©holly palmer
 
 

 

 

 

 

 

 

— Você toma com ou sem açúcar?

 

Era tudo que tinham para conversar naquela manhã.

 

— Com açúcar.

 

Como ele tomava sem açúcar, açúcar não tinha.

 

Nem adoçante.

 

Ela pegou a xícara na mão, com gosto, reclamou que logo naquele dia estava com a pior das suas calcinhas — é bege!, não gosto, mas tive que usar essa por causa do vestido semi-transparente —, algo assim ela disse.

 

— É ótimo sem açúcar!

 

Os dois haviam dançado e beijado na pista na boate. Ou no clube, como chamam.

 

Não haviam trocado uma só palavra, não careciam, não são poetas, não se ouve o que se fala nestes lugares, melhor ainda.

 

— Saco esse tal de minimal techno — ela, viciada no gênero, disse também para agradá-lo. — Plip-plop,plip-plop a noite inteira. 

 

Nunca mais se viram.

 

Ela nunca mais tomou café com açúcar, mas só lembrou do cara anteontem porque estava se achando um tanto quanto dadeira demais da conta e foi passar a régua na coivara de homens para saber com quantos ficara naquele semestre letivo.

 

Todos com camisinha, ufa, que alívio, duas brochadas fenomenais, petite mort que é bom apenas uma que valesse ser lembrada.

 

Na oportunidade de tal contagem, ela também lembrou da falta mínima de gentileza dos mancebos: apenas 33,3% deles lhe ofereceram café-com-ou-sem-açúcar. 66% deles disseram "A GENTE SE VÊ!", como se ela se importasse com isso.

 

Os que foram na sua casa e ficaram até de manhã saíram de banho tomado e sorrisos do sucrilhos dos campeões. E ela disse a todos, civilizadamente, como o corvo do tio Edgar A. Poe: "NEVER MORE".

 

 

 

março, 2010