azeite, vinagre e sal

 

 

1 (Pequena introdução extremamente necessária)

 

Alface é verde.

Este é o primeiro ponto inquestionável

deste poema.

 

O segundo ponto inquestionável

deste poema é que Al Pacino

como alface é um excelente ator.

 

Não tenho informações suficientes

para afirmar que Al Pacino come alface.

 

O que não tem nenhuma importância

neste poema.

 

 

2

 

O fato de eu ser vegetariano —

mesmo Al Pacino sendo um comedor de alfaces —

não faz de mim um homem mais corajoso.

 

 

3

 

Quando vejo uma

alface não me

lembro da esperança.

 

 

4

 

Quando vejo o

mar quando

o mar está verde

me lembro da esperança

(mas só porque dizem

que a esperança é verde.

Não que a ache necessária)

 

 

5

 

Quando  vejo o

mar quando está verde

nunca me lembro da alface.

Nunca me lembro

que sou vegetariano.

 

 

6

 

Quando vejo uma

alface nunca me lembro

do mar. Na última

vez que vi  uma alface

me deu uma sensação

de afogamento.

Por nunca me lembrar

do mar quando vejo uma

alface

e por esta vez ter sido

igualzinha às outras

não entendi porque

a sensação de me afogar.

 

Quando vi o tomate

vi um salva-vidas

gordinho.

 

"Nunca me lembro de Al Pacino

quando vejo uma alface.

Nunca penso em uma alface distribuindo

tiros a torto e a direito

quando penso em Al Pacino".

 

Este comentário está totalmente fora

de lugar.

 

 

7

 

Nunca me lembro do mar

quando vejo uma alface

nunca me lembro da esperança

quando vejo uma alface

mas senti uma vontade

de dar um mergulho

na alface na última vez

que vi suas folhas em flor

desenvolvendo seu

acabrunhamento vegetal

em camadas

não se explica eu achar

este mergulho importante

para achar coisas

importantes

se nunca pensei na esperança

quando vejo uma alface.   

Senti vontade de dar

um mergulho quando vi

a alface, mas jamais esperei

encontrar cardumes em cores

histriônicas, corais maravilhosos,

os escombros do Titanic, resquícios

das viagens de Marco Polo,

ou a dança tentacular de uma

medusa madalênica.

 

Jamais esperei que a alface

fosse um mar só porque verde.

 

Jamais esperei ver o mar

se acabrunhar em folhas para

dentro.  

 

Nem  alimentando coelhos.

 

"Nunca penso em O Poderoso Chefão quando vejo uma alface,

nem em pactos de sangue".

 

Mas o que há com este poema?

 

 

8

 

Quando vejo o mar

eu vejo uma porção

de coisas

que não são nem a alface

nem a esperança e nem

a esmeralda que ainda

não foi citada aqui.

Essas coisas que vejo

quando vejo

o mar são tão grandes

que não caberiam neste

poema sobre coisas

que não vejo (e pouquíssimas

que vejo).

 

Eu não vejo esmeraldas

no mar mas isto não

impede o mar para anéis

não inviabiliza o mar

para pescoços.

 

Só não vejo esmeralda

quando vejo o mar.

 

 

9

 

Quando vejo uma alface

também não vejo

uma esmeralda.

 

O que não diminui o quilate

das gotinhas de água

sobre a verdura.

 

 

10

 

Terceiro ponto inquestionável deste poema:

Este poema é só uma salada.

 

Uma salada no meio de um tiroteio.        

 That's al-

        l.

 

 

 

 

 

 

lobo, bolo é tudo uma questão de ponto de vista

 

ao mestre Waly

 

1

 

onde estou, Waly?

Sailormoon,

responda

em que onda

caiu o band-aid

da minha ferida?

 

 

2

 

não sei se você sabe...

na boca do lobo

há 30 encarnações

do mesmo hindu.

precisa ver

cada indumentária.

 

 

3

 

predomina o púrpura

e os turbantes

na língua

serpentes ascendem

rebolam tanto

parecem chamas

de vela, Sailormoon

mas não há vento

que as apague.

 

 

4

 

onde estou Waly?

o ponto amarelo à esquerda?

o ponto vermelho ao centro?

onde nesta doideira.

 

 

5

 

caiu minha viseira,

Sailormoon,

o sol bate no olho direto

o sal bate na ilha

quem está na pilha

é o peixe

passando a lábia

em Netuno

seduzindo Iemanjá

pra sair do mar.

 

 

6

 

vai pra onde peixinho

o céu não está pra peixe

o azul não garante o oxigênio

e nuvem não é espuma.

 

 

7

 

o band-aid

já ia esquecendo

saiu da minha pele

para cobrir a bandida

da vida

inteira.

 

 

8

 

mas em que onda

caiu em que onda

anda

diz

sabe quantas escamas

tinha o peixinho

e não sabe me dizer

em que onda caiu o band-aid —

 

como foi parar

na vida bandida

nem pensar,

né...

 

 

9

 

aquele inchaço na barriga do peixe

é a vida bandida

o peixe engoliu o band-aid?

 

 

10

 

mas em que onda, porra?

 

11

 

a gente morre no detalhe.    

 

 

12

 

na boca do lobo há trinta encarnações do mesmo hindu.

e se bobear é pra lá

que o peixinho vai

"na boca do lobo há 30 encarnações do mesmo hindu"

E ninguém me pergunta como?

 

o presente o passado o futuro

se aglutinam

na boca do hindu

e todo mundo pensando na vida bandida

na barriga do peixinho.

 

 

13

 

olha

a vida é até minha

mas só o que eu posso

informar

é que ela perdeu a manha

das armas.

 

 

14

 

entre mortos e vivos

lá vai o peixinho na boca do lobo.

a primeira vida que não é uma encarnação de hindu.

com a minha vida na barriga

podendo atirar a qualquer momento.

mas não.

a minha vida não é mais aquela

só quer saber de amor

a regenerada

 

 

15

 

pro peixinho as serpentes

são anzóis —

"até aqui o ludíbrio"

ele perplexo.

 

 

16

estou aqui Waly,

só não sei onde.

 

 

 

 

 

 

DOIS LADOS

 

a Carlito Azevedo

                                          

1                 

 

Meu lado Touro

é um elefante.

           

o que seria

do meu lado Touro

 

se não fosse o

outro lado, este

elegante.

 

Meu outro lado

o lado Peixes

ensina o Touro a nadar

o lado Touro

que é um elefante

 

o que é

providencial

para quem vive se metendo

em águas

 

nem sempre rasas.

 

 

2

 

Meu lado Touro

é uma tora arrombando

portas.

 

Meu lado Peixes

uma tira verde

de papel vergê.

 

Meu lado Touro

confunde muito

o papel

com capim.

 

 

 

Meu lado Touro

é um Schwarzenegger.

 

Meu lado Peixes

é um Fred Astaire.

 

Enquanto um sapateia no teto

o outro extermina o futuro

 

só isso.

 

 

4

 

Para o meu lado Touro

um obstáculo

é uma bunda de toureiro

numa reluzente calça vermelha.

 

Pro meu lado Peixes

mais delgado

um obstáculo são anzóis

iscas (às vezes de borracha)

bocarras de tubarões.

 

Impossível casar

Touro com Peixes

não há sexo entre seres

de distintas espécies.

 

 

5

 

Assim caminho

 

ora um lado

ora outro

 

incoerente

implausível

 

e se não um

completo elefante

também não um

completo elegante.

               

 

6

 

Às vezes me sinto assim:

um ser com chifres que nada

um ser que muge com escamas.

E olha que eles nem se casaram.

                             

           

7

 

Às vezes me apaixono por sereias.

 

Às vezes  por minotauras.

 

 

 

8

 

Porém reparem:

 

meu lado Peixes

não foi fisgado          

 

meu lado Touro

não virou churrasco.

 

 

9

 

Life is pretty.

 

 

 

 

 

 

amor desbaratado

 

 

andei pegando o bonde

abati o negro do abutre

que cai tonto tontinho

como mosca after Baygon.

 

antes de fluir inside Saigon

puxado pelo vento do amor

o selo característico

o sexo caramelístico.

 

abati o negro do abutre

pendurei seu voo no armário

já cheira a naftalina

leio Kafka ao contrário.

 

 

 

 

 

 

sul do suor

 

 

1

 

flui ou fui

nem sei mais

o fluxo não é mais como falasse

falácia menos

te diria: falos não existem

morrem na praia

longe do morro

nada mais na base

da marra

nada mais baseado

em basic

virando a esquina da linguagem

um esquilo

tenta imitar com as mãos a abertura

das vogais: é seu espanto.

e depois hum um

pega as admirações

e faz bolinhos

que lança ao

buraco de ozônio.

faria Ésquilo

se alimentar

de noz.

pior: faria eu

se alimentar de nós.

os nós desabando

em linhas

pontilhadas em danças

 

sem nenhum drama

com muito darma.

 

 

2

 

saravá ou salve-se como pode

se é sexta-feira treze

ou comigo ninguém fode.

 

 

3

 

fica com três ou quatro

mas o melhor do transe:

não ter ninguém no quarto 

e se elevar ao alto.  mas

não por escolha boba:

ou os bobs da mamãe

ou o sanduíche do Bob's.

 

 

4

 

quatro ou três nada mais

até ovelha de nuvem virar freguesa

até o mar partir a cara em velas

e o balanço marear de luz.

 

 

5

 

sem mais para o momento

assino em baixo:

love me Fender.

 

 

 

 

 

 

barbeiro

 

 

1

 

Foi difícil entrar na cachola.

"Tem barbeiro por aqui?"

No fim da rua tem um. Muito Bom.

Minha avó falava do barbeiro

inseto causador da doença de Chagas,

de antenas desestabilizantes,

corpo escuro e

abdome com manchas amarelas.

A vizinha por sua vez se referia

ao profissional        

aparador de barbas cortador de cabelos

jogador de conversa fora.

impressionante é:    falavam

a mesma língua

 

não falavam a mesma língua.

 

 

2

 

Um homem passa na rua e

ouve outro dizer:

"um barbeiro me picou".

Ele pensa ter ouvido

"um barbeiro se picou"

e logo pensa: "um motorista de habilitação

duvidosa acaba de provocar

um acidente e depois fugiu

além de barbeiro é covarde.

O barbeiro a que o autor da frase

se referia era o mesmo do qual

minha avó falava: estivesse esse

homem em Caxambu e

não duvido

os dois

teriam se casado.

 

 

3

 

O mesmo homem que ouviu

"um barbeiro se picou"

quando a frase era

"um barbeiro me picou"

entendendo ser o barbeiro

um motorista inabilitado

quando era o inseto de

abdome com manchas amarelas,

antenas desestabilizantes

e corpo escuro, diz para si mesmo.

"Matei o barbeiro"

 

Não se referia ao inseto

de abdome com manchas amarelas,

nem ao motorista inabilitado.

Por eliminação resta o

profissional aparador

de barbas cortador de cabelos

que dormiu com sua mulher na noite passada.

 

 

4

 

Este mesmo homem

o assassino não

entendeu que o barbeiro

da frase "um barbeiro se picou"

era o profissional aparador de barbas

cortador de cabelos

um homem com uma

dose elevada de heroína nas veias

o que poderia ter mudado

totalmente o curso da história.

 

 

5

 

Após o crime

o assassino toma

uma cerva no boteco

olha para cima

 

no letreiro está escrito:

 

Bar Beiro.

 

 

 

 

 

 

sujeito desligado

 

 

Ele andava meio desligado

tirou um cigarro do maço amassado

passou uma moto roncando o motor

olhou com um ar de quem olha por cima do Everest

olhar "não estou aqui nem aí"

cara "I am the Best" ,

ar de quem olha sobre as maiores alturas

do mundo. Passou uma nuvem dançando can-can,

"Can you believe",

Olhou com um olho tão parado parecia

uma lagoa mas não para a nuvem                   

dançarina para o cão

que fazia um xixi no poste

passou uma menina num mini shortinho

passou um sósia do Elvis Costello vestindo

ceroulas azuis incandescentes

passou sua alma gêmea ao seu lado

o que para alguém que acredita em almas gêmeas

é algo para deixar alucinado

e ele olhando para o xixi:

reparava no excepcional amarelo

e no trajeto pouco usual

até morrer no ralo. bem convencional.

 

 

 

 

 

 

mar réptil

 

Pode-se ver

um mar

nas ondulações

da cobra, isso na

extensão do corpo.

Nos olhos,

insinuações

imperativas superpovoantes.

Labor de labaredas tocam

as ondas como lábios.

Colaboram com o mistério

o caminho do labirinto, construído

pela tentativa de solucionar o olhar:

lá pode-se ver a cobra.

Pode-se ver no mar

as ondulações

da cobra,

no ritmo que desce

e sobe.

Pode-se ver na cobra as

modulações da música

de Rachmaninoff.

Na dobra de origami

pode-se ver

de outro modo o sobe

e desce da cobra,

nas manipulações do papel.

Começa o problema

de verdade quando pensamos

se na letra "m" a cobra pode ser vista,

ou se apenas em várias letras "m"

reunidas como mamadeira, mamãe,

mameluco, ou no refrão de uma música

mama ma mama mia ma mama mamamia, lembram?

Porém as vogais cortam a sequência

seria preciso que as letras "m" estivessem reunidas

ininterruptamente o que só acontece após o começo de uma

interjeição: hummmmmmmmmmmmmmmmm.

O modelo perfeito só existiria em

 

mmmmmmmmmmmmmm

 

o que em qualquer língua do mundo

Não significa nada.

Mas a cobra está aí.

O desenho, ondas, mar,

música, dobraduras.

A cobra, na total falta de sentido.

Sem traços mnemônicos,

onde seu lado mais letal.

No "m" ela também está, menor, mas está.

E o mar está no "m"

só não via por puro preconceito.

Nunca pensei que atrás

do "m" pudesse haver um horizonte

mas há.

 

A imensidão

precisando de cada vez

menos espaço

para se espraiar,

e o mar

cada vez mais

íntimo do ínfimo.

 

(haverá no ponto de interrogação

uma cobra?)

 

(haverá na cobra um ponto de

interrogação?)

 

Perguntas e perguntas

Aumentam o stress.

 

E o til?

E o esse?

 

 

 

 

 

 

all estar

 

 

Eu só quero estar

No bar, sentado,     

Entre outros tantos,

E muitos tontos,

E lá pelas tantas,

Eu quero estar.

Eu só quero estar.

Não mais ficar

Gastando a lábia

Falando a postes

Que já nem ouvem,

Pois já tão tortos,

Só quero estar.

E se fala tanto,

(Se falling love

Se fica leve,

Se o falo evola

Se fica lívido)

Falar a eles,

E mijar no poste,

É a mesma m,

Nada se mexe,

Eu só quero estar,

Estiar este ar,

Nesta noite,

Sentado no bar,

Já nem mais copo,

Nem mesmo cópulas,

Tudo escapole

Só quero star.

 

 

 

 

 

 

três movimentos sobre noite e despertar

 

 

1

 

Nossos olhos

Já não ligavam para lua,

Anteriores interrompidas áreas

Abriam-se para o irreconhecível,

Adstringente sempre foi esta carícia

Feita por suas mãos quando caminhamos

Conversando,

O solo se torna mais firme

Se nos entregamos,

Os olhos caminham livres sem a imposição de

Pontos de referência,

A reverência fica por conta da experimentação

Da noite, não estávamos atentos às variações

Da brisa,

A irreverência fica por conta do abandono,

Os trajetos murchavam como perfeitos maracujás,

Pouca coisa sobrava das determinações,

Fluíamos, como a saliva flui pelo esôfago

Sem antes determinar seu caminho.

Assim íamos, não queríamos as obviedades

Das constelações batidíssimas,

Queríamos  novas luzes se acendendo,

Descobrir isto possível despindo a ascese,

o que de mais arrebatador

Poderíamos nos proporcionar.

Nós estávamos iluminados

Mas incrivelmente não era por luzes,

Estávamos iluminados, eliminamos

Os volts,

Nos escolhemos voláteis.

 

 

2

 

Acordamos. A corda, percebemos

Havia acabado bem antes

De deitarmos, o resto fluiu

No piloto automático.

Nossos pés para o alto conseguiam mais

Alegria que nossos sapatos jogados.

Este alívio de tirar sapatos costuma

Nos aproximar da plenitude,

Mas nem isso se compara ao frêmito

Dos  pés despertos. Ponderamos os fatos,

"A música nunca deve se afastar

Demasiadamente da dança",

O vento cuspia uma música através

Da janela e parecíamos já ter ensaiado

A coreografia. O vento parecia

Nos puxar para dançar, nos chamar,

E não tiramos o corpo fora.

Comprovamos cientificamente

Que os pés não precisam do chão para bailar,

O que antes pareciam ter feito as duplas de nado

Sincronizado, mas suas mãos ainda

Estavam na água, e conosco não foi com tanto

Sacrifício, o vento fez quase tudo por nós.

 

 

3

 

Lá bem fora as luzes continuavam

Banais, tem soado banais estas luzes da cidade

À noite. O frescor vinha da entrega,

Do zero redondinho que se anunciava,

Não havia planos de voo,

Havia uma guilhotina pronta para

Tirar a cabeça de qualquer certeza,

Havia um mar inteiro a nossa frente —

Sem barcos, bússolas ou constelações

Que já vinham soando datadas faz tempo.

A perplexidade nos garantia,

Tudo com tons de primeira vez,

Vinha daí toda a propulsão,

Adornamos, mas tudo ali eram possibilidades

Mesmo os naufrágios eram naus,

Os vômitos mais intensos eram nossos itens,

Mesmos as planações aparentemente

Alheias das gaivotas produziam o texto.

Até os piratas nos acrescentavam,

As caveiras pareciam sorrir com covinhas.

 

 

interjeição sem motivo algum

 

uau, alguém me disse uma vez que sempre

sonhou escrever um poema

que se iniciasse com esta interjeição.

E disse mais: esta interjeição não estaria

se referindo a nada em específico,

não existiria em consequência de nada que  houvesse.

Apenas um uau curto e sonoro

sem nenhum motivo, nada que pudesse causá-lo,

nenhum fenômeno extraordinário

como por exemplo a lua roída por súbitos

escaravelhos vermelhos,

ou a morte banida da face da terra.

Apenas uau

sem nenhum fato que o causasse

sem nenhuma excentricidade

que não fosse  apenas a do som: uau.

alguém me disse e estou quase me lembrando

está na ponta da língua, está na ponta.

Sem nada que merecesse o adjetivo fantástico —

nenhum peixe que engolisse todas as estrelas de uma vez

e depois as expelisse também de uma vez num pum.

Uau sem rosadas bailarinas se equilibrando na borda

do cálice para depois caírem uma a uma

e morrerem afogadas em  vinho tinto

após spacat aéreo,

um uau solitário, fora dos longos

encadeamentos de causa e efeito

sem nenhuma palavra intimidadora

como lardizabaláceo, lutjanídeo, lumpemproletariado,

ou lual onde elefoas vitaminadas dançam ula-ula

com colares havaianos no pescoço

e  elefantes-surfistas por sua vez consomem marijuana

e detonam melancias inteiras, não.

Apenas uau,  sem nada que não fosse

sua própria existência

seu existir por si só, acho que foi mais ou

menos isto que disse essa pessoa... M, Ma, Mar-

k, só não sei se ele também sonhou terminar o tal

poema com este não-histórico,

incorruptível,

ubíquo,

uau.

 

 

 

 

 

 

little Fred

 

 

Little Fred nunca viu gaivotas,

já viu bumerangues.

Achou que era bumerangue

A gaivota que planava,

"o design é arrojado,

Mas não deixa de ser

bumerangue", e voa alto

havia perplexidade.

Bum do bumerangue se deu

Quando se deu conta

"Só vai e não volta,

bumerangue grogue,

Não faz curva,

"nem os bumerangues voltam

mais, dá nome de filme",

Foi saindo de vista o objeto voador

E Little Fred,

Que só tinha visto bumerangues

Continuou sem ver gaivotas.

 

 

 

 

 

 

[imagem ©alberto pancorbo]

 

 

 

 

Antônio Lazzuli: Sou um ex-publicitário que para se regenerar abraçou a poesia e a psicologia. Tenho um livro inédito e esses poemas são parte dele. Ou pelo menos acho. Porque em poesia, você sabe, tudo muda com a maior facilidade. A idade não digo porque como poeta que sou, acredito mais em palavras que nos números. Ainda assim eles pintam, num poema ou outro. Resumo: sou um psicólogo que não deixa de ser poeta nem em pleno set. Simplesmente porque  o contrário seria impossível. A não ser que esvaziassem minhas veias. Tenho poemas publicados na Revista de poesia contemporânea Mallarmargens e no blogue Musas Pós Modernas, do poeta Nuno Rau. Atualmente, finalizo meu livro inédito, preparo meu blogue  e faço algumas traduções que publico aqui e ali. E olha eu fazendo propaganda de novo. É isso, e  claro, um pouco mais, ou quem sabe, um pouco menos.