POETRY

 

I, too, dislike it.

     Reading it, however, with a perfect contempt for it, one discovers in

     it, after all, a place for the genuine.

 

 

 

POESIA

 

Eu também desgosto dela.

     Contudo, lendo-a, com um perfeito desdém por ela, descobre-se

     nela, afinal, um espaço para o genuíno.

 

 

 

 

 

 

GRANITE AND STEEL

 

Enfranchising cable, silvered by the sea,
   of woven wire, grayed by the mist,
   and Liberty dominate the Bay-
   her feet as one on shattered chains,
   once whole links wrought by Tyranny.

   Caged Circe of steel and stone,
   her parent German ingenuity.
    "O catenary curve" from tower to pier,
   implacable enemy of the mind's deformity,
   of man's uncompunctious greed
   his crass love of crass priority
        just recently
   obstructing acquiescent feet
   about to step ashore when darkness fell
        without a cause,
   as if probity had not joined our cities
        in the sea.

   "O path amid the stars
   crossed by the seagull's wing!"
   "O radiance that doth inherit me!"
   — affirming inter-acting harmony!

   Untried expedient, untried; then tried;
   way out; way in; romantic passageway
   first seen by the eye of the mind,
   then by the eye.
O steel! O stone!
   Climactic ornament, a double rainbow,
   as if inverted by French perspicacity,
       John Roebling's monument,
       German tenacity's also;
       composite span — an actuality.

 

 

 

GRANITO E AÇO

 

Cabo liberto, prateado pelo mar,
  de fios enovelados, cinza pela névoa,
  e a Liberdade domina a Baía —
  seus pés como em rompidas correntes,
  outrora elos forjados pela Tirania.

 

Cativa Circe, de aço e pedra,
de materna engenhosidade germana.
"Oh, curva catenária", da torre ao píer,
inimiga implacável da imperfeição da mente,
da ganância impenitente do homem,
seu crasso amor de crassa prioridade
     só recentemente
obstruindo pés condescendentes
prestes a pisar na praia quando o negrume caiu
     sem motivação,
como se a probidade não se juntasse a nossas cidades
     no mar.

 

"Oh, senda entre as estrelas
transposta pela asa da gaivota!"
"Oh, radiância que me fizeste herdar!"
 — afirmativa e interativa harmonia!

 

Expediente não tentado; depois tentado;
saída; entrada; passagem romântica
primeiramente vista pelo olho da mente,
depois, pelos olhos. Oh, aço! Oh, pedra!
Ornamento climático, um duplo arco-íris,
como invertido pela perspicácia francesa,
    monumento de John Roebling,
    também de tenacidade germânica;
    vão arquitetado — uma realidade.

 

 

 

 

 

 

TO A GIRAFFE

If it is unpermissible, in fact fatal
to be personal and desirable

to be literal — detrimental as well
if the eye is not innocent — does it mean that

one can live only on top leaves that are small
reachable only by a beast that is tall? —

of which the giraffe is the best example —
the unconversational animal.

When plagued by the psychological,
a creature can be unbearable

that could have been irresistible;
or to be exact, exceptional

since less conversational
than some emotionally-tied-in-knots animal.

After all
consolations of the metaphysical
can be profound.
In Homer, existence

is flawed; transcendence, conditional;
"the journey from sin to redemption, perpetual."

 

 

 

PARA UMA GIRAFA

Se é inadimissível, na verdade, fatal
ser pessoal e desejável

ser literal — ou mesmo prejudicial
se o olho não é inocente — quer dizer que

pode-se viver só com as folhinhas al-
cançáveis apenas ao bicho mais alto? —

do qual a girafa é o perfeito exemplo —
o animal infreqüentável.

Quando atormentada pelas coisas d’alma,
uma criatura pode ser intragável

isso poderia ser irresistível;
para ser precisa, excepcional

já que menos freqüentável
que certo emocionalmente inapto animal.

Afinal
o consolo da metafísica ocidental
pode ser profundo. A existência, em Homero,

é falha; a transcendência, condicional;
"o caminho do pecado à redenção: sem final."

 

 

 

 

 

 

NO BETTER THAN A "WITHERED DAFFODIL"

 

Ben Jonson sai he was? "O I could still

like melting snow upon some craggy hill,

      drop, drop, drop, drop."

 

I too until I saw that French brocade

blaze green as though some lizzard in the shade

      became exact —

 

set off by replicas of violet —

like Sidney, leaning in his striped jacket

      against a lime —

 

a work of art. And I too seemed to be

an insouciant rester by a tree —

      no daffodil.

 

 

 

NEM MELHOR DO QUE UM "NARCISO SECO"

 

Ben Jonson disse que era ele? "Ó, eu poderia, de fato,

como neve derretendo num monte escarpado,

      cair, cair, cair, cair".

 

Eu também até ver aquele verde brocado francês

como um lagarto na sombra, por sua vez,

      tornar-se exato —

 

realçado por réplicas de violeta —

como Sidney, listras na jaqueta,

      apoiado na limeira 

 

uma obra de arte. E eu também parecia estar

calmo, descansando sob uma árvore —

      e nada de narciso.

 

 

 

[Tradução de Paulo de Toledo]

 

 

 

 

 

 

Paulo de Toledo (Santos/SP). Poeta, pesquisador e ensaísta. Autor de 51 Mendicantos (Editora Éblis, 2007) e da plaquete de poesia visual, Desequilivro (2008), em parceria com Rodrigo de Souza Leão. Escreve o blogue Poesia e Outras Bobagens.
 
Mais Paulo Toledo em Germina
>
Conto/Poemas
> Poesia Visual