põe-se a caminho o ímpeto e outros arfares e se viram os gestos um para o outro…



(ela)


O rosto abre-se na treva de um único sentido. Encontro-me suspensa entre os lábios sorvedouros que arrebatadoramente unem-se para constelarem espiráculos.

Efervescências. Gorjeios detonam-se nas valetas molhadas das línguas que elevam-se entre as vistas e os olhares, com..ple…ta…mente pegadas…!



… num plexo fálico, a tenaz hemisférica de um membro que mergulha e amplificando as ilhargas num silêncio soerguido…



(ele)


A sede dentilha profundamente no bosque mordente, num seio em plena ferragem.

O beber interminável, articulando o desembarcar nos obeliscos, entre, entra para se consagrar hipnotizador… na ponta com medo de roçar. O som mergulho devagar debaixo entrando num espaço negro.



(ela)


O cantar. levanta-se em cima. O cantar levanta-se em baixo e o pénis em cauda abre o som incessantemente pelas metáforas em liberdade.

O frenesi é a odisseia que banha os suores licores que nos trópicos lugares descalça.



{dele}

— ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh…



O gorgulhar entre as lactescências narcóticas da mente cobertas de sexo e arrastões.



{dela}


— aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh…



Na rebentação das resinas ardentes a estelar. (Ela) vem-se no terramoto que enrola-se grande nos lugares que se moveram entre um céu sílico e onde se desejava o brotar das águas repuxadas em cúpula.



(Ele) em todos os nus lugares, inextricável;


— ahhh!... Como custa falar deste selvagem sentir violentamente arrastado cegamente entre todos os meus lugares completamente deslumbrados…



[nele]

no ópio que prolifera entre os áridos ares e eriçadas os corpos nus se rasgam em massas puras. Faz-se a separação dentro do céu denso entre o sangue e os lugares.



[nela]


Em fenómenos de tanto poder e delicadeza entre os idiomas genitais que se unificaram para se despedaçarem em violentos e profundo lumes, encharcando os órgãos vivos em químicos suados que se devoram enquanto duros até ao núcleo da ultima respiração, ardentemente brota do cume inchado das carnes…

 

 

 

 

[imagens ©Christos Tsoumplekas]

 

 

 
 
 
Luisa Demétrio Raposo (1973, Oeiras-PT), poeta, vive na cidade de Portalegre. Publicou Nu Âmbar da Minha Escrita (2011) e Nymphea (2012). Participou da II Antologia Temas Originais (2010), III Antologia Temas Originais (2012), Portalegre em Momentos de Poesia (2011), Antologia de Poesia Contemporânea Entre O Sono E O Sonho III (2012). Fez parte do grupo de poetas convidados do Encontro Internacional de Poesia, Literatura e Arte: Portuguesia (2011). Partilha com os cibernautas um espaço na internet, o seu blogue, Vermelho Canalha, onde publica poemas, cartas e prosas poéticas e eróticas.