E você vai me dizer que as mãos não são justificáveis

 

Pouco antes de enterrar a verdade na recordação imunda toda fragmentada

estilhaçando lágrimas para todos os lados e preceder rolando

na espiral homogênea que liga nossos astros escondidos um tanto quanto esfumaçados

vai dizer que não há volta e isso e aquilo e tudo mais

mas até quando permaneci ostento suas cicatrizes acariciando esses pedaços de ossos largados misturados com pouquíssima carne esquentando a frieza decorrente da antagônica aspereza de quando me jurava amor

mentia

eu sei que mentia

e era alívio imediato a presença indiferente

desses cobertores

que não esquentam os pés mas servem pro inverno incomodam no outono apodrecem no resto do ano dos equinócios e são trocados por outros cobertores levezas

que se suicidam no descarte não preparados para a reciclagem

porque aqui é sangue

meu bem

nutre um bocado de parasitas e é quase recíproco à gentileza da morte lenta

esfomear o ventre do homem

é desconsagrar uma vida de aprendizado

bruto rebusco de insensibilidade em jardins monocromáticos regados com suor do esforço em tentativa

mesmo assim a consciência é de pura pena

pelo acontecido mas só na hora

em que não se estanca isso que vaza em berros

é meu amor

é assim que as coisas funcionam

quando as minhas mãos não se exercitam em outras formas

e ficam com medo de encontrar outro lençol velho

que não aceite a generosidade de inflamar

cosmogonias pluricelulares.

 

 

 

 

 

 

Cavidade

 

Molesto os traumas numa dinâmica dissolução imputável

carregando-me cauto no consequente intérmino

do colérico rumo antagônico e vejo

pulmonar a consciência de mim para com o sobrelevante fender-se

acudo o purismo antes de dissentir na grafia dos arfantes

e persigno-me a superfície passageira do sinóptico existir na tríade comunhão

provável que sou risco de fora a fora o silente núcleo

que jaz como um chamariz de diferentes tratados

elementares pelas polaridades

infinitas imagéticas labaredas volíveis

quando me esforço de vez no incognitivo

lampejar uniforme alastrando o paraíso que creio

pela senda da cruenta floração cerimonial

então amanheço como eis de conhecer-me

libertário despedido alquímico

contemplativo de um asterismo manifestado.

 

 

 

 

 

 

Nas ferragens das suas partículas comprimidas

 

Manifesto êxtase quando te lambo na última tentativa de sentir o sabor inorgânico da relevância extracorpórea

mas não trago gosto algum e logo penso

deve ser a vazies dos rastros que você carrega hóspedes de outros tempos infecundos

onde a graça nascia dos autônomos baques cataclísmicos

ilusões deslembradas para não sufocar o caos do entregar-se aflito

sucateando você em mim

pela pressa da presença e o castigo

é o meu cacete enferrujado

envolvi mais do que prazeres movimentos fetiches

violação uterina filantropismo abrasivo

fiz prevalecendo o cuidado

coitado de quem toca e não arranha mostrando a fragilidade passageiro de primeira viagem

sem saber que o outro esmera o fim

decomposição afetiva cambaleia

olhos engrandecidos de negrume murcham

perversos espinhos nascem buscando significados autênticos em meio ao sono

o que reluz é o amontoado de bugigangas lunares presas no delírio dos goles

tentando achar um canto onde haja aceitação

conforto privilégio de poder contracenar com o silêncio miúdo inalado no incêndio

em cinzas fragmentos seus caem a todo instante

destelhando minha morada

já não sei pra onde ir o que tocar se devo correr nem o que usar de subsídio

o distanciamento está se fixando descaso inevitável

em vão os pensares procuram

estou domesticando as lembranças que nos rodeiam

acho-me propício ao desespero

subjetivando sair das suas ferragens antes que o respingo se faça fonte

e eu fique preso largado

esquecido

engalfinhando pena e afiando o açoite.

 

 

 

 

 

 

Jim atravessou as portas da proeminência

 

Em pirofagias fazendo o espetáculo

do sonambulismo em volta do todo

cintilando lamúrias

exercendo a arte

sendo o único

 

Deixe-me crescer dentro

dum lugar onde me entendam

ou num ventre

ou numa ostra

ou num árido gotejar de frenesis

 

E me tirem o lacre da inércia

e que eu mesmo me arranque numa imiscível

velocidade dissoluta

 

Vou soluçar as dúvidas e nadar com as flores secas sobre o gramado acompanhar os corpos esquecidos sob a Terra

acariciar a escrita substitutivamente

exercida nos entraves do equivaler

Pintar o rosto com a falta das imagens

e os rabiscos tecidos

nada de cores

sem sombreamentos bordas e paredes

e quando na esperança de reaver

não me falte nada

coragem ao morder a gaita e aceitar o destino

 

Jim

me estenda as mãos e fure minhas veias

e me deixe viciado

como um invertebrado

comendo as raízes de toda essa trilha barrenta

de línguas pluralizadas no caminho centrado

e por nada nesse desencanto

que a vida se faça a lembrança incognoscível

 

Coloque-me no paredão

e mire toda a perturbação coletiva

no meu sorriso despreocupado

pois não fará efeito trágico

será cômico me ver destruído pelas

transmutações orbiculares

 

Será fácil tornar de forma inesquecível

a sinfonia dos disparos

enferrujados

amortecer com o sopro

que desperta cairei aos poucos

mantendo a espinha ereta

e o sorriso arregaçado extrapolando

a mania irrevogável de apodrecer

sem me queixar

 

Jogue-me uma aceitação que atravesse as portas

da proeminência e puxe

mas me deixe cair e ficar perdido no vão

da tenuidade visceral

 

Eu quero ser dentro

de alguma coisa

uma grande

obscuridade.

 

 

 

 

 

 

Não esqueço

 

Já esqueci formas esculturais de ambições abundantes

noites instigadas pela devassidão lúdrica

gemidos cênicos à meia luz minguante

 

Falta-me obstinação para esquecer

o contorno do seu rosto indecifrável

meus gestos minimalistas que se refugiaram no seu inepto leito

e as nossas vidas que se fundiram no colapso

infindo da plenitude sensitiva

 

Musiquei-te a promessa em afagos

estendendo o céu sobre o castigo da pele

ancorando a solicitude nos riachos dos olhos

 

Um romântico do século XXI que feito adolescente

cuidadoso tremia no ápice dos contornos e suavizava

nas linhas dos desejos

 

Um pequeno toque dos lábios enriquecia

a violência de quem é perpetuamente

acomodado no mundo das mentiras sentimentais

para transformar o organismo perplexo em acontecimentos

históricos de uma existência superficial

 

Te amo

te recuso ao futuro anêmico

te nego ao próximo bastardo

e morro pelo egoísmo da sua companhia

 

Que se foda essa concisão de

valores habituais

desnecessários

para a sobrevivência da felicidade

 

Se me fosse dado um útero estaria escrevendo

com ele cuspindo óvulos de

uma paixão arrebatadora

 

Estou aqui

esperando a sua volta

mesmo que isso perdure

pela renovação do próximo universo.

 

 

 

 

 

 

Você nem imagina

 

Você que me vê

Distante em

Caráter singular,

 

Não imagina as

Tantas deformidades que

Carrego por debaixo

Do rosto

Mascarado,

 

Não imagina que

Disfarço muito

Bem quando tento

Sorrir em um grupo

De palhaços,

 

Não imagina o

Obtuso rasgo

Do tormento que

Me arrebenta

Me torce

Me espanca

Me tira o sono

E me joga contra a parede

Dos estigmas,

 

Não imagina que o

Instinto é o meu espírito

E o medo sempre consta

Nas decisões imprecisas,

 

Não imagina que

Estou sujo e escalpado

E ninguém se compromete

Em limpar o meu defunto

Com receio de se contaminar,

 

Não imagina

Que minhas mãos

São violentamente delicadas

E ferem a escrita em

Busca do conforto

Passageiro,

 

Não imagina que arregaço

Estripo

Estrangulo

Cada rosa que tenta

Desabrochar no meu jardim

De lesmas

Corvos e insetos da putrefação,

 

Não imagina que

De dia sou couraça

E à noite

Vândalo linguístico

Nos prazeres mórbidos

Dos paralíticos intelectuais,

 

Não imagina o quanto

Já fui traído por

Criar convicções onde

Existia apenas a

Saliência do vazio,

 

Não imagina o solo

Frágil e arranhado

Por onde me equilibro

Onde me arrasto

Onde lustro com

A cara faminta

Sendo que era apenas

Pra cuspir com cuidado

E pisar devagar,

 

Não imagina a

Origem ou a falta

Monstruosa de covardia

Que busquei

Quando pensei em

Desistir da vida,

 

Não imagina as intraduzíveis

Intransgressíveis

Incompreensíveis

Atitudes imaturas

De quando chorei

No banheiro tentando

Tirar o encardido

Agonizante do rosto,

 

Não imagina que a minha

Sentença é a liberdade

E fico no compasso da

Injustiça que cometo

Quando tento me igualar

Aos mudos

Incapazes de sangrarem

Quietos,

 

Você me olha tão

Distante que não sente

O arrepio do meu frio

Cardiovascular,

 

Você nem imagina

O esforço que faço

Pra te dar um

Suspiro-abraço

No seu pensamento

Distante.

 

 

 
 
 

Desespero, te espero

 

Protagonizo a carnificina em meu antropo

(Egoísmo)

Invocando o martírio,

Empilhando o lixo corpóreo,

Desossando em trevas o espírito.

 

Convulsa,

Indócil,

Plasmática

Carcaça sensível moída,

Te venero em festejo hasteando os pulmões

No mastro do estrondoso silêncio.

 

Zombo do rompimento celeste...

 

Tão pouco me cabe!

Tão pouco que sou,

Tal nada me invade.

 

Algoz? É o precipício mudo

Mais do que afiado,

Romper o lacre da pronúncia dormente,

Mas quando o previsível é pouco

O sepultamento do grito surpreende.

 

Os fatídicos que me assombram

Intui-me à vontade, antipatia pela fissura.

Intrépida aparência, linear conjunção,

Fundido de retardos e loucura,

O desespero é a última salvação.

 

Carrego a indecisão dos gestos,

Da performance,

Do contexto,

Virgem de mudanças

Em perfídia abstrata.

 

A doença de um rosto imaturo me persegue,

Uma dádiva remendada de dejetos.

 

Tão imenso me cobre!

Tão imenso que fere,

Tal pesar me destrói.

 

Desprezo o arranjo tecido na pele,

Fértil impaciência, calado descoro,

Grácil submisso da perturbação

Que se esgota infecunda.

 

Frialdade desesperadora é quando

A penumbra me encontra

Perambulando pelos cantos

Forçando-me o despertar

Com o seu retrato no colo

Entre o medo e o silêncio.

 

 

 

 

 

 

Recalco de insensível

 

Declarado

A desova

E o descuido,

Fragilidade decomposta na gaveta funesta,

Vergonha acentuada

Na autópsia dos sons,

Entre o preto e o branco

Quem amedronta é o vermelho.

 

Elucidação craniana,

Quase um penhasco mal regado

De sujeira,

Tristeza

E febre.

 

Minucioso minúsculo em entrave secreto,

No tórax forjado,

Nos nervos amarrado,

Nos músculos desfiado,

Na pele

Sangrento.

 

Metade do arrependimento incerto

Despedaçado

Sem conserto ou dança,

Musicalidade e compassos

Sem velas e flores,

Patamar grotesco,

Descascado violento

Sem poros,

Ou melhor,

Sofrido erosional

E Impreciso

Lastimável.

 

Quem me vê?

Intensifico a minha fuga

Ao vazio da barbárie,

Fecho a gaveta,

Amarroto o cabelo,

Tiro o dedo da goela

E tranco com cadeado

Esperando o enterro

Das conquistas esquecidas.

 

 

 

 

 

 

Cosmogonia

 

Ausência de certezas constantes

Que cercam as dúvidas descrentes

Dos temerosos desbravadores receosos

 

É um triunfo o fracasso

Universalmente conhecido

De quem tenta compilar a vida no pensamento

 

Um vício para a arte

Que preenche o vazio contínuo

Com os infindos nutrientes desconhecidos

 

As más línguas lambem o solo empesteado

Pagando promessas de crises depressivas

De quem se apoiou num guia cego

 

Transfigurou-se em inferno castigo

Dos que engoliram aos punhados

A ressequida magnitude atemporal

 

Não tarda e não falha

O imenso segredo atrás do véu

Espelhado na inspiração poética

 

Um leito hospitalar entupido

De espécies frágeis doentes

Esperando pelo atendimento da sabedoria

 

Por vingança de justiça

No equilíbrio da perfeição

Devolve em dobro as feridas ao lázaro

 

E a cólera agonizante que o cosmo baba

No rascunho desértico da solidão embrionária

É o norte de quem procura uma resposta.

 

 

 

 

 

 

Sua febril nudez me excita calar

 

A culpa é um maremoto compulsivo

movimentação esquizofrênica de taquicardia nas tentativas

em vaivém revoltando-se náuseas

excessivos trombos

enfermidade de trancafiar buscando o suprassumo da complementação no mover-se

ânsia de mudez em sigilo dormência temporária

e nós nos ralamos faiscando desordens orgasmáticas corrompendo no desdém

horizontal

você sobrepondo-me com os lábios encharcados

e eu encobertando-a com o domínio encarcerado

conduzindo-te ao desvio de conduta

onde os paradigmas e as metáforas bloqueiam o viver da ação futura

no contratempo do ontem atemporal em leal afinidade prolixa

porém cravo-me sequelas na respiração e sofro o desprazer egoísta

horrível

e infausto

de ter jorrado contra seu seio a infecundidade minimalista

blasfemando a Afrodite que repousa na sua sombra

e renuncio o sabor das suas realezas explodindo-nos desleixo

caçando o seu ponto fraco para poder desconcentrá-la e arrancar a sustentação

que te ergueu

na visceral energia se arrebentando luz na paisagem monocrômica insensível

depois de um longo caminho decepcionado

acanhando-me após o embalo nostálgico

amálgama a sós de franzino despertar

subtendo-me castidade

e o que fica em mim

é a grafia poética dos tesouros escondidos no templo do EU

que está prestes a ficar calado nos espaços inutilizados ousando separar

a temperança que uniu os sabores amargos guardados em nós.

 

 

 

 

 

 

Vossa senhoria fode com excelência

 

Da onipotência arbitrária sou o freguês que mais se rebela contra o sistema empírico de subir aos solavancos

empurrados pra dentro de nós programados com a racionalidade da limitação em ser criança teimosa que sangra quando se atreve e derrama-se na posição fetal com medo

do escuro mas lá é o refúgio dos cacos

espelho algum sobreviveu ao julgamento de si próprio para a companhia que nunca veio

falta mesmo é sentir-se

um ombro nas más horas sem contestação algo de pura finalidade

coerente em ouvir amigável em permanecer amorosamente sutil por existir não pode realizar o sonho porque o desejo é de mentira e a sincronia dos tragos com as palavras expostas e as fraturas escondidas nesse que não é mais um corpo se tornou

apenas castigo de sina terrível ardiloso perplexo claustrofóbico calado amontoa-se com dó esperando a multidão aquietar o fanatismo sedento

porém a multidão se afoba lá dentro

há festejo com tristeza e chuva ela comemora a queda da inércia incabível ser de outra maneira

liricamente inesquecível esse estrondo de gozo uivo e solidão

por menos que pareça será enquadrado na memória

com as cores da vida que se afogou

ancorou redemoinhou nas próprias águas geladas que brotaram nas nascentes naturais do corpo

os olhos anêmicos até a vangloriação

passou-me corroendo a noturnidade das atitudes vigorosas quando eu estapeava aquela bunda seca

estripada estriada em osso barato de vida depressiva

e exercia a função de procriadora da poesia-porra-romântica

esguichava da boca sentimento algo inclassificável pela incapacidade peitoral ainda não sublimado

nos seios que enchiam as minhas mãos na ausência do adorno

era feliz com aquela carne quase bem conservada

e nem sabia a grande merda agora é o quanto dói ficar me masturbando

com o cheiro latente do descaso martírio

que ela me oferece toda vez que eu tento revigorar a nossa mazela

na pronúncia amável de receber um adeus

pra não morrer de saudade.

 
 
 

Entre tantos cantos

 

Elevo-me à circunstância quando tento fulgurar clamor na arcada dentária trincada pela fúria de não enxergar as estrelas

que se esbravejam no meu céu depreciativo esquecido numa boca que não prevalece viva não permanece faminta

e parece não querer mais ninguém

pra ficar ruminando o passado e tocar a frialdade desconexa de outra língua porque o meu latido assusta quem não se acostumou com a febre e os sintomas degenerativos

agravam a minha simpatia

aterrorizam os olhares e aguçam o julgamento

da expressão largada em desfalecer

abraçado com a rigidez de qualquer canto

 

Vasculho na poeira do espelho lapsos vertigens

aparência estilhaçada

pileques drinques coquetéis

por amor ao sagrado que me sangra formular um anestésico que substitua a falta

de quem me fez um dia

querer endeusar a porcaria que apodrece

 

E fica tudo tão caótico quando o até breve

se torna distante

e o se cuide

empedra no peito

e as lembranças não flutuam e caem nas mãos desamparadas

em carne viva

de tanto cavoucar o abismo daquilo que continua passando

e remontando

tornando-se um ciclo iniciático

do ardor

 

Elejo-me o rei dessa terra onde ninguém há de buscar

conforto para os fiapos abominados que ficaram nos vãos

da tentativa

encolho e retalho o dorso frenético de saquear

esfaquear

apenas o leito da minha sensibilidade atenciosa

recalcada nas vitrines dos labirintos

e me vejo

apedrejo

não morro

eis de ser nada além do que o sonho em matéria

 

Devo estar mesmo caído

desses anjos que se arrastam e é descartado da cosmogonia

restante de alguma anomalia pensante

genética etérea vascular

por ficar corroído na água cristalina

purificadora do endiabrado selvagem faminto

que não aprendeu a controlar o instinto

e ama qualquer carniça ambulante

para enganar o plexo solar

 

Mas essa faísca que se ocupa do meu corpo

não me deixa racionalizar sobre os invertebrados

peçonhentos que investem duro na couraça seca

de quem anda descalço

aceitando a inutilidade

das roseiras no jardim que nunca será regado

 

Contraindo os vasos sanguíneos para não sobrarem

espaços no universo paralelo que gira

em redemoinhos coeternos

segredos subalternos da sã exuberância

iluminando o momento em que se vive

 

Ação mecânica das engrenagens esqueléticas

dos padrões em fugas

deslocados do próprio mundo onde foram levantados

os estandartes da agonia afeiçoados e cultivados pela

alegria da dita perfeição corpórea escravizada

nos medos expandidos em culpas e que não somem com o suor

dos puritanos afogados no orgulho

de não poderem dançar e cantar

a maravilha que é ter sentido na pele

a miscigenação

de todas as células que exploraram a etnia dos prazeres

 

Os velhos sinos barrocos cortejam a nossa incredulidade

e diante do céu espelhado no azul-abraço

sorrimos no deslize

esquecido

 

Exilamos as mãos que passaram

tateando as rotas e tecendo rastros

nas curvas excitantes dos gemidos contorcidos com a temperatura

amena que nos transpirou torpor

 

No abalo frenético da química

nua que habitou o contato

agiu feroz

e resultou arranhões

nos ombros mordidos e marcados

exteriorizados os peitos gritaram

forçaram um corpo sobre o outro

em pecaminosos entraves eróticos até que o sol se pôs

e o nosso regozijo harmonizou o horizonte vazio

que hoje não passa de uma cena repetitiva

no pesar das lamentações que florescem sempre que a vida

se mete a remoer nuvens passageiras

 

Idolatro os papéis que enceno de forma tão majestosa e inigualável seguindo o mesmo roteiro desde

os primórdios da verbalização humana

transmutadora chama que se alimenta

do fogo gentil que não me queima sem violar a intimidade expansiva que me engrandece enquanto pronuncio a serenidade de voar baixo destoando suspiros alados

que pairam nos ombros como um véu que guarda o segredo da verdadeira face

 

Visgo musgo limbo

serenata do silêncio no túmulo

em meio ao alvoroço

das rosas que rasgam os vasos

tentando alcançar a paz

e desejam boa noite

aos defuntos

que estremeceram na incontrolável nobreza do tombo

 

E esse bagaço humano que arrasto

feito escravo sem a sobra dos restos

que rumina a paciência para menosprezar a fome

cintilante estrela rabiscada sangrenta

existente numa história de mágoas

e sobrevivente do presente carrasco

frondosa aurora que foge para dentro

tão distante de ser encontrada

tão miúda que não pode ser atingida

no molambento lombo que suporta o açoite

e os grilhões

cerrando os ossos com discursos imperialistas

visando retirar a moral

de quem se fortalece no barro da humilhação

e levanta com a exaltação colérica de setenta e dois deuses carniceiros

querendo roer as tripas por vingança e cuspir todos os antepassados

que marcaram o ódio na pele

de quem foi brutalmente trocado

por um punhado de metal caracterizado com o valor da vida

 

Visto-me encarecidamente triste

para mostrar a tempestuosidade

normalítica que molda meu frágil e doente rosto deformado

porém o que me acalma é saber

e comprovar com a recriação do apego

que diante desses monossilábicos seres amedrontados

eu nasci do sofrimento orgiástico dentre milhões de partículas

                  

Perdi muito tempo parado naquele instante que pelo momento esperei por um novo agora sacrificando e substituindo a jornada do ontem satisfazendo o vazio que me trouxe hoje

correspondente ao arrependimento de quem chora largado ao sentimento surrado

 

Reclamo do sórdido vocabulário que não me deixa pronunciar

a conformidade necessária para estourar o que corre lá dentro

dos questionamentos sutis das ações oportunistas

passando como escrituras de carvão no solo que me apago

com as lágrimas celestes

abreviadas na rebeldia

remoídas com a angústia exagerada

desapercebida  de quanto é medíocre ser veloz

 

Não consigo nem compreender a formula da exatidão

finco-me calado

no direito de pensar

e me queixar por não merecer a penumbra

que em catástrofe serena retarda as decepções

 

Façam-me um rombo nos intestinos chamem de operação

ou medida drástica para confortar essa suprema ausência de algo mais que martela em definitivo desorganizando a calmaria

transferindo-me deficiências feito um ímpio que dramatiza a vida buscando certezas nas pedras sepultadas

tentando provar que o teorema das possibilidades

está oculto num simbolismo erudito

 

Arranquem o conteúdo que estiver atrapalhando

minha complexidade

para eu não pensar mais em coisas tolas e ser levado com o corpo que expele contrariedades especulativas

no fosso das lamentações

podendo emudecer os gestos e amarrar o grito nas extrapolações solitárias

dificuldades das vias que me findei

 

Nada mudará com essa tal eloquência

até posso parecer relaxado

abestalhado por salientar o obtuso

mergulhado no buraco com a vontade de quem não quer mais subir

 

Se a timidez se cansa

o corpo resplandece

se o corpo cansa

a alma renasce

mas se a alma cansa

o céu desaba e tudo o que poderia ser

escurece

 

Eu torno a cidade que me aplaude um incandescente cemitério

à noite

para que ninguém ouse sair do meu segredo

dizendo que as mulheres passageiras

me devoraram com bruta animalidade

 

E os fantasmas famintos pelas lembranças

vagam e correm atrás do meu coração enlatado

feito sardinha triturada

para corroer e destroçar as miniaturas

dos afetos que cuspi pra longe da minha recíproca

 

Tendo somente uma única mãe provisória

e o mínimo de aptidão ao sensato

a minha criança se debate nas garras da ilusão

que esmurra a inocência das perguntas ingênuas

descendo pela goela

uma pequenina tosse de azar

engulo o catarro

afirmando para a recordação

que morrer é apenas o sintoma precoce

 

Essa monótona espera

me calcifica o caos no abstrato

esperando a pouca vontade da reação

sacrificando-se quando senta

feito um rançoso esperando a

caridade que nunca chega

 

A dependência é uma sina ardilosa

costumeiramente habituada a subir nas costas

para enxergar

além do que as lágrimas alcançam naturalmente

no cego fumegante 

fraturado

das coisas inclassificáveis guardadas no desconhecido apogeu da imensidão

 

Não adianta mesmo beber o porvir

com porções de rebeldia

insatisfação com a vida e se entregar ao acaso

já que passando por vielas de chumbo

notei que a cor do dia não altera a sobriedade

e suavizar as pancadas é implorar pelo retrocesso

 

Guerreio entre os nós

durante toda essa meia existência

e não me vejo focado em nenhum objetivo

para subtrair em cada degrau

uma personalidade barrenta

derrubar em cada vereda

uma infecunda semente

e abraçar a sincronicidade do absolutismo vibrante

 

Terríveis perdas irreparáveis

no vasto mundo cinza

cerúleo violentado

onde as sombras mostram a irreconhecível maledicência 

dos parasitas que se expressam em onomatopeias

antes do brilho se fincar falange.

 

 

 

 

[ imagens©calliphora ]

 

 

 

 

  

 

Bruno Bossolan (Capivari/SP, 1988). Poeta. É cronista do jornal O Semanário, autor de N(ó)stálgico (poemas, 2011) e Barbáriderna (poemas, 2012). Bloga em www.brunobossolan.blogspot.com.