Rodrigo Leão - Jaimendonsa, como surgiu a Virtualbooks?

 

Jaimendonsa - A Virtualbooks surgiu em outubro de 1998 com a idéia de ser uma biblioteca universal de textos eletrônicos, disponibilizando, inteiramente grátis para o mundo, textos em vários idiomas, sobre vários assuntos. Em parte, acho que cumprimos a finalidade. Sonhamos como sonhou Jorge Luis Borges, no século passado: uma biblioteca universal, que disponibilizasse todos os livros do mundo para qualquer pessoa, em qualquer lugar do planeta. De alguma forma, o sonho borgiano começa a fazer parte de nossa realidade; por todo o planeta há um numero astronômico de bibliotecas virtuais semelhantes à Virtualbooks.

 

 

RL - Por que você resolveu criar uma editora de livros em papel? Fale sobre o projeto e dê os links para os interessados.

 

J - A idéia da editora partiu de alguns autores que disponibilizam textos na Virtualbooks, e desejavam publicar seus livros que estão online sem ter que recorrer a tiragens de 1.000 exemplares, por exemplo. Achamos um meio-termo: 50 exemplares, a R$ 0,05 por página e uma capa de R$ 1,00, poderiam cobrir os custos e gerar algum lucro. Então, partimos para editar os livros. Coloquei meu livro para servir de exemplo, e sentir todas as dificuldades que enfrentaria o autor que edita seus textos por demanda.

 

 

RL - Qual a diferença entre um editor virtual e um editor de livros com o papel como plataforma?

 

J - A diferença é seguinte: até o momento a Virtualbooks foi um site, em parceria com o portal TERRA, para distribuir grátis livros eletrônicos, em seis idiomas, não gerando custo algum para o internauta e nenhum lucro para o autor. Como editor, tendo o papel como plataforma para o livro, a coisa muda radicalmente. Temos que matar um leão por dia para ficar num mercado disputadíssimo, que mais edita do que consome. Mas a briga é boa. Estamos avançando.

 

RL - Como será feita a divulgação dos livros que lançar em papel?

 

J - Vamos disponibilizar uma área no site Virtualbooks/TERRA para divulgar os livros editados por nós. Aí, vamos expor capa, resumo, trechos do livro, e e-mail para quem estiver interessado em adquirir o livro contatando o autor.

 

Também criamos um concurso literário: PRÊMIO VIRTUALBOOKS DE LITERATURA (clique aqui), para escolher os melhores textos, em várias áreas, que serão editados e vendidos em nossa livraria na web (clique aqui). Nesse caso, vamos custear a edição e venda, repassando ao autor os direitos autorais. Para 2009, pretendemos ter uma linha editorial dividida em vários selos.

 

 

RL - Quais são as expectativas de venda para tornar a editora algo possível?

 

J - Uma editora, para se tornar algo possível, tem que vender pelo menos 3.000 exemplares de cada título que edita, publicando, pelo menos, 4 títulos por mês. Para ser um ótimo negócio, suas edições não podem ficar abaixo de 10.000 exemplares por título, editando, pelo menos, 10 títulos por mês. Somente as grandes editoras conseguem atingir esse patamar.

 

 

RL - Além de ser editor, você também é escritor. Como foi lançar Rudá pela sua editora?

 

J -  Eu fui boi de piranha para poder deixar passar a manada. É claro que estou brincando: confesso que foi além de minhas expectativas.

 

 

 

 

RL - Como Rudá está repercutindo na internet e fora dela?

 

J - Vamos colocar isso em números, assim damos uma idéia aproximada de como funciona o livro em papel como plataforma e na versão eletrônica: até a presente data (08/04/2008) foram baixados pelos internautas 29.689 unidades grátis da versão eletrônica do livro Rudá. Até a mesma data, foram adquiridos, em nossa livraria virtual 3.824 exemplares impressos. Não coloco aqui os números de exemplares colocados à venda em nossa livraria física, nem nas livrarias em Minas, por não ter o número exato de vendas, e por o centralizarmos na web. Estamos tentando criar uma editora sustentada pela web.

 

Fizemos também um concurso online para distribuir grátis exemplares do livro aos internautas que enviassem as melhores frases sobre o tema traição, mote do livro Rudá. Tivemos 18.739 inscritos.

 

Pelos números de venda, Rudá não é um best-seller, mas não posso reclamar.

 

 

RL - Quem é o escritor brasileiro e quem é o escritor ideal para o novo projeto da Virtualbooks?

 

J - Para mim, o maior ainda continua sendo Machado de Assis. Há uma citação do bruxo do Cosme Velho que sintetiza seu estilo: "Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu, com curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto".

 

Agora, o escritor ideal, não apenas para o novo projeto da Virtualbooks, mas para qualquer editora é Paulo Coelho. Vou explicar melhor - sem discutir aqui o mérito dos livros escritos por Paulo Coelho -, mas vou parafrasear o nosso presidente Lula, que afirma não gostar de ler livros: Nunca na história editorial deste país, um escritor se empenhou tanto em divulgar seus livros como Paulo Coelho. Paulo Coelho faz isso, por todo o mundo, com um comprometimento monástico. Faz com humildade, saindo atrás de cada possível leitor, é como se ainda não tivesse feito sucesso, nem tivesse uma legião de leitores em todo canto do planeta. Poucos são os autores que se empenham em divulgar seus livros como ele.

 

Livro é um produto cultural para ser vendido, precisa ser divulgado não apenas pela editora, principalmente pelo autor. Tenho conversado com pessoas, que estão na área editorial há um bom tempo, e esta é a opinião unânime: o escritor publica o livro e cruza os braços à espera que o livro venda por si; talvez, esse seja o maior pecado do autor brasileiro. O escritor tem que trabalhar o seu livro como um cantor trabalha seu CD: é um corpo a corpo diário, com vitórias e derrotas.

Não conheço nenhum editor que não sonha ter em seu quadro editorial escritores empenhados em divulgar seus livros como Paulo Coelho.

 

 

RL - O e-book é o livro do futuro ou nada substituirá o livro físico em papel?

 

J - O e-book veio para ficar. Não veio para abolir o livro impresso. Por um longo tempo os dois produtos culturais continuarão existindo um ao lado do outro. Em comparação com o livro impresso, o e-book tem vantagens e desvantagens, como qualquer outra tecnologia. A maior vantagem, a meu ver, é o seu custo baixo. Com um simples click o leitor baixa o livro para seu PC, e-bookreader, palmtop; sem custo gráfico.

 

É um produto ecologicamente correto (há recursos não-renováveis dos quais depende a fabricação do papel e a limitação da sua durabilidade. O papel está sujeito a todo tipo de intempéries). É um produto inexaurível; por ser eletrônico não esgota nunca. E, além do mais, todos os livros raros terão a sua versão eletrônica a preço baixíssimo.

 

Será um meio eficaz de vender textos.

 

Para o leitor que está acostumado a ler livro impresso, a leitura de um texto numa tela luminosa ainda não agrada muito. Talvez essa seja a principal desvantagem da leitura digital. Mas bons ventos vêm aí. O maior varejista on-line do planeta - Amazon.com - lançou há pouco seu leitor de e-books: Amazon Kindle. A partir desse dispositivo, o usuário pode comprar diretamente seus livros eletrônicos da Amazon.com através de conexão sem fio sem custo ao usuário, o que vem conquistando muitos elogios por sua facilidade de uso. O preço ainda é salgado para o mercado brasileiro; alguns ajustes deverão ser feitos no aparelho nas próximas versões, mas não deixa de ser um bom começo.

 

 

                    

 

 

Para dar uma idéia do avanço dos e-books, durante a BookExpo America - a maior feira editorial e do varejo livreiro norte-americano, que acontece anualmente em Los Angeles, no mês de julho -, Jeff Bezos, fundador e presidente-executivo da Amazon, revelou que os e-books já respondem por 6% das vendas de livros de sua empresa, em termos de volume, para os títulos que estão disponíveis tanto em papel quanto em formato eletrônico.

 

Outro leitor de textos que vem despertando grande interesse é o Readius, criado pele holandesa Eindhoven, que é, basicamente, um aparelho de bolso, mas conta com uma tela flexível e uma bateria para cerca de 30 horas de leitura.

 

A tela, em branco e preto, contém cerca de 22 linhas da página de um livro, a depender da fonte, com letras negras nítidas fornecidas pela tecnologia da EInk, também usada no Kindle, da Amazon, e outros leitores eletrônicos. A tela muda de uma página para outra em cerca de meio segundo, por meio de um botão acionado pelo polegar. O Readius será lançado na Inglaterra, Alemanha e Itália no final deste ano e nos Estados Unidos no começo de 2009. Promete. Para os e-books, são avanços positivos, penso eu.

 

 

RL - Qual o mote/frase que acompanha a sua vida?

 

J - Procure realizar seu sonho, mesmo que para isso tenha que sofrer.

 

 

RL - Qual o papel do editor e do escritor na sociedade? São diferentes os papéis do editor e do escritor, não?

 

J - O escritor é um artista em busca de difusão e o editor cria condições necessárias para que transmissão da arte encontre seu público. Um complementa o outro, e a existência dos dois é intrínseca. A importância da arte na sociedade é primordial, afasta-nos da animosidade humana.

 

 

 
julho, 2008
 
 
 
 
 
 

Jaimendonsa. Escritor, idealizador e editor do Virtual Books, site pioneiro de livros eletrônicos grátis (criado em 1998), em seis idiomas. Publicou Rudá, pela Editora e Livraria Virtualbooks.

 
 

Rodrigo de Souza Leão (Rio de Janeiro, 1965), jornalista. É autor do livro de poemas Há Flores na Pele, entre outros. Participou da antologia Na Virada do Século - Poesia de Invenção no Brasil (Landy, 2002). Co-editor da Zunái - Revista de Poesia & Debates. Edita os blogues Lowcura e Pesa-Nervos. Mais na Germina.