©maria dulce de souza leão
 
 
 
 
 


 

O poema

 

fizeram do poeta
uma estátua
parada na orla
de uma cidade

que não é Itabira

 

fizeram do poeta
uma pedra
parada numa rua

que não é um caminho

 

fizeram do poeta
um ser calado
como sempre fora

e sozinho

 

agora
repouso metamórfico
metálico
de partículas
filosóficas do ar
que o rodeia

 

ele não ri
nem de soslaio

 

antes odeia

 

 

 

Razão

 

 

Eu fiquei pasma com a estátua do Leo Santana. Sei que é homenagem, e ele deve ter feito (espero que sim) com o maior amor, carinho, e respeito, mas intuo, sinto, que Drummond não gostaria de se ver estátua. Ou me meto a sentir e a intuir, sei lá. Interferi. Saí em defesa. Um poeta não merece isso.

 

O título é uma analogia a "eita, poeta (f.....)", e também ao poeta de pedra (pô, éta (agora) (também) és de pedra)?


Por que, afinal, de que são feitos os poetas? De palavra, poesia, pão, pulso, carne, osso, éter? E o que mais?

 

O meu "processo" deve ser regido por Iansã (Eparrei Iansã!). Todos os poemas que eu escrevi, e gostei, saíram num rompante. É mais ou menos isso: "Nem se sabia grávida quando a filha pariu".

 

 

outubro, 2009
 
 
 
 

Ana Peluso, 1966, paulistana, sem livro, bloga no La Escena de La Memoria.