COIVARAS, de Oscar Kellner Neto

 

OSCAR KELLNER NETO abre-nos a porta de seu laboratório deslumbrante e, por vezes, assustador, numa estréia seguro pelos caminhos da ficção. Contista que é um mago de fórmulas próprias, à alquimia da linguagem versátil e colorida mistura poderosa criatividade, fazendo surgir das trevas do inconsciente um mundo de dilúvios e sombras, labaredas e noites, habitado por fantasmas, seres biônicos, robôs, gente que se desintegra e some — mundo de pesadelo onde o absurdo cria foros de realidade e como tal se impõe. Por situar-se num plano extra-real e ultra-sensorial, Coivaras permite um rompimento com todos os princípios de equilíbrio justificados pela razão. Lá o animismo se apodera dos objetos; as pessoas se coisificam: a transposição é perfeitamente possível. Obscuro Planeta Interior, alienígena e estranho, a muito poucos é dada a coragem de desbravá-lo. Oscar aceitou o desafio. Ousadamente lançou-se à aventura. A visão surrealista de Oscar Kellner Neto incide sobre a verdade existencial, dando-nos como resultado este encadeamento de quadros, onde ecoa uma certa ironia triste, sorriso agônico de quem vê o invisível, a perpassar por todo o livro como uma brisa carregada de presságios [MARIA DE LOURDES HORTAS, Recife/ 1983]. Para saber mais clique aqui.

 

 

POESIA DIGITAL: a poesia do século XXI, ganhou uma obra esclarecedora

 

Jorge Luiz Antonio apresenta um panorama da poesia digital no Brasil e no mundo

 

Há muitas formas de se fazer poesia nos dias de hoje, mas a que mais fala a linguagem das novas tecnologias é a poesia digital. Em Poesia digital: teoria, história, antologias, Jorge Luiz Antonio traz um panorama da história da poesia digital, desde os seus primórdios, em 1959, até os nossos dias, com as mais avançadas e criativas inovações. O autor mostra como os recursos da informática, aparentemente frios e exatos, podem dar uma nova vida ao universo da poesia, ao levar seus produtores e apreciadores a outros caminhos artísticos dentro da chamada cultura digital.

 

Para o autor, Poesia digital: teoria, história, antologias é um livro que "estuda um tipo de poesia contemporânea em suas relações com as artes, o design e a tecnologia computacional, que é uma continuação e um desdobramento da poesia das vanguardas, da poesia concreta, visual e experimental". Segundo o poeta português E.M. de Melo e Castro, a obra traz "claramente a intenção e a ação do autor de realizar uma discussão sobre as razões que podem ser invocadas para o estudo das transformações que o uso das tecnologias estão já a causar no próprio conceito de poesia".

 

Poesia digital: teoria, história, antologias é um livro acompanhado de um DVD que reúne uma completa antologia de poemas digitais e seus antecessores, apresentando 501 poemas de 226 poetas e 110 textos teóricos de 73 autores, tanto brasileiros como estrangeiros, com cerca de 1500 páginas impressas e eletrônicas, dando um raro panorama do que já foi feito na área da experimentação poética, tanto no Brasil como no Exterior. O DVD mostra que "poesia, arte, design, ciência e tecnologia digital formam o quinteto transdisciplinar que uma parcela dos poetas contemporâneos escolheu para realizar a sua comunicação poética", completa Jorge Luiz Antonio [Franklin Valverde, ONDA LATINA, São Paulo].

 

Poesia digital: teoria, história, antologias é uma co-edição da Navegar Editora (São Paulo), Luna Bisontes Prods (EUA), Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP) e Autor.

 

Sobre o autor: Jorge Luiz Antonio, professor universitário, pesquisador, bolsista FAPESP, pós-doutorando no IEL-UNICAMP, é autor de estudos sobre Cesário Verde e Augusto dos Anjos.

 

Poesia digital: teoria, história, antologias

de Jorge Luiz Antonio

 

Coedição

FAPESP / Navegar: www.navegareditora.com.br | navegar@navegareditora.com.br

Luna Bisonte Prods: www.johnmbennett.net | bennettjohnm@gmail.com

Autor:  http://jlantonio.blog.uol.com.br | jlantonio@uol.com.br

80 páginas + DVD = R$ 30,00 sem despesas postais

 

Entrevista do autor a Paula Dume (Folha.com) em 7 out. 2010 [clique aqui]

 

 

A MINIFICÇÃO DO BRASIL — EM DEFESA DOS FRASCOS & DOS COMPRIMIDOS

 

Com considerável variedade de nomes, a minificção é, hoje, segundo Lauro Zavala, um dos seus mais importantes especialistas, "o gênero mais didático, lúdico, irônico e fronteiriço da literatura". Criado pelo mineiro Elias José no início da década de 60, o miniconto é hoje objeto de pós-graduação em universidade como a de Austin, Texas; sucesso através da Coleção O Bairro, de Gonçalo Tavares, na Europa; motivou o Prêmio Jabuti ao minicontista Leonardo Brasiliense, em 2006; best-seller através do livro Os cem menores contos brasileiros, organizado por Marcelino Freire; tema de dissertações e teses acadêmicas, como a de Marcelo Spalding; pauta de matérias especiais na Folha de São Paulo; gênero de gênios como Dalton Trevisan e Adrino Aragão; mantenedor de publicações especializadas como a cult El Cuento, El cuento en red, Ekuóreo, entre tantas outras, além de ser responsável por um novo boom de leitura nos Estados Unidos e de consolidar-se com importância no mercado editorial do país e da América Latina. Minificção do Brasil — em defesa dos frascos & dos comprimidos é uma das raríssimas publicações do país exclusivamente dedicada à análise do gênero através da obra de mais de 30 autores, com o objetivo de reconhecer e dar visibilidade à produção de uma literatura mais rápida, mas vertical, contribuindo com seriedade, competência e metodologia para a constituição de uma referência que envolve 40 anos de produção da mininarrativa. Para saber mais clique aqui.

 

 

A COROA E O REI – POEMA PROCESSO DE OSCAR KELLNER NETO / 2009

[Menção Honrosa no Salão de Artes Contemporâneo | Pinacoteca Municipal de Franca | 2010]

 

Tem como protagonista o Obama, sem que isso signifique homenagem ou crítica ao poderio norte-americano, como era frequente a gente cometer nos anos de 1970. É mais pelo emblemático que reside em sua figura de homem-todo-poderoso. A coroa simboliza sim o poder... Cetro, coroa, espada. Na linguagem dos quadrinhos que usei, procurei explorar a crescente posse do HOMEM pelo PODER. No final da obra o HOMEM sai de cena ficando em seu lugar apenas o PODER, para logo ser destruído por força maior, o Cogumelo Atômico. Mas, publicado o poema, a interpretação é livre... Leituras sugeridas:

1)   O PODER vai tomando conta do HOMEM, ou o HOMEM vai se transformando no PODER?

2)   Mas e aí? O PODER não se aguenta e explode? Ou o HOMEM, que tinha a chave do PODER, resolve acabar com o problema e aperta um simples botão?

3)   Prosseguir, ad libitum...

É a instigação que interessa, o enredo, e não a solução, nesse caso [Oscar Kellner Neto].

 

 

PRESENTE DOS MAGOS, DE O. HENRY

 

Um dólar e oitenta e sete centavos. Era tudo. E sessenta centavos eram em moedas. Moedas economizadas uma a uma, pechinchando com o dono do armazém, o dono da quitanda, o açougueiro, até o rosto arder à muda acusação de parcimônia que tais pechinchas implicavam. Três vezes Della contou o dinheiro. Um dólar e oitenta e sete centavos. E no dia seguinte seria Natal.

Não havia evidentemente mais nada a fazer senão atirar-se ao pequeno sofá puído e chorar. Foi o que Della fez. O que leva à reflexão moral de que a vida é feita de soluços, fungadelas e sorrisos, com predomínio das fungadelas.

Della terminou de chorar e cuidou do rosto com a esponja de pó. Postou-se junto à janela e ficou a contemplar melancolicamente um gato cinzento caminhando sobre uma cerca cinzenta num quintal cinzento. Amanhã seria Dia de Natal e ela tinha apenas um dólar e oitenta e sete centavos para comprar o presente de Jim. Estivera a economizar tostão por tostão havia meses, e esse era o resultado. As despesas tinham sido maiores do que calculara. Sempre são. Apenas um dólar e oitenta e sete centavos para comprar o presente de Jim. O seu Jim. Muitas horas felizes passara ela planejando comprar-lhe alguma coisa bonita. Alguma coisa fina, rara, legítima — algo que estivesse bem perto de merecer a honra de ser possuída por Jim.

Subitamente, afastou-se da janela e postou-se diante de um espelho. Seus olhos estavam brilhantes mas sua face perdeu a cor ao cabo de vinte segundos. Num gesto rápido, soltou o cabelo e deixou desdobrar-se em toda a sua extensão.

Ora, os James Dillingham Youngs tinham dois haveres de que muito se orgulhavam. Um era o relógio de ouro de Jim, que pertencera a seu pai e a seu avô. O outro era o cabelo de Della.

O cabelo de Della, pois, caiu-lhe pelas costas, ondulando e brilhando como uma cascata de águas castanhas. Chegava-lhe abaixo do joelho e quase lhe servia de manto. Ela então o prendeu de novo, célere e nervosamente. A certo momento, deteve-se e permaneceu imóvel, enquanto uma ou duas lágrimas caíam sobre o puído tapete vermelho.

Vestiu o velho casaco marron; pôs o velho chapéu marron. Desceu rapidamente a escada que levava à rua. Parou onde havia um letreiro anunciando: "Mme Sofronie, Artigos de Toda Espécie para Cabelos". Della subiu a correr um lance de escada e se deteve no alto, arquejante para recompor-se. Madame, corpulenta, alva demais, fria.

— Quer comprar meu cabelo? — perguntou Della.

— Eu compro cabelo — disse Madame. — Tire o chapéu e vamos dar uma olhada no seu.

Despenhou-se, ondulante, a cascata de águas castanhas.

— Vinte dólares — ofereceu Madame, erguendo a massa com mão prática.

— Dê-me o dinheiro depressa — pediu Della.

Oh, as duas horas seguintes voaram com asas róseas. Della se pôs a vasculhar as lojas à procura de um presente para Jim.

Encontrou-o por fim. Fora feito para ele e para ninguém mais. Nada havia que se lhe parecesse nas outras lojas, e ela as revirara de alto a baixo. Era uma corrente de platina, curta, simples e de modelo discreto, proclamando adequadamente seu valor por sua mesma substância e não por qualquer ornamentação espúria. Era digna até do relógio. Tão logo a viu, soube que tinha de ser de Jim. Era como ele. Serenidade e valor — a descrição se aplicava a ambos. Vinte e um dólares cobraram-lhe por ela, e Della correu para casa com os oitenta e sete centavos. Com aquela corrente no relógio, Jim poderia preocupar-se decentemente com o tempo na frente de qualquer pessoa. Grande como era o relógio, ele às vezes o consultava meio envergonhado devido à velha tira de couro que usava em lugar de corrente.

Quando Della chegou em casa, seu embevecimento cedeu lugar a um pouco de prudência e razão. Pegou os ferros de frisar, acendeu o gás e pôs-se a reparar os estragos causados pela generosidade acrescida ao amor. O que sempre é uma tarefa muito árdua, queridos amigos — uma tarefa gigantesca.

Ao cabo de quarenta minutos, sua cabeça estava coberta de pequenos caracóis cerrados, que a faziam parecer, admiravelmente, um menino vadio.

Às sete horas, o café estava preparado e uma frigideira quente no fogão esperava o momento de fritar as costeletas. Jim nunca se atrasava. Della dobrou a corrente no côncavo da mão e sentou-se a um canto da mesa, perto da porta pela qual ele sempre entrava. Ouviu então seus passos no primeiro lance da escada e empalideceu por um instante.

— Oh, Deus, fazei-o por favor achar-me ainda bonita!

A porta se abriu, Jim entrou e a fechou. Parecia magro e muito sério. Pobre sujeito, apenas vinte e dois anos e já responsável por uma família! Precisava de um sobretudo novo e não tinha luvas.

Jim Avançou alguns passos. Seus olhos estavam fitos em Della e havia neles uma expressão que ela não conseguia ler e que a aterrorizava. Não era raiva, nem surpresa, nem desaprovação, nem horror; não era nenhum dos sentimentos para os quais ela estava preparada.

Della esgueirou-se para fora da mesa e se encaminhou para ele.

— Jim, querido — gritou — não me olhe desse jeito! Mandei cortar o cabelo e o vendi porque não poderia passar o natal sem dar um presente a você. Ele crescerá de novo… não se aborreça, por favor. Meu cabelo cresce terrivelmente depressa. Diga "Feliz Natal!", Jim, e fiquemos felizes. Você não sabe que coisa bonita, que belo presente tenho para você.

— Mandou cortar o cabelo? — perguntou Jim a custo, como se não tivesse ainda compenetrado desse fato patente após o mais árduo esforço mental.

— Cortei-o e vendi-o — disse Della. — Você não continua a gostar de mim do mesmo jeito, então? Não precisa procurar por meu cabelo, foi vendido, como lhe disse… vendido, não está mais aqui. É véspera de Natal, querido. Seja bonzinho comigo, fiz isso por sua causa. Ninguém poderá jamais avaliar o meu amor por você. Posso fritar as costeletas, Jim?

Emergindo do seu transe, Jim pareceu despertar rapidamente. Abraçou a sua Della. Os magos trouxeram presentes valiosos, mas isso não estava entre eles. Esta asserção obscura será esclarecida mais tarde.

Jim tirou um pacote do bolso e atirou-o sobre a mesa.

— Não me interprete mal, Della — disse. — Não acho que haja alguma coisa, corte de cabelo, raspagem ou xampu, capaz de fazer-me gostar menos da minha mulherzinha. Mas se você abrir este pacote, poderá ver por que fiquei abalado no princípio.

Alvos dedos ligeiros desfizeram o atilho e o embrulho. Ouviu-se então um grito extático de alegria, e depois, ai!, uma súbita mudança feminina para as lágrimas e os gemidos, que exigiram o imediato emprego de todos os poderes de consolação do senhor do apartamento.

Pois sobre a mesa jaziam Os Pentes — o jogo de pentes para cabelos que Della adorara havia muito numa vitrine. Belos pentes, de tartaruga legítima, orlados de pedraria — da cor exata para combinar com seu lindo cabelo. Eram pentes caros, ela o sabia, e seu coração se limitara a desejá-los e a suspirar por eles sem a menor esperança de vir um dia a possuí-los. E agora pertenciam-lhe, mas as tranças que os anelados enfeites deveriam adornar não mais existiam.

Ela, porém, os apertou contra o peito e, por fim, pode erguer os olhos nublados, sorrir e dizer:

— Meu cabelo cresce tão depressa, Jim!

Jim ainda não vira o seu belo presente. Ela lho estendeu ansiosamente na palma da mão aberta. O fosco metal precioso parecia brilhar com o reflexo do seu jubilante e ardente espírito.

— Não é uma beleza, Jim? Vasculhei a cidade toda para achá-lo. Doravante, você terá de ver as horas uma centena de vezes por dia. Dê-me o seu relógio. Quero ver como fica nele.

Em lugar de obedecer, Jim deixou-se cair no sofá, pôs as mãos atrás da cabeça e sorriu:

— Della — disse —, vamos pôr os nossos presentes de Natal de lado e deixá-los por algum tempo. São lindos demais para poderem ser usados agora. Vendi o relógio para comprar os seus pentes. Que tal se você fritasse as costeletas agora?

 

 

POEMA DE NATAL, VINICIUS DE MORAES

 

Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

 

 

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: DEZEMBRO

 

Procuro uma alegria

uma mala vazia

do final de ano

e eis que tenho na mão

— flor do cotidiano —

é voo de um pássaro

é uma canção.

 

[dezembro de 1968]

 

 

Uma vez mais se constrói

a aérea casa da esperança

nela reluzem alfaias

de sonho e de amor: aliança.

 

[dezembro de 1973]

 

 

Fazer da areia, terra e água uma canção

Depois, moldar de vento a flauta

que há de espalhar esta canção

Por fim tecer de amor lábios e dedos

que a flauta animarão

E a flauta, sem nada mais que puro som

envolverá o sonho da canção

por todo o sempre, neste mundo

 

[dezembro de 1981]

 

 

 

Quem me acode à cabeça e ao coração

neste fim de ano, entre alegria e dor?

Que sonho, que mistério, que oração?

Amor.

 

[dezembro de 1985]

 

 

ALBRECHT DÜRER: O NASCIMENTO DE CRISTO

 

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LEONARDO DA VINCI: A ADORAÇÃO DOS MAGOS

 

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LORENZO LOTTO: MARIA, JOSÉ E O MENINO

 

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dezembro, 2010