©hans neleman
 
 
 
 
 
 


 

"Se o macho está perdido, amigo, como se apregoa por aí, não sou eu que vou procurá-lo", diz o escriba Marçal Aquino, em animada mesa da nossa taberna lítero-boêmia em São Paulo, a Mercearia São Pedro.

 

Claro que o mote do autor de Faroestes rendeu e desabou, graças ao abençoado combustível de Salinas, para uma buena onda digna das páginas mais quentes de Pedro Juan Gutiérrez.

 

É, amigo, nunca foi tão difícil ser homem, melhor, nunca foi tão difícil ser macho, para usar a acepção mais testosteronizada do gênero. Os dilemas são muitos e o meio termo corre sempre o risco de ser mal-compreendido.

 

Continuar sendo o irredutível macho-jurubeba ou ceder às saudáveis tentações dos metrossexuais?

 

O ideal, para os novos tempos, diriam os moderados, seria dosar um pouco de macheza à moda antiga com mais cuidado com a aparência, uma guaribada no guarda-roupa, uma cosmética sem exageros...

 

Nada de ter uma bancada de creminhos maior do que a patroa. Assim não dá, companheiro.

 

Mas aí não correríamos o risco de perder a personalidade, a pegada?, indagariam os mais tradicionais, aqueles que nunca se permitiram a nada mais do que um punhado de Minâncora ou banha de peixe-boi sobre uma espinha.

 

Perfume ou cheiro natural de homem?

 

E tome dilemas.

 

Há quem não admita nada mais além de um Avanço ou Leite de Rosas. Basta.  

 

Estão vendo como não está sendo fácil ser macho nos tempos modernos?!

 

E reparem que nem adentramos ainda o misterioso assunto das fêmeas. Preparem-se, ai é que nos perderemos de vez. Você pede em casamento, ela pede uma coca-cola.

 

A incompreensão nunca foi tão grande. E vice-versa. Mas desde quando soubemos, como perguntava o sábio doutor Sigmund, o que querem as mulheres?

 

Os justos avanços femininos, no entanto, embaralham como nunca o senso comum — e culturalmente machista — de nós todos.

 

Puxar ou não a cadeira no restaurante? Abrir ou não a porta do carro? Tomar iniciativa e pagar logo a conta ou esperar que ela divida? Até que ponto seguir o velho código do cavalheirismo vai incomodá-la na sua alardeada independência? (Nesse momento sentimos ainda ao longe o cheiro da efeméride dos sutiãs queimados!)

 

Na alcova, então, mais um balaio de dúvidas. Ser um hétero sensível ou um lenhador selvagem?

 

Enfim, como já deu para notar, não tem bula, não tem receita, não há um padrão X a seguir, embora as revistas masculinas insistam em um certo "novo homem", criatura que já foi representada por David Beckham (da costela dele Deus criou o metrossexual) e mais recentemente pelo George Clooney, denominado übersexual, seja o lá o que diabo isso signifique.

 

E eu vou ficando por aqui, se não, a continuar com essas dúvidas todas, o velho Francisco Nildemar, lá no Sítio das Cobras, em Santana do Cariri, nunca mais me deixa pedir a "bença, pai".

 

 

 

julho, 2008