Surdez

 

Ensurdecedor

barulho de canhões

 

Ensurdecedor

o som das bombas

sobre o Oriente Médio

 

Ensurdecedor

o som de mortes

silenciosas

em periferias de nossas

cidades

 

Ensurdecedor

o grito mudo

de quem silencia denúncia

de abusos

em todos os espaços

 

Ouçam o silêncio!

Ouçam o que ele grita!

Ouçam o que denuncia!

 

A morte do pensamento

sangra mais

que os noticiários

dos jornais!

 

 

 

Surdité

 

Assourdissant

le bruit des canons

Assourdissant

le son des bombes

sur le Moyen-Orient

 

Assourdissant

le son de la mort

silencieuse
dans la périphérie de nos

villes

 

Assourdissant

Le cri mu

qui la plainte est muet

abus

tous les espaces

 

Écoutez le silence!

Écoutez ce qu'il pleure!

Écoutez ce qu'il dénonce!

La mort de la pensée

saigne plus

que les nouvelles

dês journaux!

 

 

 

Sordera

 

Ensordecedor
tronar de los cañones

 

Ensordecedor

el estruendo de las bombas,

sobre el oriente medio.

 

Ensordecedor

el sonido de las muertes silenciosas

en las periferias

de nuestras ciudades.

 

Ensordecedor

el grito enmudecido

de los que silencian las denuncias

de los abusos

en todos los espacios.

 

Escuchen el silencio!

Escuchen lo que grita!

Escuchen lo que denuncia!

La muerte del pensamiento

desangra más,

que las noticias

en los periódicos.

 

 

 

 

 

 

Tecituras

 

Quero tecer minha vida

Com novos tecidos

Mais leves

Coloridos

Com muitos reveses

De mais deslizes

 

Quero tecer minha vida

Com outros momentos

Juntos o fora e o dentro

Mais contentes

Sem correntes

Mas com laços

 

 

 

Tecituras

 

Je veux tisser ma vie

Avec de nouveaux tissus

Plus légers

Coloriés

Avec beaucoup de revers

Plus de glissements

 

Je veux tisser ma vie

Avec autres moments

Joints le rejet et les à l'intérieur

plus contents

Sans chaînes

Mais avec des lacets

 

 

 

Contextura

 

Quiero tejer mi vida

con nuevos hilos

mas leves

coloridos

con muchos reveces

de mas lapsos.

 

Quiero tejer mi vida

con otros momentos

Juntos, afuera y adentro

más felices,

sin cadenas,

mas con lazos.

 

 

 

 

 

 

Para Aprender

 

Para Aprender

alfabeto

ou qualquer outro

dialeto ou objeto

não basta estar alerta

não basta o concreto

 

Para Aprender

e transformar

conhecer em saber

não basta decreto

muito menos resolve

ficar quieto

em atitude correta

 

Para Aprender

qualquer coisa

que lhe afete

marque, transforme

e se construa projeto

há que circular

o afeto

 

 

 

Pour apprendre

 

Pour apprendre

alphabet

ou tout autre

dialecte ou objet il

ne suffit pas  d'être  alerte

ne suffit pas le béton

 

Pour apprendre

et transformer

connaître dans  savoir

ne suffit pas décret

beaucoup moins  il décide

garder le silence

dans attitude correcte

 

Pour apprendre

n'importe quoi

qu'il lui touche il

marque, transforme

et se construise projet

faut il circuler

l'affection

 

 

 

Para Aprender

 

Para aprender

el alfabeto

O cualquier otro

dialecto u objeto

No basta estar alerta

No basta lo preciso

 

Para aprender

Y transformar

Conocer en saber

No basta el orden

Mucho menos resuelve

Estar inmóvil

Con la actitud correcta

 

Para aprender

Cualquier cosa

Que impresione

Marque, transforme

Y se construya proyectos 

Hay que deambular

El afecto

 

 

 

 

 

 

Espera no ponto

 

passa um carro vem correndo outros carros vêm também

passa ônibus outro ônibus na via expressa outro vem sem parar ao passageiro

que reclama em desespero

o metrô passa apressado e os pedestres vêm correndo

outros carros passam rápido que o sinal já vai fechar

vejo a lua aparecendo entre as nuvens tão bonita ela está não se evita admirar

uma estrela pisca ao lado, outra estrela movimenta

é um avião que também passa lá no alto nem parece apressado

e eu esperando um ônibus que me leve para casa

 

 

 

 

 

 

Café Temperado

 

O café da minha mãe

era temperado

com vários temperos

herança de família

que recebia toda visita

com café na mesa

ou na bandeja

 

Havia amor, carinho, raiva

dor, noite mal dormida

choro incontido, saudade

 

Tudo misturado

dava o tempero certo

do café temperado

com vida

 

 

 

 

 

 

Temporal

 

o vento vira a esquina

traz folhas em redemoinho

cria vida em rodopio

depois vem a calmaria 

 

veio o vento só lembrar

que o tempo é imprevisto

vou sair para dançar

 

 

 

 

 

 

Favela

 

Casebres

sobem o morro

caminhos

o morro descem

embaixo

o lago os reflete

 

 

 

 

 

 

Pátria Amada

 

Com a derrota na copa

muitas casas recolheram

suas bandeiras

 

Nossas crianças constróem

o conceito de que

Brasil

é só um time de futebol

 

 

 

 

 

 

Estigma

 

Marcaram-me

a alma

a vida

a ferro e a fogo

com castigos

 

Marcaram-me

também

com amor

com carinho

com flores

com poesia

 

O estigma

mais profundo,

porém,

foi o que

eu mesma

me cunhei

 

 

 

 

 

 

Canção de Não Ninar

 

vento, vento

por que esses sons uivantes

que sibilam o quê?

o que traz de longe?

o que quer dizer?

vento que fere a noite

em uns momentos mudez

em outros frio cortante

vento que soa longínquo

canção de dor em gemido

vento, descanse, se acalme

é hora do sono acordar

é hora do dia dormir

não tente o sol despertar

vento, vá pro outro lado

lá o dia é quente; abrande-o

forme brisa, se espalhe

ganhe, em si, outra alma

vento, já vou dormir

vou parar de te ouvir

em minha janela

 

 

 

 

 

 

Experiência

 

Eu ia ao cinema

Preferi ficar em casa

Esperando você

Você não veio

Da próxima vez

Irei ao cinema

 

 

 

 

 

 

Leituras

 

Escuto o silêncio

Pássaros gorjeiam

Carros transitam

Ouço meu coração

Alguém mexe na cozinha

Ouço meus pensamentos

Um cão late ao longe

Ouço o meu interior

E escrevo — me inscrevo

E me aprendo

 

 

 

 

 

 

Torcida

 

Agora sim

vou torcer pelo Brasil

não pelo país do futebol,

mas pelo povo brasileiro

não por vitória nesses jogos

 

torço por vitória da justiça

por vitória da liberdade

da verdadeira política

em favor da humanidade

sem olhar voto ou cidade


Inicio agora

esta campanha

— bandeira em punho —

por um esporte diferente

 

que se treine olhar atento

aos craques no governar

que se construa seleção

que mereça e honre o voto

que se veja no resultado

que eleição não foi em vão.

 

É hora desse jogo preparar!

É hora do time escolher!

É hora de nos movimentarmos!

 

 

 

[imagem ©yuuji matsuura]

 

 
 
 
Bilá Bernardes [Maria Angélica Bernardes dos Santos]. Nasceu em Santo Antônio do Monte/MG, em 1950, mas vive em Belo Horizonte desde 1970, onde trabalhou como professora até aposentar-se. Fez faculdade de Pedagogia e pós-graduação em Psicopedagogia, complementando seus estudos em Buenos Aires. Suas primeiras publicações foram sobre educação, na revista AMAEducando, em Belo Horizonte. Teve um poema sobre TDAH publicado na revista E.PSI.B.A. em outubro de 2006: "Saber Hiperativo". Participou de várias antologias no Congresso Brasileiro de Poesia em Bento Gonçalves/RS, de 2006 a 2008, em Belo Horizonte (2007 a 2010) e no Chile (2007). Apresentava-se em recitais e saraus em escolas públicas noturnas de Belo Horizonte, levando poemas seus e de outros poetas. Atualmente, morando no interior de Minas, aproveita as caminhadas matinais e distribui poemas de diversos poetas e seus, nas caixas de correio, com a recomendação: "Não rasgue! Deixe em outra casa!". Em janeiro de 2008, publicou FotoGrafias de DesCasamento, livro de poemas, pela Anomelivros. Colabora na organização de eventos sobre poesia em Belo Horizonte, entre eles, o Paz e Poesia, que distribui poemas e livros-presente para artesãos e feirantes; o Belô Poético, evento anual que reúne poetas de todo o Brasil em Belo Horizonte; encontro de poetas da comunidade do Orkut Poemas à Flor da Pele e do Movimento Poetas del Mundo. Fez parte do Grupo Contar-te da UFMG, integrante do Programa A Tela e o Texto, a partir do qual foi criado o Gato Pingado. Com este levou poesia cênica à Praça 7 e ao Palácio das Artes em Belo Horizonte, além de outros espaços públicos e privados na capital e interior. Desde 2009 é a representante em Minas Gerais em Poetas Del Mundo, movimento mundial com sede no Chile, organizado como uma diplomacia, que reúne mais de seis mil poetas em movimentos pela paz no mundo. Participa do projeto Leitura no ônibus e Leitura no Metrô, da UFMG, parceria Tela e Texto e BHTRANS. Publica em vários blogue e páginas na internet. Participou das antologias Poesia do Brasil, vol. 4 (Bento Gonçalves/RS, 2006); vol. 6 (Bento Gonçalves/RS, 2007) e vol. 8 (Bento Gonçalves/RS, 2008); Poetas do Café, vol. 2 (Bento Gonçalves/RS, 2006); Pássaros Poetas e Trovadores (Bento Gonçalves/RS, 2007); Bento Poesia em América (Roncagua/Chile, 2007); Belo Horizonte em Verso e Prosa (Belo Horizonte: Linha Editorial A Tela e o Texto / Faculdade de Letras da UFMG, 2008); Poetas En/Cena, vol. 1. Belo Poético (Belo Horizonte, 2007), vol. 2 (Belo Horizonte, 2008); vol. 3 (Belo Horizonte, 2009) e vol. 4 (Belo Horizonte, 2010); Nós da Poesia, vol. 1 (Belo Horizonte, 2009). Para saber mais, clique aqui.