Presumível imaginar que o pensamento de Zygmunt Bauman esteja atrelado à sua experiência de vida. Esse polonês nascido em 1925, judeu, e que fugiu com a família para a antiga União Soviética, em 1939, por conta da invasão nazista, refuta a equação entre sua obra e vida pessoal. Ele está sempre à procura de conhecer o outro, o indivíduo como manipulador do destino. Bauman diz que é a massa humana, com as escolhas pessoais de cada indivíduo, que transformam o mundo e não os ideais institucionais que são impostos à sociedade. Foi por isso que rompeu com o Comunismo. Mas as escolhas, para ele, devem ser sempre morais. Não importando em que situação se encontre o indivíduo. É a moral que torna o indivíduo humano.

Para o sociólogo é sempre possível reverter o estado de alienação e conformismo em que a sociedade se encontra. E isso deve ser feito através da cultura, que, como ele diz, deve ser uma faca pressionando o futuro.

Aprendeu mais com a biografia de sua esposa, Inverno na manhã, Janina Bauman, do que com a própria. O livro de Janina (também judia) é um relato de sua infância no auge da ocupação nazista em Varsóvia, de como ela e a mãe viveram em estado desumano, conseguindo escapar do envio aos campos de extermínio. Só através do livro da esposa é que Bauman atingiu uma visão ampliada do Holocausto. Assunto que tratou no livro Modernidade e Holocausto. Ele diz no prefácio do livro: "Tendo lido o livro da Janina, comecei a imaginar o quanto eu não sabia — ou melhor, eu não pensava da maneira adequada. Percebi que não havia realmente entendido o que se passava naquele 'mundo que não era meu'". Isso reafirma seu compromisso com o outro ao longo do tempo.

Embora não devamos estender muito o vínculo entre o pensamento de Bauman com comparações e exemplificações literárias, com a literatura propriamente dita, como avisa Keith Tester, não raro os textos do sociólogo trazem referências literárias. Curiosa a resposta de Bauman à pergunta de Tester: "Você é abandonado numa ilha e pode levar apenas um livro: qual seria?". Zygmunt Bauman cita O homem sem qualidades, de Robert Musil; A vida: modo de usar, de Georges Perec; Labirintos, de Jorge Luis Borges; e Cidades invisíveis, de Italo Calvino, para se decidir por um conto de Borges: "O jardim de veredas que se bifurcam".

Bauman sobre Bauman é o novo título de Zygmunt Bauman publicado no Brasil. A editora Jorge Zahar tem em seu catálogo vinte e dois títulos do sociólogo. Esse novo livro compõe-se de cinco diálogos de Bauman com o também sociólogo Keith Tester, que procura responder três perguntas: Quem é Zygmunt Bauman? O que faz Zygmunt Bauman? Por que Zygmunt Bauman faz o que faz? Mas o bate-papo com Tester vai bem mais além que as respostas às perguntas. O livro é uma ótima porta de entrada para quem não conhece nenhum dos livros de Bauman e uma agradável leitura para quem já conhece.

 

 
 
   

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O livro: Zygmunt Bauman. Bauman sobre Bauman. Trad. de Carlos Alberto Medeiros

São Paulo: Zahar, 2011, 184 págs., R$34,90

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março, 2011