Leão Lírico, de
Elaine Pauvolid
Leão lírico é composto de versos livres. Contém 144 páginas, separadas em duas partes, um poema em cada página. Como característico da autora, são raros os poemas longos; alguns poemas possuem apenas um verso. Geralmente suscitam perguntas existenciais ou expressam verdades. Verdades essas que logo podem ser derrubadas por outro poema, talvez ainda menor que o anterior e não raro encarado, por alguns poetas contemporâneos à autora, como mais contundentes. O tema do livro faz referência à rudeza do leão aliada à suavidade da poesia, como metáfora da arte. Forte e violenta por sua origem, suave no que provoca e representa. O primeiro poema do livro dá nome a este e parece ter sido inspirado no apocalipse de João, como se anunciasse a chegada do juiz. No caso, o juiz se corporifica na "imagem poética" — utilizando-se um conceito de Gaston Bachelard — do leão lírico. A idéia é apresentar o poema — ou, num sentido mais abrangente, a arte — como maior juiz de todos nós. Severo ao apontar as diversas verdades que a humanidade fabrica e suave na forma como se apresenta e se mistura em nossas vidas, transformando em delicadeza a rudeza de certas constatações. Assim, todos os poemas trazem a marca do leão lírico, como sugere o poema introdutório:
A união entre os dois significantes — leão e lírico — é cara à autora e será estendida e explorada em todo o livro. É o tema recorrente da obra. Não o bicho leão nem o lirismo propriamente dito, mas a rudeza e a delicadeza em conjunção, na qual a imagem poética do leão lírico aparece como tradução. A poética da autora, desde o primeiro lançamento Brindei com mão serenata o sonho que tive durante minha noite-estrela... (Imprimatur-7Letras, 1998), caracteriza-se pela busca de um diálogo direto com o leitor. Tal diálogo também é experimentado no blogue Confidências de Jokasta, através de prosa, poesia e pintura (a autora estuda artes plásticas na Escola de Arte Visuais do Parque Lage desde 2003). Muitos poemas do livro Leão lírico nasceram da experimentação do blog. A poesia de Elaine Pauvolid tenta explorar ao máximo o diálogo com o leitor. Manda mensagens diretas, como cartas aguardando resposta. É o exemplo de:
Os poemas foram elaborados ao longo de cinco anos. Trata-se de uma produção totalmente independente; além dos poemas, a capa, o projeto gráfico e a editoração eletrônica são autoria de Elaine. Para tal, utilizou seu estudo de artes plásticas e sua formação no curso técnico de Designer Gráfico do SENAC — diga-se de passagem, a realização do curso foi motivada por este projeto. Leão lírico não é o primeiro livro da autora, nem tampouco o primeiro livro independente. Em 2002, lançou Trago, com prefácio de Gerardo Mello Mourão. Daquela vez, o processo foi artesanal; cada livro foi construído separadamente e todas as capas eram diferentes umas das outras. Elaine Pauvolid estreou como poeta em 1998, com o livro Brindei com mão serenata o sonho que tive durante minha noite-estrela... pela Imprimatur-7Letras. Em 2003, juntamente com mais quatro poetas, participou da coletânea Rios (Ibis Libris), a qual considera um livro solo de "autoria partilhada", pois cada poeta dispôs de vinte oito páginas. Em 2006, recebeu na Argentina o prêmio Biguá, como poeta revelação no II Encontro de poetas latino-americanos, sediado em Córdoba, Vila Maria, organizado pela SADE — Sociedade Argentina de Escritores, do qual participou na condição de convidada especial, única representante do Brasil. Além de poeta, Elaine
Pauvolid é bacharel em Psicologia, funcionária pública e
resenhista free-lance, tendo resenhas publicadas em jornais como O
Globo, Jornal do Brasil e Jornal do Commercio. LEÃO LÍRICO |